3. BURLESCO - modelo Estrutural
Bergson
Neste capítulo apresentaremos um modelo funcional do processo de “fabricação do riso”, que toma os
elementos apresentados nos capítulos
precedentes como insumos e utiliza o crivo
sério de importantes nomes como o do psicólogo
Henry Bérgson (1859 -1941) sobre os pensamentos a respeito do riso,
Em “O Riso” - (Ref.
16) Bergson faz um estudo de
análise e interpretação dos aspectos filosóficos, psicológicos e sociais do
cômico, procurando determinar os processos
de “fabricação do riso” na Comicidade das Formas e dos Movimentos, na Força de expansão do Cômico (ou da
fantasia cômica), Comicidade de Situações, Comicidade de Palavras e finalmente,
na Comicidade de Caráter.
Nesse contexto, Bérgson trata também de apurar qual é
a intenção da sociedade quando ri, procurando justificar três observações
fundamentais (“ïnsights”) .
- “Não há comicidade fora do que é propriamente
humano.“
- “O maior inimigo do riso é a emoção. Para o espectador neutro, muitos
dramas se converterão em comédia. O cômico exige algo, como certa anestesia
momentânea do coração para produzir todo o seu efeito. Ele se destina à
inteligência pura.”
- “O riso parece precisar de eco para repercutir aqui
e ali, como ocorre numa condução, na mesa de um bar, ao ouvir pessoas contando
um caso. Tem uma função social: deve corresponder a certas exigências da vida
em comum. Seu ambiente natural é a
sociedade.”
Embora Bérgson tenha procurado evitar o engessamento
de seu estudo a definições de humor ou comicidade (“seria quimérico pretender extrair
todos os efeitos cômicos de uma só fórmula singela”), a definição que
apresentamos abaixo, muito aceita pelos autores do início do século XX, foi apropriadamente utilizada no
desenvolvimento do seu estudo, para justificar processos de “fabricação do
riso” e apurar a intenção da sociedade quando ri.:
“Para
que uma coisa seja cômica, é preciso que entre o efeito e a causa haja uma
desarmonia”.
Bérgson mostra para o leitor a “causa especial dessa
desarmonia que provoca nos circunstantes uma manifestação específica – o riso –
enquanto que tantas outras qualidades ou defeitos deixam impassíveis os
músculos do rosto do espectador”, demonstrando com humor que “para tal
desarmonia concorre algo de ligeiramente atentatório (e especialmente
atentatório) à vida social, porquanto a sociedade lhe reage com um gesto que
tem todo o ar de uma reação defensiva, um gesto que causa uma vaga sensação de
medo”
Plataforma do burlesco
O atento leitor irá ver essa idéia de
“desarmonia” através de “fundamentos do burlesco”, identificadas em uma
plataforma constituída de “protocolos lógicos, ideológicos e comportamentais”, onde
apoiamos as configurações possíveis do cômico, humor, chiste , ou qualquer
coisa (atitude, situação, ação, palavra, gesto, etc.) que possa fazer o homem
rir ou revelar seu caráter, como disse
G. C. Lichtenberg : “Uma pessoa revela o
próprio caráter por sua reação a uma piada”
Não se pretende descrever caracteres em
nosso texto, isto é, tipos gerais, mas utilizar o conceito, conforme Bérgson, embutido
nas idéias de rigidez, automatismo, distração, insociabilidade, etc, do
indivíduo: “Em certo sentido, poder-se-ia dizer que todo caráter é cômico, desde que se entenda por caráter como“ o quê há de já feito em nossa pessoa ”,
e que está em nós em estado de mecanismo montado, capaz de funcionar
automaticamente”. Filloux, J.C em “A Personalidade” (ref. 1) – 1966, define: “O caráter é apenas um aspecto da
personalidade, seu aspecto expressivo”
Considerando Caráter como um
espaço genérico que contém as definições desses protocolos, ao invés de
descrever caracteres, utilizamos esses protocolos para desenvolver “estilos”
(do burlesco), e aqui admitimos a possibilidade de atribuir a nossa justa
“homenagem” a qualquer pessoa que possa servir de modelo ao propósito de
geração do Burlesco.
Confirmando o insight de Bérgson, diga-se
a bem da verdade, que o campo de nossas
pesquisas foram conversas em bar, no estádio de futebol, no salão de barbeiro,
roda de amigos na calçada, na pescaria, e outros lugares nem sempre tão
prosaicos, onde as pessoas fazem graça
(ou são engraçadas) utilizando-se de jargões
próprios ao ambiente, em geral expondo de forma tendenciosa ou atentatória (e especialmente atentatória), fatos
e vícios penosos à vida social.
O fato mais curioso constatado foi que as pessoas assumem determinadas atitudes, como se estivessem a
agir por semelhança ao estilo de um ícone apropriado a determinado ambiente.
Observação: o livro “O cérebro do século
XXI – de Seteven Rose, expõe sobre uma classe de
neurônios (“neurônios espelho”) que excitados em particular quando um indivíduo imita as ações
dos outros, e os que são afinados com o registro das emoções e intenções dos outros, ou ao inferir atenção a
partir da ação.. Evidentemente nosso
texto não irá
explorar tal perspectiva, embora sua
leitura tenha indicado aspectos científicos relacionados com o Burlesco.
O Burlesco utiliza as variáveis
(caráter, fundamentos, tendências), em uma expressão matemática idealizada para
expressar o estilo pessoal caracterizado por certa lógica, ideologias e comportamentos,
destarte existente no arcabouço inconsciente do indivíduo. Esse estilo alcança
a eficácia gradualmente, pela adoção e conservação de procedimentos coerentes
com aqueles protocolos, que esta estrutura pretende mostrar.
A Estrutura para geração de “estilos burlescos” aqui proposta
é autêntica, não possuindo semelhança
com qualquer outro modelo ou forma de “fabricação
do riso” A formulação matemática associada
a este gerador de estilos do Burlesco, com certeza irá estimular outros autores
que se mostrarem dispostos a enfrentar o uso de conceitos matemáticos, como por
exemplo, a definição de “campos burlescos”, para prospectar evidências do
aparecimento de identidades intrinsecamente cômicas, ainda não exploradas no mundo atual. (j_nagado –
28.06.2012)
Revisão: (01.08.2008 - 28.06.2012)