G.A8.04
MEU BLOG NO DIVÃ 04 – O INTELECTUAL DE BOTEQUIM (I.B)
Introdução
O I.B.V.M (Instituto de Burlescologia de Vila
das Mercês) tem feito o registro de fatos onde o conceito de “burlesco” se
destaca como um dos pilares inalienáveis na Cultura do riso, reconhecido pela
intelectualidade, pelos valores próprios e pelos estilos de comportamento
peculiares que representa.
O “Intelectual de Botequim”, descrito no
“Burlesco”, é o ser neurótico da categoria Gozador, companheiro no boteco e
legítimo ocupante de uma cadeira no panteão dos “Estilos de Comportamentos
Burlescos”, no IBVM.
O conceito de “burlesco”, aplicado em relação ao
“estado de coisas” da Justiça no Brasil, diagnosticou a “esquizofrenia do
Judiciário”, pelo triste episódio relatado em “Meu blog no Divã – 03 - Justiça
Burlesca”.
Este “Meu Blog no Diva - 04” contextualiza o
comportamento do “Intelectual de Botequim” flagrado em pleno gozo de suas
prerrogativas vivenciais nesse ambiente (botequim), onde, ao nosso ver, a
expressão do seu inefável “estoicismo” é a referência burlesca para toda a
narrativa.
Abaixo, link relativo ao texto anterior sobre MEU BLOG NO DIVÃ
MEU BLOG NO DIVÃ – 03 –
JUSTIÇA BURLESCA
Burlesco: Abordagem
filosófica
Nota: O “Intelectual de Botequim” (I.B) é um texto extraído
da última versão do “‘Burlesco”
Intelectual de Botequim (I.B)
(Burlesco
- Cap. 02.02 – 4.7.9 )
Intelectual
de botequim (I.B) é aquele Indivíduo dotado de espírito e inteligência, que
desperdiça talento nos bares da vida. É o resultado de prolongados anos de
análise com seu terapeuta freudiano que o levou a admitir que possui todos os
sintomas neuróticos e alguns psicóticos, e por isso adotou uma dezena de
companheiros de mesa de bar que o aturam e não ficam tentando curá-lo, porque
também têm suas neuroses.
Botequim
é uma instituição no Brasil. Cada frequentador jura que seu boteco tem o melhor
chope, o melhor bolinho, o melhor espetinho, etc. É bem diferente do “pub”
inglês que é o local de encontro de tribos diversas e também para um eventual
“drink” solitário após o trabalho, enquanto o botequim é um ponto obrigatório do
brasileiro, que muitas vezes passa primeiro em sua casa para depois se dirigir
ao botequim. Alguns se habituam a encontros semanais com seus amigos em algum
boteco na cidade, no clube ou na academia, formando verdadeira confraria que se
reúne continuadamente por anos a fio. Muitos grupos têm suas mesas e cadeiras
reservadas no boteco preferido cujos componentes aprovam seu chope e quitutes
enquanto curtem suas neuroses e decantam sua filosofia de vida. (IBVM – Instituto de Burlescologia de Vila
das Mercês é o pomposo nome de um desses grupos que um dia frequentamos).
o I.B
A ficha
do Intelectual de Botequim (I.B), dentre os aspectos relacionados aos Fundamentos,
distingue com louvor (ou horror) o Princípio (Lógica) do
Terceiro Excluído, Fundamento Filosófico (estoicismo) e Fundamentos Comportamentais
(eróticos), com os quais procura aferir a abrangência e controle de seus relacionamentos
e situações.
Estoicismo
É doutrina
fundada por Zenão de Cicio (335-264ª.C) e desenvolvida por várias gerações de
filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a
extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas
fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira
felicidade.
Influenciado
pela filosofia popular (estoicismo eclético) o comportamento do Intelectual de
Botequim, explora seus traços de neuroses e psicoses que carrega, e também
daqueles que se sentam com ele na mesa do boteco.
Sua
gozadora lentidão abusa do ser filosófico que é, mostrando, logo na rodada
inicial de cerveja quando, com o copo esvaziado, emite a sua primeira opinião:
“Essa cerveja é da boa!”. E a seguir, verbaliza sua teoria sobre a boa cerveja,
com base (no Princípio da Verificação) naquilo que o seu paladar acaba de
confirmar.
De
acordo com o “Aurélio”: Positivismo, doutrina de Auguste Compte (1798–1857),
caracterizada, sobretudo, por uma orientação anti-metafísica e anti-teológica
que pretendia imprimir à filosofia, e por preconizar como validade unicamente a
admissão de conhecimentos baseados em fatos e dados da experiência. Assim é o
I.B.
Simbolismo
As doutrinas
inspiradas em Auguste Compte, que fundamentam o conhecimento baseado em dados
empíricos, geralmente acabam por privilegiar seu teor subjetivo (sensacionismo,
intuicionismo, simbolismo, etc.), muitas vezes levando ao agnosticismo, ao
relativismo ou ao misticismo, embora doutrinas criadas por essa época e também
derivadas do empirismo de Compte, tiveram como viés o pensamento
lógico–matemático (intuicionismo) e estético.
É
interessante ressaltar (“Aurélio”) dentre essas doutrinas, o “sensacionismo”
como o hábito de produzir sensações ou em Filosofia, doutrina do Macho (v. machismo),
segundo a qual todo conhecimento provém, e só provém, das sensações;
sensualismo.
Nesse
sentido, Machismo, doutrina cultivada por muita gente em conversa de botequim,
é atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de direitos para o
homem e a mulher, sendo contrário, pois, ao feminismo,
Como se
observa em certa propaganda de cerveja, o machismo do I.B está presente na
imagem da sensação produzida pela cerveja servida pela gostosa garota
propaganda, que parece oferecer muito mais.
Vejamos
os Fundamentos do I.B que acusam seu Estilo de Comportamento Burlesco.
(F4) –
Princípio do Terceiro excluído (referencial / sabedoria popular)
Segundo
este princípio, “Entre a afirmação e a negação não há meio termo, ou melhor,
entre dois juízos contraditórios, necessariamente um é verdadeiro e não se
admite um terceiro juízo”, ou como afirma a sabedoria popular: “as coisas ou
são ou não são”.
O I.B
tem o hábito de enveredar o teor da sua conversa para o subjetivismo onde ele
irá prevalecer com a sua competente linguagem platônica, ética, isenta de
interesses.
Embora a
história não cite qualquer participação de Platão em conversas de botequim,
parece que esse ambiente não lhe era totalmente desconhecido, quando ele dizia
lá para seus discípulos que a linguagem é um “pharmakon”, palavra grega que em
português, traduz-se por “poção” e pode ser apresentada através de três
proposições principais:
a)
Remédio para o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos
descobrir nossa ignorância e aprender com os outros.
b)
Veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, fascinados, o que
ouvimos ou lemos, sem que indaguemos se
tais palavras são verdadeiras ou falsas.
c)
Cosmético, maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as
palavras.
Esta
competência confere ao I.B a capacidade de posicionar favoravelmente o
julgamento crítico do interlocutor, reduzindo qualquer divergência de opinião a
uma dessas proposições, deixando o interlocutor sem alternativa, a não ser
mostrar sua concordância.
O fato é
que membros honorários e renitentes de conversas de botequim, sem qualquer
espécie de preconceito, ficam satisfeitos com essa intervenção. É uma questão
de referencial, concordam eles:
“O
objeto da divergência ou é uma poção platônica (remédio, veneno ou cosmético)
ou não merece discussão”.
É ou não
é? Ou, como disse um professor de português que certo dia apareceu no grupo,
encheu a cara e citou uma frase do filósofo austríaco Wittgenstein, Ludwig
Josef Johann (1889 – 1951) , criador da Filosofia Analítica :
“Deve-se abrir os olhos para ver e desvendar
como a linguagem funciona”.
E o I.B complementa: “deve-se usar da sabedoria popular”
(F7) -
Fundamento filosófico - Estoicismo / ataraxia
O
intelectual de botequim tem opinião sobre tudo que envolva aspectos daquilo que
ele chama vulgarmente de Filosofia popular. E isto (dar opinião) nessa área,
ele o faz com a maior e estoica “cara de pau”, arrostando consigo toda consideração
irônica da moralidade vigente na sociedade atual.
As
referências desta filosofia de vida (estoicismo
/ ataraxia) associam o “modo como as coisas funcionam” na natureza e a
competência de agir de acordo com essas leis da natureza. Assim, os estoicos
consideravam fútil a resistência às devastações que a vida impõe às pessoas (doença,
envelhecimento, pobreza, dor e morte) e consideravam inteligente não negar
essas realidades, mas encontrar um meio de conviver com elas. (v. estoicismo,
fundado por Zenão, em 313 a.C.).
Aí está
o foco do I.B: considerando que grande parte daquilo que acontece está fora do
seu controle, ele muda aquilo que está ao seu alcance – a sua atitude, e
encontra a felicidade.
A
ataraxia é a representação figurativa desse alcance do ideal supremo da
felicidade: a imperturbabilidade. Ou impassibilidade em face da dor ou do
infortúnio.
Diz a
lenda do botequim, que o I.B é sempre um homem imperturbável. A história a
seguir, procura não desmentir essa
lenda.
O
Chifrudo
E eis
que um dia o vemos à nossa frente, o I.B, discursando sobre o direito da mulher
de trair o homem, por todos os motivos que o homem possa dar. E além de tudo,
ele (o I.B) se insere como o protagonista da história e diz que ele é um
chifrudo de marca maior.
Assim,
ao chamar a atenção pela forma tão despojada de dizer que não tem pena de si
mesmo por ser traído pela mulher, o chamado “corno”, o I.B se sente desobrigado
de experimentar sentimentos penosos, perante aqueles que realmente usam esse
adorno.
Ao seu
lado, ouvindo o discurso, estava o sensível Fred (nome fictício), companheiro apaixonado
pela esposa, que em seguida foi vomitar na privada.
(F.9) -
Fundamento erótico (medo do castigo / suas verdades)
Na Conferência
Burlesca da Periferia, promovida pelo
I.B.V.M, em junho de 2005, um
sócio da nossa mesa de bar, psicólogo terapeuta, apresentou, para distintos “sócios” de diversos botequins da
periferia, sua antológica palestra sobre como “ampliar a capacidade de reduzir
sua ansiedade, aliviar tensões e diminuir o estresse, eliminando ou reduzindo
seus sentimentos de culpa por negligenciar seus desejos e ter desistido de agir
conforme seu impulso ou desejo, com medo do castigo ou do arrependimento” (isto
é freudiano, certamente!). Foi nesse dia que descobrimos algo que o nosso I.B
sempre conseguiu disfarçar, seu (fundamento) erótico reprimido.
Homem
que é homem, o I.B, o machão em versão moderna, liberado de valores
ultrapassados, esmiuçou suas neuroses e psicoses para seu terapeuta durante
quinze anos, e foi aplaudi-lo nessa “circunferência”, como disse um dos
participantes que afirmou ter gostado “quando o terapeuta falou da frustração
que você sente na primeira vez que não consegue dar a segunda e do desespero
que você sente na segunda vez que você não consegue dar a primeira”.
Pelo
jeito, esse sujeito só entendeu uma parte da palestra, ligada ao problema da
sua disfunção erétil, a popular “brochada”.
A
postura descolada que o intelectual de botequim transmite, tem tudo a ver com o
seu poder de comunicação, promovendo o ambiente motivador de pilhérias dentro
do grupo e ao mesmo tempo satisfazendo de forma conveniente aos desejos da
(santa) mulher que cada um tem em casa, ela que até incentiva o marido a frequentar
o boteco, onde o santo marido elimina toda a ansiedade mas em casa, ou melhor,
na cama, faz tudo direitinho. É a filosofia popular da mulher do intelectual de
botequim.
É essa
tese que o descolado I.B difunde para seus pares de botequim, todos neuróticos,
gozando de prazer ímpar, pois como diz ele, ao neurótico cabe acreditar em seus
próprios sintomas e descobrir por si mesmo, suas próprias verdades, alinhando
seu comportamento na busca constante do prazer às evidências dessas verdades.
Nesse
dia, o I.B confessou na mesa do boteco, que já tinha tirado o “time de campo”,
mas o melhor de tudo, diz ele, é “Ficar
desembaraçado do julgamento crítico do interlocutor”. Esse interlocutor, a
“santa”, jamais o critica quando volta “meio chumbado” para casa após algumas
cervejas com os amigos.
Desempenho
O I.B de
botequim conduz suas conversas para um final pronta e logicamente aceito por
seus interlocutores, que não percebem de imediato que foram embromados. Esta
consciência de terem sido logrados só vem depois, quando percebem que um ou
outro deu uma escorregada e abriu a guarda, seja revelando certa desconfiança em relação à própria mulher,
ou que está tendo problema de disfunção erétil, ejaculação precoce, ou qualquer
coisa do gênero. O estoico intelectual de botequim, como se viu, não promove a
discórdia e concede a todos a igualdade de oportunidade de se revelarem, pobres
de espírito, de moral ou simplesmente materialmente pobres.
Frases da
filosofia positivista (acho), para
iniciar uma discussão sobre as leis da natureza, no boteco,
desinteressadamente, segundo o I.B.
.
“Transar é arte, gozar faz parte, engravidar é moda,
assumir é que é foda!"
“A
diferença entre uma mulher na TPM e um sequestrador, é que com o sequestrador
ainda existe uma possibilidade de
negociação".
“Os
problemas da vida se parecem com um tarado bem dotado: é melhor enfrentar,
porque se você virar as costas, vai ser
bem pior!"
"Ninguém
vencerá a guerra dos sexos: há muita confraternização entre os inimigos".
"Mulher é igual a macarrão: você enrola, enrola,
enrola... e come!"
"Casar é trocar a admiração de várias mulheres,
pela crítica de uma só!"
“O chifre é como o consórcio... quando você menos
espera é contemplado."
"A
diferença entre o homem e a mulher é que o pau que está entre as pernas do
homem é sempre o mesmo".
‘‘Sogra
é como onça: todos temos que preservar, mas ninguém quer ter em casa”.
“Mulheres são como traduções: as boas não são fiéis e
as fiéis não são boas"
"A
diferença entre a mulher decidida e o homem mulherengo é que a mulher decidida
está sempre pronta para o que der e vier, e o homem mulherengo está sempre
pronto para quem vier e der."
"O
que há de comum entre um bolo queimado, cerveja estourada no congelador e
mulher grávida? - Nada, mas se você tivesse tirado antes nada disso teria
acontecido".
Estado
Nada se
pode afirmar quanto às verdades do intelectual de botequim quando ele diz que “as
coisas ou são ou não são”, em relação a um tema controverso, mas quando ele
concorda com a frase - “Deve-se abrir os olhos para ver e desvendar como a
linguagem funciona”, ele aprova a linguagem referencial de cada um e a
sabedoria popular como sua orientação no sentido da verdade e do ideal supremo
da felicidade: a ataraxia, a impassibilidade, como seu estado permanente.
Ataraxia
Para cépticos, epicuristas e estoicos, completa
ausência de perturbações ou inquietações da mente,
concretizando o ideal tão caro à filosofia helênica,
da tranquila e serena felicidade obtida através
do domínio ou da extinção de paixões, desejos e
inclinações sensórias.
Conclusão:
O I.B é um estoico.
1) Competência burlesca do I.B: Estoicismo.
2) Estado de coisas da
realidade do I.B: conexões com seus fundamentos
3) Ataraxia: ausência de
perturbações - exprime a realidade do I.B
(j.nagado – 23.08.2018)