Cassio Carvalheiro

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

TAN 00 11 – “ESTEREÓTIPOS E BARTHES”



TAN 00 11 – TRIBUTO A JC NEVES, CRÍTICO DO BLOG CONFRARIAS DO RISO

Apresentação

Crítico atento e bem humorado, JC NEVES indicou a necessidade de esclarecimentos de fragmentos e citações de textos do nosso livro “Burlesco”, expostos de forma incompleta, ou carentes de informações que necessitaríamos ter suprido no blog, onde foram apresentados.   
Postado no blog em Julho/2012, “ESTEREÓTIPOS E BARTHES” – Confrarias do Riso – Transmontano -  002.2012
apresenta o protocolo Ideológico (i), juntamente com os protocolos lógico (l) e comportamental ©, na constituição da estrutura (lic) do “Burlesco”.
Em “Estereótipos e Barthes”, registramos o fato de que filósofo-semiólogo Roland Barthes (1915-1980) formaliza, no âmbito do “Estruturalismo”, a ideia das “mitologias” que nos são transmitidas como “ideologias” pelos veículos de comunicação e frequentemente adotados como padrões pelo povo ignorante ou desavisado.  
Os esclarecimentos aqui apresentados irão subsidiar o texto do “Burlesco” em sua próxima revisão(a 11ª.)

(j.nagado – 12.12.2017)


Tue, 26 Jun 2012 14:04:27 -0700
From: jcneves45@yahoo.com.br
To: j_nagado@hotmail.com

Caro José

Gostaria muito de fazer um comentário consistente sobre os últimos textos que postaste sobre a teoria de Barthes, mas não me sinto capaz de fazê-lo. As definições casam com o sentimento que tenho de cada uma das doutrinas e me parecem coerentes e sensatas. Não tenho, entretanto, a profundidade de conhecimento nem para avalizá-las, nem para rechaçá-las; afinal, Barthes é Barthes, para usar o ninismo e a tautologia. ...
JC - 26/06/12

De: José Nagado <j_nagado@hotmail.com>
Para: jose neves <jcneves45@yahoo.com.br>
Enviadas: Sexta-feira, 29 de Junho de 2012 19:54

Caro José,

Sua apreciação é muito valiosa, pois não devem pairar dúvidas sobre os conceitos apresentados no Blog.   
Assim, vale a pena esclarecer em poucas palavras a relação entre ESTEREÓTIPOS identificados com IDEOLOGIAS nas “falas” que constituem os MITOS.
- Os estereótipos identificados nos Mitos por Roland Barthes são vistos como formas de dominação ideológica.
- O conceito crítico (de Marx) de ideologia como distorção, justifica a necessidade de combater os estereótipos presentes nas “falas”.  
- As figuras de expressão dos Mitos reconhecidas por Barthes (v. no blog) representam uma coletânea de estereótipos identificados com frequência na fala de algumas pessoas, identificando - lhes tendências para um estilo burlesco. Tome-se como exemplo a figura da “Vacina” que consiste em confessar o mal acidental de uma instituição de classe, para camuflar o seu mal indispensável, utilizada pelo senador Roberto Cardoso Alves: “É dando que se recebe”.
A origem da ideia de Fundamentos Mitológicos, no Burlesco, está associada ao uso de Mitos com o objetivo de direcionar ideologicamente indivíduos de uma sociedade, alinhado com o conceito de Mitologia, desenvolvido por Roland Barthes (1915 -1980), sob os auspícios do vínculo entre o Estruturalismo (da década de 1950) e a Semiologia.
Nesta concepção, o mito foi considerado como a designação de falsas evidências de fatos que o senso comum trata como natural, mascarando realidades e neste sentido, perfeitamente histórica, caracteriza um abuso ideológico dissimulado. Barthes trata os Mitos como forma de ideologia, uma ferramenta de dominação burguesa, como vimos em – “a Ordem”, postada em ESTEREÓTIPOS E BARTHES – 03 (continuação).
No texto do Burlesco (40 páginas) procuramos esclarecer a origem dos “fundamentos mitológicos” do burlesco a partir de uma abordagem da ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação, constituídos de dois planos complementares - a saber, a sintaxe ou a “forma” (ou "significante") e à semântica relativa ao "conteúdo" (ou "significado").  
A Semiologia é considerada mais abrangente que a linguística, esta limitada ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal. Esta ciência (Semiologia) tem por objeto qualquer sistema sígnico – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciência, Etc.
Consideramos, portanto, a inserção dos Fundamentos Ideológicos de forma generalizada dentro da estrutura do Burlesco,  partindo-se do significado de Ideologia  como (em filosofia) um conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores, ou (em Política) como sistema de ideias dogmaticamente organizado como um instrumento de luta política, ou como um conjunto de ideias próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica. (nessa acepção: ideologia burguesa).
Portanto,
- O Burlesco generaliza e utiliza o conceito de Ideologia como protocolo dos fundamentos Mitológicos, Teológicos, Filosóficos e Morais.

Considerado textualmente por JC, as sete figuras de expressão dos mitos (Barthes) têm sua expressão no humor popular.
O ninismo (5) e a tautologia (4) representam expressões de estereótipos conhecidos ou de mentiras repetidas ao infinito, como acontece com as estórias que nos falam do Pelé. Ou da descoberta do Brasil por Cabral. Ou do Mensalão, por Lula e seus Asseclas. Existe muita coerência nisso. Ou como dizia Nelson Rodrigues: “Toda coerência é, no mínimo, suspeita”. (constatação (7))

No momento, o (mau humor do) amigo Transmontano, após a derrota (dia 26.06) da seleção de futebol de Portugal perante a da Espanha, pela EUROCOPA da UEFA, não admitirá (omissão da história-2) comentar o embate esportivo sem colocar em evidência a “fabulosa vitória de Portugal perante a Espanha em Aljubarrota – (1483) !!”.

O texto completo dos Fundamentos Ideológicos será editado no Burlesco, com o acréscimo das “expressões do mito” citadas na postagem – ESTEREÓTIPOS E BARTHES – (03)

P.S Console o amigo Transmontano pela derrota de Portugal perante a  Espanha no futebol.

Bom fim de semana! Abraços/JN


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 De: José Nagado <j_nagado@hotmail.com>
Para: jose neves <jcneves45@yahoo.com.br>
Terça-feira, 3 de Julho de 2012 0:45

José,

O amigo Transmontano reage: “Portugueses vencem Espanhóis em Aljubarrota!” (O Transmontano vai acabar me detestando por esta brincadeira!).
Portugal venceu em Aljubarrota e isto aconteceu faz muito tempo (1483), mas os castelhanos de hoje, lembraram do desejo de Castela anexar Portugal, principalmente meio time da seleção espanhola, que é de Barcelona, que fica, por acaso, na região de Castela. 
Voltando ao sério(!!), achei interessante postar no blog  os esclarecimentos suscitados por seu e-mail e o comentário (e resposta) ao Marcus, no Face book. 

Pá, abraços! e obrigado !

José 
José, bom dia!
... a postagem é interessante, e faz jus ao foco do Blog, vá em frente!
.....E já que estou a escrever na linguagem do Transmontano,
Uma forte mãozada e bem hajas
JC - 03/07/12


TAN 00 10 - "EURO-LATINO-AMERICANO"



TAN 00 10 – JC NEVES, UM ENSAISTA 


Apresentação

Prosseguimos com o nosso "Tributo a JCNeves", 

Neste ensaio, “Euro-Latino-Americano”, o europeu (Neves) observa, durante 25 anos do privilegiado posto em que trabalha, o desalento e a desesperança de  povos latino-americanos de conquistar um degrau na escalada do desenvolvimento político, social e cultural, observação que leva em conta a identidade dos seus habitantes e a sincronia com o espaço-tempo de um mundo em evolução. (j.nagado)

Caro leitor, não apresentaremos o ensaio completo, mas, com a anuência do amigo Neves, apresentaremos alguns trechos que julgamos importante para a consideração política que fizemos, em relação ao período crítico que o Brasil vive desde que passou a ser dominado por partidos e políticos interessados no poder para usufruir do patrimônio público, auxiliados por certa classe de intelectuais. (jn-12-12
(caso solicitado, encaminharei ao Neves o seu pedido do ensaio completo).


Caro Neves,

Parabéns pelo  seu brilhante ensaio sobre o desenvolvimento da identidade dos povos latino-americanos, tendo como base um balanço psicossocial e político, suscitado pela matéria publicada no caderno de Cultura do Estadão, de 11/02/07, onde “Vargas Llosa faz uma eloquente homenagem póstuma a Esteban Tollinchi, talvez um dos maiores intelectuais e escritores de Puerto Rico, nos últimos 50 anos”, ressaltando-se o fato de “que nenhum dos dois se limitou à educação formal de seus países e ambos buscaram o amplo virtuosismo – se assim se pode chamar – complementar da educação europeia”.
Um texto envolvendo diversas variáveis (históricas, econômicas, sociológicas, etc.), mesmo que simplificadamente balizadas pela influência europeizante dos cartéis contrapondo-se a aquisições americanizantes desses cinquenta anos, vistos pelo autor, exigia para sua análise, uma visada para a essencialidade final dessas variáveis.
Assim, mais que um exercício intelectual, a leitura de ensaios deste tipo nos levou a uma proposição sobre o “estado de coisas” primário, aquilo que constrói a estrutura cosmológica e constituída coletivamente, para compreender melhor a materialidade do tempo que corrói esta nossa triste américa latina.
Em 1995, embora um pouco constrangido, decidi aceitar o convite de um amigo para fazer o curso de Planejamento – Estratégico e Fundamentos Doutrinários da ESG – Escola Superior de Guerra. Desde 1958 a ESG tinha uma tradição no planejamento estratégico brasileiro e também a pretensão (pouco democrática) de atuar diretamente nas decisões da presidência da República, principalmente nos anos da ditadura militar no Brasil.
Elitista ou não, a ESG vinha ajudando o governo central a discutir e definir as questões estratégicas, o que iria induzir o país a conceber alternativas de políticas e contextos visando modernização do país, acompanhando os países ocidentais mais avançados.
Os últimos governos petistas conseguiram tirar dos trilhos a composição política e tecnológica brasileira, apoiando blocos com países com ideologias políticas ultrapassadas e tecnologias idem....
Reencontrei esse amigo após quase dois anos sem vê-lo e ontem, este ensaio -”Euro – Latino – Americano” entrou em nossa conversa pelo viés da discussão sobre o poder maniqueísta que o governo petista mantém sobre as classes pobres e minorias de todos os tipos. Nossas antigas divergências ideológicas vieram à tona, aportando agora em águas tranquilas de convergências maduras e assentadas em bases estruturadas pela experiência. (Nagado – 27.11.2012)



EURO-LATINO-AMERICANO

Se identidade é individualidade, e referência comum a muitos indivíduos,
O que fazer para preservá-la, sem ferir o indivíduo e suas diferenças?
(JCN)

 “Ambos, Llosa e Tollinchi, nasceram em lugares distintos, de uma América Latina distinta: o primeiro, sul-americano de um Peru de maioria mestiça de indígenas, negros e brancos, todos em busca de uma identidade única; o segundo, caribenho, de um Porto Rico mulato, protegido pela bandeira americana, como Estado independente, mas em permanente busca da sua verdadeira identidade política. Ainda não sabe muito bem se quer a independência como país, ou se continua aproveitando os benefícios da pujança econômica, se seguir pendurado na tutela dos Estados Unidos.
       Se não é fácil perceber uma identidade racial, mais difícil é conseguir uma unidade política, mesmo já entrados no Século XXI. Ainda predomina o ranço do caudilhismo, do populismo, do nacionalismo, e do permanente sentimento de anti-imperialismo yankee - que sempre caracterizaram a região – e que se comportam como uma espécie de fogo fátuo a realimentar, justificar, e alargar a permanência no poder, o mais possível, aos governantes de plantão. Depois da era romântica de Bolívar, Martin e Sarmiento, várias foram as tentativas de formar blocos e sub-blocos econômicos, como a ALADI, Pacto Andino, do Caribe, da América Central, o Mercosul, com todos colidindo entre si, num grande balaio de gatos, que não cobre nem protege nenhum  dos países, e ainda os faz arranhar-se mutuamente na busca de vantagens ou concessões – que todos querem receber e ninguém tem para dar -  fazendo da tentativa de integração da região um arremedo do NAFTA e da CEE.
Alguém ainda lembra que existe a OEA? Alguém sabe o ela significa? Parabéns para quem ainda lembra que é a Organização dos Estados Americanos, equivalente à ONU reduzida para toda a América. Na visão do meu amigo, o pecado maior na falta de integração da região está em copiar, mal, o Presidencialismo americano, em contraponto ao Parlamentarismo, predominante na Europa. Ele entende que o poder de um presidente americano, no que se refere aos assuntos internos do país, é inferior ao poder de qualquer outro presidente na América Latina, embora seja a pessoa mais poderosa do mundo no âmbito da política global. A sua ambição de poder não é menor que o dos seus colegas dos demais países da América, mas a função de equilíbrio de enraizadas e fortalecidas instituições – como Congresso, Justiça, e o próprio Povo – delimita, com a clareza e simplicidade de uma Constituição bicentenária, as ações próprias das suas prerrogativas. Se fugir delas, impeachment nele!
. Num regime Parlamentarista, seguramente teria caído o governo com um simples voto de desconfiança de um Parlamento cobrado por seus eleitores, e novas eleições teriam sido convocadas. No Presidencialismo, não só se perdoou o Presidente, como foi reeleito, assim como os ministros, os deputados e os senadores que haviam participado do mensalão, do mensalinho, das ambulâncias, dos vampiros, dos dossiês, dos lixos, dos bingos, dos... Mas o Brasil não é o único país em que isso aconteceu; basta olhar a história recente das duas ou três últimas eleições na Argentina, na Venezuela, no Peru, no Equador, na Nicarágua. Enfim, ao meu amigo sobrou-lhe uma certeza desconcertante: a infinita bondade política do povo latino-americano, refletida na sua infinita capacidade de perdoar, e ainda dar a outra face para o bis.
. Quanto à dificuldade de um filho de imigrante encontrar a sua real identidade nacional, também está retratada no filme argentino “Lugares Comunes”, no qual um argentino, filho de espanhóis, num processo inverso de emigração, vai viver na Espanha, formando aí uma nova família, e passa a sentir o peso da rejeição pelos espanhóis, pois não passa de um “sudaca de mierda”; e é rejeitado quando resolve voltar para a Argentina, onde o recebem como “gallego, hijo de puta”, que volta para tirar-lhes algum dos poucos empregos disponíveis.


(exim nivibus licentia, jcneves ) spero autem sic - j.nagado 12.12.2017