TAN 00 10 – JC NEVES, UM
ENSAISTA
Apresentação
Prosseguimos com o nosso "Tributo a JCNeves",
Neste ensaio, “Euro-Latino-Americano”, o europeu (Neves) observa, durante 25 anos do privilegiado posto em que trabalha, o desalento e a desesperança de povos latino-americanos de conquistar um degrau na escalada do desenvolvimento político, social e cultural, observação que leva em conta a identidade dos seus habitantes e a sincronia com o espaço-tempo de um mundo em evolução. (j.nagado)
Caro leitor, não apresentaremos o ensaio completo, mas, com a anuência do amigo Neves, apresentaremos alguns trechos que julgamos importante para a consideração política que fizemos, em relação ao período crítico que o Brasil vive desde que passou a ser dominado por partidos e políticos interessados no poder para usufruir do patrimônio público, auxiliados por certa classe de intelectuais. (jn-12-12
(caso solicitado, encaminharei ao Neves o seu pedido do ensaio completo).
Caro
Neves,
Parabéns
pelo seu brilhante ensaio sobre o
desenvolvimento da identidade dos povos latino-americanos, tendo como base um
balanço psicossocial e político, suscitado pela matéria publicada no caderno de
Cultura do Estadão, de 11/02/07, onde “Vargas Llosa faz uma eloquente
homenagem póstuma a Esteban Tollinchi, talvez um dos maiores
intelectuais e escritores de Puerto Rico, nos últimos 50 anos”, ressaltando-se
o fato de “que nenhum dos dois se limitou à educação formal de seus países e
ambos buscaram o amplo virtuosismo – se assim se pode chamar –
complementar da educação europeia”.
Um
texto envolvendo diversas variáveis (históricas, econômicas, sociológicas, etc.),
mesmo que simplificadamente balizadas pela influência europeizante dos cartéis
contrapondo-se a aquisições americanizantes desses cinquenta anos, vistos
pelo autor, exigia para sua análise, uma visada para a essencialidade final
dessas variáveis.
Assim,
mais que um exercício intelectual, a leitura de ensaios deste tipo nos levou a
uma proposição sobre o “estado de coisas” primário, aquilo que constrói a
estrutura cosmológica e constituída coletivamente, para compreender melhor a
materialidade do tempo que corrói esta nossa triste américa latina.
Em
1995, embora um pouco constrangido, decidi aceitar o convite de um amigo para
fazer o curso de Planejamento – Estratégico e Fundamentos Doutrinários da ESG –
Escola Superior de Guerra. Desde 1958 a ESG tinha uma tradição no planejamento
estratégico brasileiro e também a pretensão (pouco democrática) de atuar
diretamente nas decisões da presidência da República, principalmente nos anos
da ditadura militar no Brasil.
Elitista
ou não, a ESG vinha ajudando o governo central a discutir e definir as questões
estratégicas, o que iria induzir o país a conceber alternativas de políticas e
contextos visando modernização do país, acompanhando os países ocidentais mais
avançados.
Os
últimos governos petistas conseguiram tirar dos trilhos a composição política e
tecnológica brasileira, apoiando blocos com países com ideologias políticas
ultrapassadas e tecnologias idem....
Reencontrei
esse amigo após quase dois anos sem vê-lo e ontem, este ensaio -”Euro – Latino
– Americano” entrou em nossa conversa pelo viés da discussão sobre o poder
maniqueísta que o governo petista mantém sobre as classes pobres e minorias de
todos os tipos. Nossas antigas divergências ideológicas vieram à tona,
aportando agora em águas tranquilas de convergências maduras e assentadas em
bases estruturadas pela experiência. (Nagado – 27.11.2012)
EURO-LATINO-AMERICANO
Se identidade é individualidade, e referência
comum a muitos indivíduos,
O que fazer para preservá-la, sem ferir o
indivíduo e suas diferenças?
(JCN)
“Ambos, Llosa e Tollinchi, nasceram
em lugares distintos, de uma América Latina distinta: o primeiro, sul-americano
de um Peru de maioria mestiça de indígenas, negros e brancos, todos em busca de
uma identidade única; o segundo, caribenho, de um Porto Rico mulato, protegido
pela bandeira americana, como Estado independente, mas em permanente busca da
sua verdadeira identidade política. Ainda não sabe muito bem se quer a
independência como país, ou se continua aproveitando os benefícios da pujança
econômica, se seguir pendurado na tutela dos Estados Unidos.
Se
não é fácil perceber uma identidade racial, mais difícil é conseguir uma
unidade política, mesmo já entrados no Século XXI. Ainda predomina o
ranço do caudilhismo, do populismo, do nacionalismo, e do permanente sentimento
de anti-imperialismo yankee - que sempre caracterizaram a região – e que
se comportam como uma espécie de fogo fátuo a realimentar, justificar, e
alargar a permanência no poder, o mais possível, aos governantes de plantão.
Depois da era romântica de Bolívar, Martin e Sarmiento, várias foram as
tentativas de formar blocos e sub-blocos econômicos, como a ALADI, Pacto
Andino, do Caribe, da América Central, o Mercosul, com
todos colidindo entre si, num grande balaio de gatos, que não cobre nem protege
nenhum dos países, e ainda os faz
arranhar-se mutuamente na busca de vantagens ou concessões – que todos querem
receber e ninguém tem para dar - fazendo
da tentativa de integração da região um arremedo do NAFTA e da CEE.
Alguém ainda lembra que existe a OEA?
Alguém sabe o ela significa? Parabéns para quem ainda lembra que é a Organização
dos Estados Americanos, equivalente à ONU reduzida para toda a América. Na
visão do meu amigo, o pecado maior na falta de integração da região está em
copiar, mal, o Presidencialismo americano, em contraponto ao Parlamentarismo,
predominante na Europa. Ele entende que o poder de um presidente americano, no
que se refere aos assuntos internos do país, é inferior ao poder de qualquer
outro presidente na América Latina, embora seja a pessoa mais poderosa do mundo
no âmbito da política global. A sua ambição de poder não é menor que o dos seus
colegas dos demais países da América, mas a função de equilíbrio de enraizadas
e fortalecidas instituições – como Congresso, Justiça, e o próprio Povo –
delimita, com a clareza e simplicidade de uma Constituição bicentenária, as
ações próprias das suas prerrogativas. Se fugir delas, impeachment nele!
. Num regime Parlamentarista, seguramente
teria caído o governo com um simples voto de desconfiança de um Parlamento
cobrado por seus eleitores, e novas eleições teriam sido convocadas. No
Presidencialismo, não só se perdoou o Presidente, como foi reeleito, assim como
os ministros, os deputados e os senadores que haviam participado do mensalão, do
mensalinho, das ambulâncias, dos vampiros, dos dossiês, dos lixos, dos bingos, dos...
Mas o Brasil não é o único país em que isso aconteceu; basta olhar a história
recente das duas ou três últimas eleições na Argentina, na Venezuela, no Peru,
no Equador, na Nicarágua. Enfim, ao meu amigo sobrou-lhe uma certeza
desconcertante: a infinita bondade política do povo
latino-americano, refletida na sua infinita capacidade de perdoar, e
ainda dar a outra face para o bis.
.
Quanto à dificuldade de um filho de imigrante encontrar a sua real identidade
nacional, também está retratada no filme argentino “Lugares Comunes”, no
qual um argentino, filho de espanhóis, num processo inverso de emigração, vai
viver na Espanha, formando aí uma nova família, e passa a sentir o peso da
rejeição pelos espanhóis, pois não passa de um “sudaca de mierda”; e é
rejeitado quando resolve voltar para a Argentina, onde o recebem como “gallego,
hijo de puta”, que volta para tirar-lhes algum dos poucos empregos
disponíveis.
(exim nivibus licentia, jcneves ) spero autem sic - j.nagado 12.12.2017
Dom 17/12/2017, 17:42
ResponderExcluirCaros amigos, Apreciem () um brilhante ensaio sociológico sobre a américa latina e uma crítica construtiva em relação ao blog. Tributos ao amigo Transmontano, JC Neves. ABRAÇO Jose Nagado TAN 00 10 – JC NEVES, UM ENSAISTA
JN
José Nagado
Dom 17/12/2017, 17:48
(25.09.2018)
ResponderExcluirJosé Carlos Neves
Sex 22/12/2017, 17:28
Caro Nagado
Não sei se o trio de e-mails que me enviaste apontava para assuntos distintos, mas como não encontrei o link anunciado em nenhum dos três, lá fui eu à procura no teu blog. Afinal, se me lançam um tributo (que não seja imposto), é justo que eu me esforce um pouco mais para saber que generosas mentiras andas comentando em meu favor. E lá estava a minha "Euro-Latino- Americano", que eu comecei como crônica, que se estendeu em ensaio, e que tu, sabiamente, retornaste ao tamanho de crônica, de onde não deveria ter saído. Agradeço pela divulgação gratuita.
Mas, o que me surpreendeu mesmo, na minha entrada ao blog, foi a descoberta de 3 ou 4 de tuas crônicas que ainda não conhecia, embora tivesse lido outras. E fiquei encantado com elas, como já havia ficado com as outras, perguntando-me por que cargas d'água paraste de escrevê-las. Acho que li em algum lugar que tens cerca de 20 delas. Eu entendo que daria um bom combo para um livro com elas, acompanhadas de algumas ilustrações que tu mesmo podes fazer, e um Hai Kay que remeta ao tema de cada uma. Pensa nisso!
Grande abraço para ti e Lúcia, e felicíssimo Natal para toda a família.
Neves - 22/12/17