Cassio Carvalheiro

quarta-feira, 28 de março de 2012

BURLESCO - Crônica: "Nó Cego"

“Nó Cego”

Abrimos aqui um espaço para ilustrar o pressuposto do comportamento fatalista que caracteriza o “Nó cego”  citado em Lastro conceitual  neste blog.
Tal pressuposto nos diz que esse comportamento ocorre “fatalmente, independente do esforço eventual do indivíduo, em sentido contrário.” (Ho!Ho!Ho!). Além disso, “considera-se que  todos os comportamentos são inevitáveis, inclusive os de vontade”.(há! Haa!).
“Nó cego” é uma crônica de maio de 2001 e que foi inserida no Burlesco, em Personagens.


Nó Cego
Dia de eleição. Tudo pronto para a eleição. O juiz eleitoral já apareceu na TV  e deu o seu recado na véspera,  informando tudo o que todo mundo já sabia através dos meios de comunicação. O povo já sabia o horário de abertura e fechamento das urnas, a atuação dos fiscais e mesários, qual documento teria de levar, como votar e principalmente, a hora do término de votação. Aliás, falar em urnas é coisa do passado, ou coisa de americano, que nas últimas eleições presidenciais (2000) , teve um sério problema com a contagem de votos das urnas de um certo Estado lá deles, que provocou a demora de várias semanas para definir o resultado final da eleição. Aqui no Brasil já temos o voto eletrônico. A votação é armazenada em disquetes e na memória de computadores nos locais de votação e transferida via rede (net) de comunicação. Tudo muito rápido, desde o processo do eleitor na seção eleitoral até a contagem e anúncio dos resultados,como manda a nova tecnologia. Votar não demora mais que meia hora, em qualquer seção eleitoral.
Faltando cinco minutos para encerrar a votação, chega na seção eleitoral o  cidadão folgado que foi aproveitar o dia na praia, segundo o próprio. Nem precisava dizer. Estava de bermudas, camiseta suada, queimado de sol. Era o mesmo eleitor que chegou atrasado na eleição anterior, lembrou o presidente da mesa. Lembrava-se bem do sujeito, que como desta vez, chegou esbaforido e perguntando se ainda podia votar. Disse que tinha ido visitar a sogra num bairro distante, naquela oportunidade.
Não conseguiu votar, pois tinha esquecido de trazer qualquer documento que pudesse identificá-lo. Saiu lamentando-se do trabalho que teve para chegar até o local da votação e ser impedido de votar.
À noite, vi esse sujeito ser abordado por um repórter na TV. Tinha acabado de sair da seção eleitoral e disse que não conseguira votar por que o presidente da mesa não concordou que ele fosse à sua casa buscar o título de eleitor.

Não fossem as circunstâncias e o modo como estava vestido, quase poderia dizer que vi na TV, aquela triste figura que não pode votar na eleição, após as oito horas da noite, no último dia para entrega da declaração do imposto de renda deste ano. O sujeito estava com o disquete da sua declaração do imposto de renda na mão e uma reclamação prontinha na cabeça, quando foi entrevistado por um repórter, do lado de fora de um Banco.
“Tenho imposto ainda a pagar e o Leão (Receita Federal) diz que não posso entregar a minha declaração, que tive que ficar a tarde inteira fazendo na Firma . Além de ter que fazer meu imposto às pressas o Banco só recebe até as oito horas. Assim, não dá.”
Pobre contribuinte. Não conseguiu entregar sua declaração do imposto de renda e ainda terá que pagar multa por atraso. Vai ficar mais pobre ainda.
Pode parecer brincadeira, mas acho que vi novamente aquele sujeito que não conseguiu votar na eleição. Se não era ele, era aquele que não conseguiu entregar sua declaração do imposto de renda. O jeito era o mesmo. Tinha cara de injustiçado. Foi logo depois que uma emissora de TV apresentou uma reportagem sobre escritórios especializados em tirar dinheiro de motoristas aterrorizados com suas multas de trânsito. Esses escritórios anunciam, em jornais ou através de cartazes, que conseguem limpar multas de trânsito e deixam o telefone para que o pobre do infrator de trânsito solicite seus serviços.
O sujeito estava conversando com um amigo na mesa ao lado, na praça de alimentação do Shopping. Falava alto, como se estivesse dando uma declaração para que todo mundo ouvisse. Parecia esperto. Contava ao amigo, que tinha estourado o limite de pontos por infrações e que iria perder sua carteira de habilitação. O pior, dizia ele, é que “não posso pagar as multas. Não faz nem dez meses que tirei meu carro e já levei todas essas multas. Nem vendendo meu carro vou conseguir pagar as multas. Tô fodi..... Tem nada não. Amanhã mesmo vou num escritório que um amigo me falou que tira qualquer multa”.  
Não era esperto. Talvez assim pensasse, ao ultrapassar a velocidade permitida  ou transitar em dia de rodízio, cruzar faróis vermelhos, ou outra infração que sua esperteza ainda espera anular num daqueles escritórios especializados. Tomara que caia nessa. Assim estaremos livres de mais um infrator de transito, sem carro, sem dinheiro e sem carteira de habilitação. 

Há uns dias atrás, logo após o Presidente da República (FHC) ter lançado a Medida Provisória 2148-I que impõe as regras e metas para o racionamento de energia, emissoras de TV andaram perguntando à população, o que achava dessa medida. O povo já estava informado da necessidade insofismável de racionar o uso da energia elétrica, de quanto teria que reduzir o consumo de energia na sua casa e das penalidades que poderia sofrer caso não conseguisse atingir sua meta de redução, inclusive da possibilidade de ter cortada sua energia. A Medida era inconstitucional, antecipavam alguns juristas, aos quais logo fizeram coro muitas vozes, com razão, diga-se de passagem.
Todos concordavam que o governo tinha dormido de touca, como se diz na linguagem popular, por não ter tomado providências a tempo de evitar a situação calamitosa a que chegamos, mas concordavam também que todo mundo deveria reduzir o consumo de energia. As usinas da região Sudeste e Nordeste estavam com suas barragens abaixo do nível aceitável para enfrentar o perIodo de  estiagem que vai até o fim do ano. Nunca o povo aprendeu tanto sobre o Sistema Elétrico, uso da energia elétrica, e mil maneiras de reduzir o consumo.
Foi nesse clima que vi ser entrevistado na rua, aquele sujeito que não conseguiu votar.  Se não era ele, era aquele que não conseguiu entregar sua declaração do imposto de renda. Não. Talvez fosse aquele que estava apavorado com suas multas de trânsito. Se não era nenhum dos três, só sei que  lá estava ele, aparvalhado e ansioso mais uma vez, para dar seu depoimento. Foi mais ou menos assim:
“Essa medida é inconstitucional. Não vou economizar coisa nenhuma. Vou gastar mais “luz” do que vinha gastando. Quando receber a conta com a multa vou entrar com ação na Justiça”.
É incrível como o repórter de rua consegue achar essa figura entre tantas que se acercam de uma câmera de TV, logo que as luzes dos holofotes marcam sua presença. Isto, sem falar daquela figura anônima que aparece tranqüilamente numa reportagem da televisão, no meio a uma violenta caçada a bandidos, por policiais armados, cães amestrados e  toda a parafernália. Acho existem mais de um nó cego por aí. (J.NAGADO – 30/05/01)

quinta-feira, 15 de março de 2012

CATEGORIAS DO BURLESCO - ESPIRITUOSO


CATEGORIAS DO BURLESCO  

Esta seção apresenta uma visão prévia do  Espirituoso, tal como já foi feito para a Categoria Genial.  

ESPIRITUOSO
Esta categoria define o espírito, a graça e a vivacidade dos estilos praticados por indivíduos que, se não provocam gargalhadas, têm o poder de estimular  o riso, questionando e às vezes simplesmente detonando códigos e padrões culturais, reguladores das ações humanas,  individuais e coletivas, responsáveis por manifestações  sobre o modo de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores, criações materiais, etc.
Em geral reconhecemos essa capacidade de captar o cômico, o divertido, etc, do  “homem de espírito”  na pessoa que faz réplica direta a seus interlocutores, responde ao que lhe tenha dito  um interlocutor ausente, e  na maioria das vezes, se ocupa de todos, presentes ou não, aproveitando–se do senso comum encontrado nos códigos e padrões culturais de seus interlocutores.
A isto podemos acrescentar que o “homem de espírito usa de sua Competência para esboçar com sutileza cenas de comédia, mas esboçá-la tão discretamente, tão leve e rapidamente, que tudo já esteja acabado quando começarmos a nos aperceber dela”. (sic, Bérgson, Henri – ref. 16).
    


Espirituoso
A piada contada por Viggiano, Alan. Mil Piadas de Salão.  Brasília. André Quicé Editor. 2000 (ref. 6)  traduz bem a idéia do Espirituoso.

Está o velho e rabugento professor argüindo e o “disgramado” (desgraçado) não respondia uma certa.
O professor não resistiu,  virou-se pro bedel e berrou:
- Bedel, vai lá fora e me traga um monte de capim...
E o aluno, no mesmo ritmo:
- E pra mim, um cafezinho, por favor.

( foto do aluno, espezinhado, desta vez sai  airosamente da rinha)

quinta-feira, 8 de março de 2012

2.4.3 LASTRO CONCEITUAL - Bio genética - cont. (3)


2.4.3 LASTRO CONCEITUAL  - Bio genética - cont. (3)

Bio Genética
“Genoma Humano: Parcos 30.000 genes. Revelado o segredo do comportamento humano”. Esta manchete saiu em jornais do Brasil, e repercutia a notícia do jornal britânico “Observer” de 11 de fevereiro de 2001. A manchete, corrigindo para 30.000 a quantidade de genes do genoma humano, de cerca de 100.000 genes admitida até o mês anterior, trouxe à tona um século de debates repetitivos sobre  ambiente versus hereditariedade, e abriu o debate natureza versus criação,  entre geneticistas (hereditarianistas ou naturistas), e de outro lado, empiristas (também às vezes chamados de ambientalistas ou criacionistas).
Debate inútil, pois nem os novos 30.000 genes significam estatisticamente “parcos  genes” e nem a natureza supera  a criação na influência sobre os atos humanos, isto é, os cientistas concordam que os genes influenciam o comportamento humano assim como o comportamento humano influencia os genes, porém “Nossa inteligência, imaginação, empatia e percepção passaram a existir gradual e inexoravelmente, mas não com o auxílio da cultura. Eles tornaram a cultura possível, mas não o contrário”  RIDLEY, Matt  - O que nos faz humanos – genes, natureza e experiência  (ref..21)
Em meados do século XX, era heresia falar em mente animal e falar em instintos humanos. Antropólogos e sociólogos ignoravam as descobertas animais, considerando-as irrelevantes, e, com ênfases no peculiar atributo humano chamado cultura, condenaram toda aquela conversa de instinto humano. A diferença, não a similaridade, era tudo. Quando (ref. 24) Desmond Morris falou das similaridades em seu livro “O macaco nu”, em 1967, foi desprezado como sensacionalista pela maioria dos que estudam a humanidade.
Não iremos aporrinhar o leitor com descrições dos genomas definidores dos comportamentos estapafúrdios  em sua família, que poderiam ser justificados  por  patrimônio genético herdado de seus ancestrais, mas que sua família atribui à luta pela sobrevivência ou coisa do gênero. Aliás, fala-se muito que a descoberta de genes que influenciam o comportamento vem animando advogados a justificar crimes cometidos pelo destino genético de seus clientes:
‘Não foi sua opção. Não foi culpa dele, meritíssimo, está em seus genes”.
Retomando como viés daquele princípio do positivismo lógico,  que afirma que “o significado de (um comportamento burlesco) uma proposição  é  dado na sua verificação (no riso do interlocutor)”, concluímos que “Todas essas brilhantes teorias utilizam-se de específicas realidades de linguagem (social, biológico, físico, etc),  cada qual procurando fazer o sentido do comportamento humano convergir para a fronteira entre tudo aquilo que constitui um estado de coisas dessa realidade  e de outro lado, tudo que designa ou exprime esse estado de coisas”. (j.nagado – out / 2008)
(j_nagado – 06.03.2012)

2.4.3 LASTRO CONCEITUAL - Filosofia – cont. (2)


2.4.3 LASTRO CONCEITUAL  - Filosofia – cont. (2)

Comportamento Paradoxal 
Em Filosofia, Paradoxo constitui a subversão tanto do bom senso como do senso comum e como tal uma fonte inevitável do burlesco. “Os estóicos foram os reais inventores de novas formas de pensamento e amantes de paradoxos. É  com os estóicos, que o humor encontra sua dialética, seu lugar natural como puro conceito filosófico”. (sic.  Lógica do Sentido -  Deleuze, Gilles  Ref. 20 ).
Comportamento paradoxal  - caracteriza o comportamento que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo, disparate. Um comportamento aparentemente contraditório é, no entanto, verdadeiro, indo de encontro a sistemas ou pressupostos que se impuseram, como incontestáveis ao pensamento. Assim é o Paradoxo Socrático, tese socrática que afirma: “Ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis”.
O Burlesco encontrou o encadeamento do significado de  “paradoxo” com o da palavra “oxímoro” ou “paradoxismo”, figura de linguagem que consiste em reunir palavras contraditórias (exemplos: covarde valentia; silêncio eloqüente). Como é notório observar nos exemplos dados,  oxímoros  podem indicar, sutilmente, comportamentos paradoxais.
Deleuze, Gilles  em  Lógica do Sentido  (Ref. 20),  trata os Paradoxos de forma abrangente  e no capítulo  “Oitava Série - da Estrutura”  expõe “certas condições mínimas de uma estrutura em geral” utilizando-se de  um paradoxo na forma de uma “antinomia”.  A primeira dessas condições determina que “são necessárias, pelo menos, duas séries heterogêneas, das quais uma será determinada como “significante” e a outra como “significada” (nunca uma única série basta para formar uma estrutura)”. Essa condição bem outras ali  definidas serviram de modelo para a Estrutura que apresentaremos no Burlesco mais adiante.
  


Determinismo e Fatalismo
Por determinismo entende-se toda doutrina que nega o livre arbítrio, um problema da liberdade psicológica que abrange as discussões sobre a consciência, vontade, obrigações e responsabilidades, que resultam em sanções morais e sociais.
Muitas vezes certos indivíduos exibem comportamentos caracterizados pela negação do livre arbítrio e provocam  o riso devido ao seu estado aparentemente racional e uma postura que parece normal. Sem que se negue um tratamento humano a que eles têm direito, vamos considerá-los em dois grandes grupos doutrinários:  fatalismo e determinismo.

Fatalismo 
Os estóicos citados como amantes dos paradoxos,  tem, na realidade o fatalismo como parte uma crucial da sua filosofia. No momento veremos apenas os principais requisitos do fatalismo.
Considera-se que  todos os comportamentos são inevitáveis, inclusive os de vontade.(há! Haa!).

Tal pressuposto fatalista  nos diz que esse comportamento ocorre:
a)       Fatalmente, independente do esforço eventual do indivíduo, em sentido contrário.(Ho!Ho!Ho!)
b)       Contingentemente, isto é, nega-se qualquer possibilidade ou ato do indivíduo  no sentido contrário (e necessário).(Hu!Hu!Hu!)
c)       Necessariamente, isto é, não é concedido ao indivíduo, liberdade de negar sua contribuição para o burlesco.  (Hi! Hi! Hi!)

Fatalistamente, aqui encontramos personagens como (a)  “o Nó cego”, (b)  “o pagador de micos” e  (c) “o mala”, que podem fazer rodízio de atributos, sem qualquer constrangimento.

Determinismo
Doutrina filosófica segundo a qual (Barsa) todos os fenômenos do Universo, abrangendo a natureza, a sociedade e a história são subordinadas a leis e causas necessárias, negando, pois o livre arbítrio. Nada ocorre sem esta correlação determinista.
Opõem-se ao fatalismo, que ensina que os fatos são fixados de antemão por uma força externa e superior à vontade. De acordo com o fatalismo, o esforço é inútil, porque tudo ocorre de modo infalível.
O determinismo ensina, apenas, que para cada fato há de ter havido sempre razões suficientes que o determinam. Um aforismo reforça, de forma preconceituosa, este conceito:
“O ser humano é uma obra prima da natureza, por esta razão suficiente: mergulhado no determinismo crê agir como criatura livre”. (Lichtenberg, G.C)

 Acima do fatalismo e do determinismo e da questão ética ou moral, é importante  observar que tais comportamentos podem ser justificados pelo Princípio da Constância e pelo Princípio do Prazer, que afirmam:
O princípio da Constância diz que o organismo tende a persistir num modo de comportamento até que obtenha satisfação.
Princípio do Prazer – Tendência da atividade psíquica a buscar a satisfação e evitar o pesar, sem levar em conta a realidade.

O burlesco admite fatores (Espaços, Causas e Condicionamentos - v. capítulo 2.2 – Argumentos) apoiados em bases Cosmológicas, Fisiológicas e Psicológicas, como determinantes a serem considerados nas  escolhas ou atos voluntários do indivíduo:  

a)       Cosmológicas, quando são regidos por leis fixas, como os demais fenômenos da natureza. Costumamos dizer de certos indivíduos: “Esse, a natureza cuida”,  quando vemos que estão prestes a realizar uma besteira ou coisa engraçada.
b)       Fisiológicas, que seriam conseqüência das reações orgânicas, determinadas pelas circunstâncias externas ao indivíduo, ou seja, seus atos voluntários não passariam de resultante das forças (o meio, hereditariedade, o estado orgânico)  que atuam sobre ele, mas não necessariamente. Deduz-se, então, que a vontade própria, a moral, em suma, tendências supostamente superiores do indivíduo estejam totalmente aniquiladas.  
c)       Psicológicas, como atos voluntários, são definidas pelo motivo mais forte, que seu desejo transforma em motivo de impulsividade maior. Como atividade inteligente, o desejo enviesado do indivíduo escolhe um determinado motivo entre outros que não lhes pareceram convenientes.

Com base nesses determinantes  de análise, poderíamos citar diversos exemplos, mesmo sob o risco de  sermos contestados pelos contemplados:
(a)     o sujeito que se julga esperto e se mete em negócios de que não entende nada.
(b)     o sujeito bajulador,  o chamado “puxa – saco”.
(c)     o compulsivo (o comprador, o jogador)

(j_nagado – 06.03.2012)


2.4.3 LASTRO CONCEITUAL - Psico – fisiologia - cont.(1)


 2.4.3 LASTRO CONCEITUAL  - Psico – fisiologia  - cont.(1)

Tendência 
É o ato de optar por algo, uma escolha entre várias alternativas, ou; uma vontade natural irrefletida no subconsciente, que se transforma em um comportamento com ou sem a devida consciência do indivíduo.
"Tendência" do latim tendentia :significa tender para, inclinar-se para, ser atraído (a) por algo que chamou a sua atenção.
Quando a psicologia trata de tendências, está se referindo  a disposições orgânicas e psicológicas que podem se envolver nas atitudes de um indivíduo, em relação a qualquer estímulo. O estado ou situação de suas condições físicas e morais resultante,  lhe determina o comportamento e neste sentido, corresponde à mobilização de energias pelo  indivíduo, com objetivo integrativo para reverter eventual situação de “déficit” físico ou  moral.
O comportamento burlesco é caracterizado por variadas formas de reação do indivíduo ao ambiente humano, e nem sempre se manifesta de acordo com aquilo que se considera comumente de “normalidade”  na maneira de integrar suas tendências.
Tendência, em geral, implica a lembrança de um dano precedente ou nasce de um condicionamento. Por exemplo, quando uma tendência não tem seu curso normal, pode causar no indivíduo uma insatisfação temporária (privação), mas, se bloqueada, pode transformar-se em causa de insatisfação definitiva (frustração), quando seus objetivos lhes parecem inacessíveis e principalmente quando as  intransigências das  normas culturais lhes bloqueiam qualquer satisfação de suas tendências.
Agressividade, ansiedade, recalque, reação interna de defesa em relação  aos recalques, adaptações às exigências do meio (obstáculos físicos ou tabus morais, etc), são termos associados a essa sensação de impotência que o indivíduo sente quando vê suas tendências bloqueadas.
Como resposta de fuga, o indivíduo pode mostrar em seu comportamento, atitudes de negação, isolação,  deslocamento,  alienação, regressão, sublimação, etc. que os  psicanalistas costumam chamar de sintomas patológicos.
Diz-se então, ser inerente à natureza humana, encontrar em si mesmo, a origem das  próprias adaptações ao ambiente, através de transformações (transitórias)  de comportamentos que podem ser justificadas por:
-          tendências adquiridas, integradas com a sua maturidade física e mental.
-          operações mentais já realizadas anteriormente, que motivam de forma instintiva ou perene, uma transformação de comportamento para uma nova situação ou  associadas a uma  condição de ameaça (risco dissociativo).
-          tensões, representados por obstáculos sociais ou modelos culturais  de ação .
-          a personalidade,  que limita suas possibilidades como ser normal.

Hábitos conscientes ou não, decorrentes das tensões ou motivações recebidas do meio, completam o comportamento desse indivíduo, cuja mente realiza operações que visam garantir sua existência e persistência ou pelo menos, garantir a  tendência à estabilidade interna que esse organismo fisiológico forma com o ambiente. (He! He! He!).
Em outras palavras, o equilíbrio e a satisfação do indivíduo resulta da supressão das tensões ou motivações recebidas do meio, através do seu esforço orientado  em direção a atos e comportamentos que realizem objetivos ou que a sua natureza determine. 
Filloux, J.C. (ref. 1)  atribuindo a noção de tendência a uma necessidade, associa essa noção a uma extensão do princípio fisiológico da homeóstase e Allport, Gordon W. (ref.2), amplia o conceito de personalidade (“tem as propriedades de um  sistema”) e afirma em seguida que “Muitas regulamentações psicofisiológicas seguem os princípios da homeostasia”.

Valores 
Alguns indivíduos assumem valores que excedem as expectativas esperadas por suas tendências, e acabam por adotar comportamentos  que mascaram sua personalidade com atos e atitudes falsos que a comunidade logo percebe.  E ri.
Exigências do meio social podem ser responsáveis por diversos tipos de comportamentos burlescos do indivíduo, quando ele tenta se adaptar  a determinados esquemas de valor predominantes nesse ambiente, mas que não são os seus, onde ele  observa que :
- tem  modelos a imitar,
- terá recompensas por bom comportamento e 
- terá  punições por comportamentos  reprováveis,
  
(j_nagado – 06.03.2012)

sexta-feira, 2 de março de 2012

2.4.3 Lastro conceitual - Introduçao


2.4.3  Lastro conceitual - introdução 
Neste “lastro conceitual” necessitamos compatibilizar questões básicas do burlesco (domínios, fundamentos e argumentos) com as abordagens comportamentais  mencionadas, sem aderir a nenhuma teoria ou terapia comportamental, matéria e preocupação de psicólogos e psiquiatras.
Nesse contexto, os temas daqueles cientistas citados em Revendo Comportamentos (2.4.1),  relacionados a condicionamentos, evolucionismo, comportamentalismo, doenças psiquiátricas, inconsciente, consciência, cultura, genética e “imprinting”, formam uma base temática importante para a abordagem do burlesco, alguns dos quais já explorados devido ao seu grande apelo histriônico.
Ao fim desse item (2.4.1) nossas observações ressaltaram estudos de cientistas que tentaram definir algumas  experiências no sentido de moldar mudanças comportamentais associadas a momentos de crise ou  confrontos entre o que somos e o que queremos ser.
Em Comportamento e o riso (2.4.2) resumimos observações sobre  comportamentos de indivíduos ao nosso redor que provocam o riso.   Estariam esses indivíduos representando ou dando vazão a alguma exigência criada por outros em sua mente? Ou tais comportamentos seriam apenas respostas do indivíduo no sentido do relaxamento de tensões  oriundas do meio ambiente?
Alguns indivíduos observados aleatoriamente no meio da multidão mostram sinais de terem sofrido algum “tratamento” psicológico, evidenciando desvios do comportamento chamado normal, geralmente provocando o riso.
Deve-se creditar ao leitor o entendimento dessas questões básicas (domínios, fundamentos e argumentos) para a compreensão do texto, seja qual for o ambiente   no qual o Burlesco adentrar, político, social, psico-social, educacional, etc.  Para isto, a leitura de mundo que o leitor deverá fazer será inferida da análise do espaço, causas e condicionamentos requisitada pela função estruturalizante  do argumento  (2.2),  sob os auspícios da Cultura (e mudanças culturais) preponderante no ambiente considerado. Por exemplo, o leitor deverá assimilar informações que o leve a associar traços psicológicos (ou na sua forma prática, traços de caráter) pertinentes ao comportamento do indivíduo sob observação. 
No que segue, vamos tomar da Psico – fisiologia, filosofia e da bio – genética, alguns aspectos não abordados especificamente na conceituação do Burlesco, embora prestigiados em outras especialidades,  dentro do objetivo de definir uma estrutura para analisar comportamentos que delineiam os estilos burlescos. 
(j_nagado – 02.03.2012)