Cassio Carvalheiro

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

EM FOCO : QUADROS&HAICAIS – COLETÂNEA (31.12.2013)

EM FOCO : QUADROS&HAICAIS – COLETÂNEA    

Introdução

Em “Haicais e o Burlesco”:http://licburlesco.blogspot.com/2012/07/haicais-e-o-burlesco-introducao.html ) uma rápida exposição sobre a origem e características básicas do haicai evidenciou um público interessado nesse poema de origem japonesa. Isto serviu de  estímulo para publicar a coletânea “Quadros & Haicais”,  citada naquela postagem. Os haicais postados em “Haicais e o Burlesco” eram independentes de qualquer manifestação em relação  ao Haicai tradicional  e além disso,  o texto  sugeria plena aprovação ao estilo do haicai do Millor Fernandes. 
A apresentação (link:http://licburlesco.blogspot.com/2013/10/lancamento-de-quadrose-haicais-quadros.html), extraída da coletânea “Quadros e Haicais”, expõe contextos e reflexões do autor para a realização dos Quadros e também uma forma não convencional (ou tradicional) de composição de Haicais que acompanham os quadros.


Comentários

Embora grupos de haicaistas que se esforçam por manter   o haicai tradicional criticassem essa posição, os comentários recebidos assumem uma agradável cumplicidade em relação à Coletânea e assim entendemos ser oportuno trazer alguns desses depoimentos sobre a forma não tradicional dos haicais mostrados nesse trabalho.


Comentários recebidos de:

aaaa@xxxx.yyyy.br

>” ...Achei interessante também a referência à fôrma poética dos Haikais (haicais). Tive, inclusive, haikais meus selecionados num concurso promovido por uma editora do Rio de Janeiro, a Guemanisse, e foram publicados na antologia PALAVRAS DINÂMICAS, organizada por Clarisse Maria - Guedes.
Nas instruções para elaboração dos haikais, estavam explícitas as regras para construção do haikai: poemas de três versos, primeiro e terceiro versos como redondilhas menores; segundo verso com redondilha maior; o primeiro verso rimando com o último, e última sílaba do primeiro verso rimando com segunda sílaba do segundo;e segunda sílaba do segundo verso rimando com última sílaba do segundo verso.
Bom, claro, que segui as instruções, mas observei que outros haikais que li não obedecem a essas regras. Inclusive os do saudoso Millor Fernandes. Mas sabemos que, depois da chegada do Modernismo, a poesia deixou de ter regras,valendo apenas o aspecto sonoro, o sentimento produzido...Gostaria de ver sua opinião sobre o assunto. “
Abraço. Chamadoira



Comentários recebidos de: 
From:jcneves45@yahoo.com.br

...Quanto a possíveis críticas dos apreciadores do haicai tradicional, entendo que não deves preocupar-te muito com eles. O importante na literatura, na música ou em qualquer tipo de arte, não é manter ou mostrá-la em seu estado mais puro, mas sim que elas cheguem ao maior número possível de pessoas. Os demasiado puristas terminam por privatizar e encarcerar para si a multi-expressão da sensibilidade humana. A exteriorização da criatividade não precisa seguir um rígido e único caminho. A poesia não é engenharia, nem física, nem química, nem qualquer expressão matemática que necessite de absoluta precisão para ser correta. A literatura - e nela a poesia - assim como a música e as artes plásticas têm apenas que tocar a alma de quem as cria e as contempla, porque elas representam o BELO, e este não pode ser apenas uma prorrogativa dos puristas, dos eruditos, mas sim da humanidade. A rigidez e os segredos da criação de algum tipo arte, condenam  esta ao ostracismo, e não sobrevive ao seu autor. ..Obrigado ... e abraços - JC - 22/07/12

Extendendo os comentários sobre os haicais, vistos como gênero literário, um deles alerta a necessidade de cuidados quanto a escansão e contagem de sílabas na composição dos poemetos.

O amigo Luiz Roberto comenta, no blog :

Luiz Roberto (14.11.2013)

“Fui surpreendido pela qualidade simples das composições. Não tenho conhecimento suficiente para julgar a qualidade artística, mas causou-me muito boa impressão o conjunto de imagens e hai-cais. em “QUADROS E HAICAIS” - uma Coletânea

Nagado (em 04.12.2013) reflete sobre a dialética empregada pelo amigo Luiz Roberto:

Uma tese (qualidade simples das composições), uma antítese sofisticada (não tenho conhecimento para julgar a qualidade artística) e uma síntese genial (causou-me muito boa impressão o conjunto de imagens e hai-cais). Obrigado, Luiz Roberto. (47 anos de amizade, acreditem!) em “QUADROS E HAICAIS” - uma Coletânea


Conforme nos propomos : Eliminado o artificialismo, ostentações técnicas, julgamentos preconceituosos, e sentimentalismo vazio preconizados pelo Haicai, fica o conceito básico de que o Haicai   “É antes a arte de, com o mínimo, dizer o suficiente”. 
Os Quadros e Haicais dessa tríade fixam a transitoriedade das coisas (o ritual da cidade, as sombras das casas, a Igreja desaparecida, as águas do rio, a sensação do observador  , etc).e essa perspectiva pode ser estendida a toda a Coletânea.


Comentários finais do autor


A coletânea  “QUADROS & HAICAIS”  composta entre os anos 2001 e 2003, ficou sob suspeita de Imaturidade renitente no decorrer dos  “cinquenta anos”   (até  2005), adquirindo espaço na verve da terceira idade precoce, a partir dos “sessenta anos” do autor.
O “amador-ecimento” tardiamente revisto (2013)  nos Quadros & Haicais cometidos nos permitiu dizer:
-   A coletânea apresenta fidelidade temática e estética com  o objetivo pretendido.
- Contextualizações temporais e concisas envolvem a temática e a estética de cada Quadro.
-  O haicai não se apega ao texto   e procura a concisão no próprio quadro : é antes a arte de, com o mínimo, dizer o suficiente”. 
(josé nagado – 31.12.2013)
*********************************
NAGADO DESEJA

UM 2014 MARAVILHOSO  

E UM GRANDE ABRAÇO A TODOS




segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

mini CRÕNICA - H.LAJE DE PEDRA

MINI CRÔNICAS (também ANACRÕNICAS)

V. já teve a impressão de que a Velha Senhora bateu à sua porta? 


H. LAJE DE PEDRA
21/07/00

Dia agitado e gostoso.
Noite fria,
Quarto agradável,
Ventania repentina lá fora.
O sono chega
Com a madrugada silenciosa do hotel.
Logo, a Velha Senhora bate à porta no meu pesadelo.
Tomo-lhe a foice da mão.
Bato-lhe a porta na cara.
Pela janela, jogo a foice no jardim.
Ouço vozes apavoradas e passos rápidos no corredor.
Acordo assustado.
Pelo corredor, levam uma velhinha enfartada.
Pela janela, entram os alvores da manhã.
No jardim, uma foice esquecida...

OOPS! Postado por engano!! kkkkk

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

POST 14.2013 – ESQUETES : SIMPLÓRIO – do Grotesco ao Lúdico - 19.12.2013

POST 14.2013 – ESQUETES : SIMPLÓRIO – do Grotesco ao Lúdico


Introdução
  
   Em “Burlesco” (http://licburlesco.blogspot.com.br) definimos uma estrutura (caráter x fundamentos x tendências) que nos possibilita analisar estilos de comportamentos de nossos semelhantes (uns mais e outros menos), segundo quatro Categorias de estilos do Burlesco: Pobre de Espírito, Gozador, Espirituoso e Genial. O texto que segue refere-se ao estilo Simplório da categoria Pobre de Espírito.
Baseados nessa estrutura, iniciamos a postagem de uma série de ESQUETES  para  relatar passagens típicas dos (17) estilos burlescos com o POST 11.2013 - CRICA – Fair Play no Tênis(http://licburlesco.blogspot.com.br/search?q=fair+play+no+tenis). A série dos Esquetes não obedecerá a sequência apresentada no “BURLESCO”.

   O Estilo Cândido (http://licburlesco.blogspot.com/2013/11/post-132013-esquetes-candido)  inaugurou a série de esquetes da categoria Pobre de Espírito que agora  tem sequência  com o esquete do estilo Simplório. 

Pobre de Espírito   

   Um resumo da Categoria “Pobre de Espírito” foi apresentado em http://licburlesco.blogspot.com.br/search?q=pobre+de+esp%C3%ADrito-20.05.2012.
   Os estilos desta categoria (Simplório, Cândido, Inocente útil e Ignorantão) foram agrupados   devido a uma disposição permanente do caráter identificado comumente com a imagem   compassiva que nos transmitem.  ("E quando aprendemos melhor a divertir-nos, esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores". - Nietszche, em "Assim falou Zaratustra/dos Compassivos").
  

Simplório
   A respeito de Simplório, o “Aurélio” registra: “Diz-se do indivíduo ingênuo, tolo, papalvo, simples”. Papalvo  entre os caçadores é o nome da codorniz, ave que mal sabe voar, sendo por isso caçada  com facilidade.
    No Burlesco o estilo Simplório,  sob o  aspecto comportamental, é atribuido aos meandros do inconsciente do indivíduo,   relacionando-se o estilo a uma interpretação freudiana do chiste, destacando a utilização do Princípio do Prazer, predominante, em uma realidade (Princípio da Realidade) grotesca em relação aos demais fundamentos (lógico e ideológico). Portanto, traços de caráter associados a (“identidade” e “ideologia”) integram o perfil do estilo Simplório neste esquete.
 
Os termos Simplório e Papalvo poderão ser utilizados no  texto para se referir ao estilo comportamental (do Simplório) ou confundido com o próprio indivíduo (Simplório).

Traços de caráter associados aos  fundamentos lógico e ideológico  identificados  em (“identidade” e “ideologia”) complementam  o perfil do estilo Simplório, omitidos neste esquete.

 Erotismo     

    Associamos o chiste ao fundamento comportamental do Simplório, tendo a Psicanálise como referência. Tratamos desse tema no blog sob o título - 2.4.1 REVENDO COMPORTAMENTOS - Sigmundo Freud–(cont). No link http://licburlesco.blogspot.com/2012/02/241-revendo-comportamentos-sigmundo.html, registramos:

   Em “Os dez amigos de Freud”, (Rouanet, Sérgio Paulo –– São Paulo: Companhia das Letras, 2003), ref. (17), o autor comenta a obra de Mark Twain enquanto fonte de exemplos e justificativas para as teorias freudianas, destacando-se mecanismos de condensação e deslocamento, pelos quais o inconsciente se apresenta, como nos sonhos, atos falhos e sintomas.
   “Segundo Freud os chistes, têm como objetivo  a satisfação de desejos inconscientes e constituem uma forma de nos libertarmos de nossas inibições para expressar (tendências) instintos agressivos, sexuais, cinismo, etc., que, de outra forma, não seriam levados ao nível consciente”. 
   O chiste é a formação que mais se insere no social, necessitando do “outro” para referendá-lo a certa lógica do inconsciente, fator presente não apenas nos sonhos e sintomas, mas também na vida cotidiana, nos sonhos, atos falhos, nas práticas religiosas e na arte. Esse “outro” subsidia a existência do próprio relator.

   Considerando as premissas acima, efetuamos a análise da expressão do chiste constituído pelo estilo Simplório, envolvendo seu fundamento Comportamental (o erotismo), de base psíquica  e sua tendência agressiva.
    A formação de um chiste e sua constituição bem como o pensamento expresso por ele gera satisfação e nos faz rir e ainda com mais intensidade neste caso, em que o chiste cumpre um propósito ou uma "tendência" embutida em seu pensamento.

A realidade erótica do Simplório tem para si apenas o aspecto lúdico  do prazer de olhar, simular situações ou taras  de fato grotescas, de brincar  com coisas, palavras ou imagens eróticas. E para isso, o  Simplório é muito prolífico e confidencial ao relatar casos para seus amigos. Isto lhe satisfaz desejos e ansiedades mas enseja as mulheres a chamá-lo maldosamente de  “inofensivo”.
 Esse aspecto  tem o feitio exato para o gozo da galera (seus amigos gozadores) que não deixa o Papalvo em paz. Sempre que podem, eles ficam à espreita observando-o em suas investidas, para depois contar para os demais. Além disso, aguardam o relato do próprio Simplório para as maiores gargalhadas. Puro Sadismo. 
Vamos verificar que o humor atua como uma válvula de escape para alguma verdade do Simplório, que até então, ele não fora capaz de externar e que o Simplório  se livra dos recalques, sem pagar o preço neurótico da angústia ou do padecimento dos sintomas,   preocupação de psicanalistas. Mas o Simplório não consegue ficar desembaraçado do juízo crítico do seu interlocutor ou interlocutores.

O Estilo Simplório utiliza-se de  alusões ao erotismo e ao lúdico nos casos que relata, deslocando sua agressividade ou insatisfações (contra a mulher, autoridades, etc), condensando na fantasia do seu estilo confidencial,  a realidade de suas tendências.

Desempenho
Um chiste do estilo Simplório provoca um simulacro de risos quando relatado   e provoca gargalhadas quando captamos a amplitude de seu envolvimento.  

Estado
Constatar que o Simplório encontra o equilíbrio psíquico quando conta seus “causos” é verificar a validade do princípio da homeóstase. Realmente ele precisa relaxar sua tensão como todo mundo, só que o Simplório desconhece suas próprias tendências  e está equivocado quanto às alusões e circunstâncias psíquicas  envolvidas no “causo”.

Ei-lo!!

Confira o estilo Simplório

Sexo
O negócio anda tão violento ultimamente que ninguém mais acredita em amor puro, angelical.
Outro dia perguntaram a uma menina muito tímida:
- Por que é que as mocinhas baixam o olhos quando recebem declaração de amor dos rapazes?
E ela responde:
- Prá conferir se é verdade.

(ref. “Mil piadas de salão” – Alan Viggiano)

Sorte
Dizia um amigo:
- Rapaz, eu tenho uma sorte bárbara.
- Ganhaste na loteria?
- Nada disso, cara!. Ontem de noite eu vinha saindo de um desses hotéis de alta rotatividade ali na Boca do Lixo, justamente na hora que a minha mulher ia entrando. Puta sorte, meu!  ...Ela não me viu!!

(ref. “Mil piadas de salão” – Alan Viggiano)

(Equívoco)
Enviado pela C.R. Essas e Outras (obrigado Moacyr)
VOCÊ É O PAI DE UMA DAS MINHAS CRIANÇAS...

Um sujeito está na fila da caixa no supermercado.
De repente, observa que uma loiraça lhe acena e lança um sorriso daqueles de cair o queixo.
Ele deixa por momentos o carrinho das compras na fila, dirige-se à loiraça e lhe diz suavemente:
- Desculpe, será que nos conhecemos?
Ela responde, sempre com aquele sorriso:
- Não se lembra de mim? disse, sorrindo.Você é o pai de uma das minhas crianças...
O tipo põe-se imediatamente a vasculhar a memória e pensa na única vez em que foi infiel à esposa, perguntando de imediato à loiraça:
- Não me diga que você é aquela stripper do puteiro da Zuleika Drinks, que depois de um show de sexo total com quatro caras, eu acabei te comendo sobre uma mesa de bilhar, diante de todos os presentes, totalmente bêbado, enquanto uma das suas amigas me flagelava o tempo todo com uns nabos molhados e me enfiou um pepino no rabo?!
Resposta imediata da loiraça:
- Bem... acho que o senhor está equivocado... Sou a professora do seu filho...




(José Nagado – 19.12.2013) 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

POST 13.2013 – ESQUETES : CÂNDIDO – Afilhado de Político



POST 13.2013 – ESQUETES : CÂNDIDO – Afilhado de Político

Introdução
  
   Em “Burlesco” definimos uma estrutura (caráterxfundamentosxtendências) para analisar estilos de comportamentos de nossos semelhantes (uns mais e outros menos), identificados em quatro grandes Categorias de estilos do Burlesco: Pobre de Espírito, Gozador, Espirituoso e Genial. O texto que segue refere-se à categoria Pobre de Espírito. (Ref.“Burlesco”, no blog  http://licburlesco.blogspot.com.br)

Nota: com  http://licburlesco.blogspot.com.br/search?q=fair+play+no+tenis – (POST 11.2013 - CRICA – Fair Play no Tênis), iniciamos a postagem de ESQUETES (sugerem outra palavra?) com passagens típicas dos (17) estilos burlescos. Os Esquetes não obedecerão a sequência apresentada no “BURLESCO”.

   A série de Esquetes tem continuidade com uma passagem típica do estilo Cândido, da categoria Pobre de Espírito do Burlesco.   

Pobre de Espírito   

   Um resumo da Categoria “Pobre de Espírito” foi apresentado em http://licburlesco.blogspot.com.br/search?q=pobre+de+esp%C3%ADrito-20.05.2012.
   Os estilos desta categoria apresentados no Burlesco (Simplório, Cândido, Inocente útil e Ignorantão) foram eleitos devido a uma disposição permanente do caráter identificado comumente com a imagem   compassiva que nos transmitem.  ("E quando aprendemos melhor a divertir-nos, esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores". - Nietszche, em "Assim falou Zaratustra/dos Compassivos").

   “Com certa freqüência podemos chegar a nos sentir maldosos quando conseguimos obter o  riso de  um  indivíduo desta categoria, pois o seu riso chega  a soar como um grito de angústia, quase que uma súplica de luz para sua mente”.
“Sua lógica obtusa o protege....”
Nota: Extratos (entre aspas)  conectam este esquete ao texto do “Burlesco”

   Em relação à estrutura de análise (caráterxfundamentosxtendências) mencionada na introdução, esclarecemos que este esquete incide apenas sobre o fundamento (comportamento) lógico do Cândido, considerando-se integrados os demais fundamentos (ideológicos e comportamentais) e seus limites, que são explorados no texto do Burlesco.  

Cândido
                                                                                           
   Apresentaremos neste esquete uma faceta marcante do estilo Cândido (v. “BURLESCO”) e, para que não restem dúvidas, estilo e agente do estilo se fundem no nome: Cândido. (me perdoem aqueles punidos desde o berço com este nome).
    “Trata-se de Indivíduo cujo estilo faz rir tanto pelos seus defeitos como pelas suas qualidades .....” ...  “faz parte de seu estilo, a pouca capacidade de “se ligar” para captar o cômico, o divertido, o ridículo, a graça, enfim, o Burlesco. Sob este aspecto é popularmente conhecido como  Travado”.

 Afilhado de Político
  
   Chegou a nos comover bastante a maneira como o Cândido descreveu, em termos até elegantes, quando justificou sua conduta ao aceitar um “presente de casamento” enviado por um político safado que nem o conhecia pessoalmente e, o mais grave, todo  mundo sabia ser corrupto e réu acusado de desviar dinheiro de obras públicas, em ...(qualquer cidade brasileira)
   Nessa época o Cândido era jovem e dava um duro danado por um salário miserável no almoxarifado da empresa em que trabalhava. Muito zeloso, foi escolhido pela chefia do almoxarifado para cuidar dos uniformes esportivos e acabou se tornando o lider dos esportes na empresa.  Por tanta dedicação, foi agraciado pelo político acima citado, irmão do dono da empresa, tornando-se um “afilhado” de fulano, como ele costumava dizer a todo mundo. Esse comportamento, não seguia nenhum princípio que indicasse um futuro melhor para o Cândido, seja pelo lado prazeroso de regalias no trabalho, seja pelo lado do nível cultural e social em que vivia. e ao qual parecia condenado.
    Era dessa forma, formando eleitores afilhados  que o político angariava  votos.  Outras vezes distribuia jogos de camisa de futebol para os clubes da periferia. Esses políticos tornavam-se padrinhos de comunidades inteiras, a troco de badulaques presenteados em ocasiões especialmente informadas pelos seus cabos eleitorais, apadrinhados também, como não, pelo político safado.
   Certa feita, em uma grande festa (comício) na empresa, indicando com um largo e fraterno gesto  o tal político safado, o Cândido contou com orgulho que era “afilhado de casamento deste político” e acrescentou: “Ele rouba  mas faz.”.  Risada geral . Só o Cândido não entendeu.
Na maioria das vezes essa afirmação (“Ele rouba  mas faz.”)vem a hipostasiar-se em critério de realidade ou quando não, na própria realidade, aceita por essa gente compassiva que não vê limites para quem tem o poder. Complacência inconsciente ou irresponsável.
E isto é “razão suficiente” para a (eterna) duradoura admiração do Cândido pelo “padrinho”.

José Nagado (27.11.2013)


terça-feira, 26 de novembro de 2013

CRÔNICA - O BAR DO LUIZ

 

 

JOSÉ NAGADO

(CRÕNICAS ANACRÕNICAS)

A quem poderia interessar uma crônica que fala de um barzinho na Avenida do Cursino? Em lugar desta crônica, pensei em postar uma outra crônica sobre um colega do Colégio, que se tornou diretor de filmes pornôs.  Quem sabe ainda consiga contatar esse antigo colega e com a permissão dele, postaria a tal crônica: "Em Cartaz". 

Muita gente frequentou o Bar do Luiz e muita gente ainda conhece e talvez frequente o lugar. Cinco pessoas foram citadas na crônica, não nominalmente. Duas delas já são falecidas, o que torna a Crônica ainda mais anacrônica. 

Um dia  ainda voltarei ao Bar do Luiz com os amigos sessentões de agora. 

José Nagado (26.11.2013)


 

O BAR DO LUIS

http://licburlesco.blogspot.com/2013/11/cronica-o-bar-do-luiz.html

   Fica na Avenida do Cursino, tem uma porta de aço de enrolar, um balcão para servir aquele cafezinho horrível e a cachaça do alcoólatra apressado, seguido da geladeira que se estende até o fundo do bar, onde fica a caixa registradora, invariavelmente o posto do dono do bar, da esposa ou de um dos filhos. Ao longo do balcão e na calçada, algumas mesinhas e cadeiras de aço, com a propaganda de uma marca de cerveja.

   Falo do Bar do Luis. Desde 1962, como diz o luminoso sobre a porta do bar, também com a propaganda da mesma cerveja divulgada nas mesas e cadeiras, que um amigo que morava ali perto vivia dizendo que eu tinha que ir lá um dia, para provar o bolinho de bacalhau, junto com uma cervejinha super gelada, além de outros quitutes que eram de dar água na boca.

   Logo que mudei para um bairro próximo da Avenida do Cursino, voltando certa tarde do trabalho com esse amigo, resolvemos ir ao Bar do Luiz. O bar estava cheio de gente que voltava do trabalho como nós, alguns ainda engravatados e outros mais à vontade, parecendo que já tinham passado nas suas casas e saído só para dar aquela chegada no bar do Luiz, para a cervejinha de fim de tarde.

   Passando pela fileira de mesinhas dentro do bar, fui direto ao banheiro que avistei logo que cheguei, desesperado para tirar a água do joelho. Ã frente de um monte de caixas com garrafas de bebidas e outras coisas amontoadas, ficava a porta do banheiro, mal iluminado e sujo, como era de se esperar. Aliviado, sai do banheiro e passei pelo Luis (devia ser ele), que  embora ocupado, me cumprimentou com um boa noite e fez a propaganda dos salgadinhos sobre o balcão: “Estão fresquinhos. Saíram agora. Delícia”.

   Bolinhos de bacalhau, esfihas, quibes, salsichas boiando em um molho avermelhado, ovos cozidos, pizza cortada em pedaços, sardinhas fritas e aquela duvidosa pururuca de leitão estavam ali, dentro do conservador de alimentos quentes ou espalhados sobre o balcão.

  Meu amigo já tinha ocupado uma mesinha na calçada e estava acabando de fazer um pedido para o garção: “...dois copos, e pra começar, pode trazer meia dúzia daqueles bolinhos de bacalhau que o amigo ( eu, chegando) aqui vai degustar”.

   Realmente o bolinho de bacalhau era bom, mas nada de especial. A cerveja era tomada naqueles copos tipo americano, de vidro, que a iluminação fraca das mesas não permitia ver se estavam bem lavados. Nada disso tinha importância para o pessoal que estava no bar, numa conversa  animada e com certeza ficariam por ali até bem tarde. Bem tarde, para os freqüentadores desses antigos bares de fim de expediente, significava dez ou onze horas da noite, quando muito. O que todos queriam, na verdade, era curtir o fim do dia por uma ou duas horas batendo um papo e tomando aquela cervejinha gelada e comendo os bolinhos do bar do Luiz. A excelência desses bolinhos era a justificativa (exagerada) dos seus frequentadores, para dar a parada de toda tarde nesse ponto.

   Uns dez anos atrás, com três amigos fui fazer doação de sangue em nome de um parente de um deles. Era sábado, pela manhã, e no retorno do Banco de Sangue, após alguém elogiar os fabulosos bolinhos do Bar do Luis, resolvemos parar ali para tomar aperitivo e comer os tais bolinhos. Tudo continuava como dantes, só que mais envelhecido. Não sei se o Luiz continuava lá. Os freqüentadores pareciam aqueles mesmos trabalhadores que por lá passavam nos fins de tarde, dez anos antes.

   Minha lembrança desse dia não foi muito agradável. A doação de sangue fez a minha pressão arterial abaixar e uma batida de abacaxi acabou de fazer o resto. Tive uma queda violenta da minha pressão que um dos amigos logo resolveu com uma providencial pressão na minha nuca, enquanto eu fazia um esforço para levantar o corpo para a posição vertical. Terminei meu aperitivo tomando um refrigerante, sem bolinho, e sendo gozado pelos três amigos.

   Recentemente, passando pelo local a pé pela manhã, num dia no meio da semana, tive a curiosidade de ver como estaria o Bar do Luiz. Estava fechado. Nunca imaginara que esse bar não abria desde cedo. Talvez, pensei, sempre fora assim, um bar dedicado a honestos trabalhadores, assíduos freqüentadores de fins de tarde. Não era, pelo que passei a perceber, daqueles botecos onde a corja de vagabundos e alcoólatras começa a se reunir desde cedo, para passar o tempo jogando loto ou cartas, ou dirigindo gracejos às mulheres que passam pela calçada.

   Uma lei municipal, decretada há pouco tempo, restringiu a abertura de bares até a uma hora da madrugada, visando garantir a tranqüilidade da vizinhança. Boa lei, que se for respeitada, também contribuirá para a redução de crimes e violências praticadas por gente desqualificada que adentra muitos bares desse tipo nas violentas madrugadas de São Paulo.     

   Não é o caso do bar do Luiz, que fecha cedo e é amado por gente trabalhadora, como um amigo que tinha lá a sua cadeira cativa até pouco tempo antes de morrer. Para ele, o Bar do Bolinho, ou melhor, o bolinho do Bar do Luiz é o melhor que há. 
Acho que é verdade.


José Nagado – 19/08/01



 

 






segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“QUADROS E HAICAIS” - uma Coletânea

 “QUADROS E HAICAIS” - Apresentação 
http://licburlesco.blogspot.com/2013/10/lancamento-de-quadrose-haicais-quadros.html

No ano (2000) fotos e quadros produzidos por mim passaram a servir de temas para os primeiros exercícios de composição de Haicais. Sem métrica ou rima, essas composições tinham apenas os três versos do Haicai. A contextualização do tema procurava, sim,  o compartilhamento de sentimentos, a transformação do objeto literário (poemeto) em objeto estético, o haicai.

Entre os anos 2.000 a 2004 “compus muitos haicais, entre imagéticos, ideológicos e libertinos”, sem imaginar que  aquelas sensações permaneceriam incólumes no decorrer desses anos todos. Organizei, então,  uma coletânea de Quadros & Haicais que pendurei na parede do tempo, onde essa coletânea  revelou seu potencial de experiência  enriquecedora, espiritual, intelectual e criativa, e apesar de coletados em eventos datados, duradouros.   

Uma Introdução  e uma  descrição  sucinta  dos  Quadros e dos Haicais , preparam o espírito do leitor para  uma seção de  Vinte quadros e haicais , seguidos de contextualizações  colimados com  o  objetivo da coletânea , afirmado pelo Autor em seus comentários finais junto com os seus agradecimentos.
"Quadros e Haicais"  concluído em 2003, revisado em sua estrutura em 2013,  será editado     a cores caso não resulte muito cara a impressão. (dezembro, 2013).

 A seguir mostramos, uma triíade de  quadros e haicais da coletânea


(Q & H/01)
A Ponte



A Vila cresceu,
Cruzando o rio,
Virou cidade.
(j.nagado)




(Q & H/02)
A Igreja


A Igreja dos homens
Aponta para o céu
A cruz da sua fé.



(j.nagado)




(Q & H/03)
A Ladeira


Tarde modorrenta,
Na romântica ladeira,
A sombra aumenta.
(j.nagado)



Estudo

São Luiz do Paraitinga (SP), dia de Corpus Christi (22/06/2000)

A Igreja ainda vazia, esperava o povo agitado bem perto dali, nas ruas próximas com o chão enfeitado.
A Ponte sobre águas ligeiras, cartão postal da cidade, permanecia em sua pose solene, desejando   boas vindas ou de feliz regresso aos visitantes.

O sol oblíquo da tarde projetava nas pedras irregulares da  ladeira deserta as sombras das antigas casas.
(Em clima de expectativa a cidade toda foi para a rua principal, ver passar a Procissão de Corpus Christi, deixando momentaneamente desertas a ponte, a ladeira e a Igreja.)

(j.nagado)
(j-nagado - Quadros e Haicais - 28.02.2002) 









========================================================================

Comentários finais do Autor

A postagem de “Haicais e o Burlesco”, no blog Confrarias do Riso – http://licburlesco.blogspot.com, em 19.07.2012, evidenciou um público interessado no haicai,  o que serviu de  estímulo para publicar a coletânea “Quadros & Haicais”,  citada naquela postagem.    
A coletânea  “QUADROS & HAICAIS”  composta entre os anos 2001 e 2003, ficou sob suspeita de Imaturidade renitente no decorrer dos  “cinquenta anos”   (até  2005), adquirindo espaço na verve da terceira idade precoce, a partir dos “sessenta anos” do autor.
O “amador-ecimento” tardiamente revisto (2013)  nos Quadros & Haicais cometidos nos permitiu dizer:
-   A coletânea apresenta fidelidade temática e estética com  o objetivo pretendido.
- Contextualizações temporais e concisas envolvem a temática e a estética de cada Quadro.
-  O haicai não se apega ao texto   e procura a concisão no próprio quadro : é antes a arte de, com o mínimo, dizer o suficiente”. 

José Nagado

Agradecimentos

Agradecimento especial à Sra. Celeste Mascarenhas, Diretora do Conservatório Musical Jardim América pelo apoio dado a partir da seleção dos quadros e comentários feitos logo ao início da organização da coletânea, em 2001. 
Aos amigos ,..................................................................................................................................nosso grato reconhecimento pelo estímulo recebido. .



JOSÉ NAGADO – 28.10.2013