Cassio Carvalheiro

terça-feira, 19 de junho de 2012

ESTEREÓTIPOS E BARTHES – 03 (continuação)


ESTEREÓTIPOS E BARTHES – 03 (continuação)
O Mito - Roland Barthes trata os Mitos como formas de ideologias.
Ideologia é um termo de diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. O termo ideologia é sinônimo ao termo ideário no senso comum, com o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Utilizado sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).
Tal concepção crítica, conforme Barthes, deve-se a três influências principais  devidas a Hjelmslev (linguística), pela conotação, de Durkheim (psicanálise), pelo enfoque de representação coletiva, e de Marx (política), pela Ideologia, em seu conceito particular, como distorção.
Sem que se relevem tais influências, consideradas polêmicas lingüísticas e psicanalíticas que envolvem tal tema,  para o Burlesco interessa o conceito particular (de Marx) da ideologia como distorção, considerando-se daí a necessidade de combater os estereótipos presentes nos mitos, recomendada por Barthes.
A fala mítica

Para o semiólogo Barthes, o Mito, é um modo de significação, que não nega a factualidade histórica, uma forma de fala inocente, ingênua (conotação), naturalizando e eternizando a  sociedade burguesa (representação coletiva), esta aqui representada pela sociedade francesa   na qual viveu Barthes, mas ocorrência normal alhures. 
A expressão - “o Mito é uma Fala”,  é usada por Barthes para conceituar  o mito como um modo de significação, uma forma, onde tudo que pode ser julgado por um discurso (uma fala) pode se constituir em mito, com seus limites históricos, condições de funcionamento e objetivos sociais. Barthes ainda acrescenta que a fala mítica conjuga não só a “natureza” das  coisas, dependendo  de matéria representativa (ou gráfica) já trabalhada tendo em vista uma comunicação apropriada, postulando uma significação, através da semiologia.  
Nesse sentido, Barthes aborda o Mito, em uma perspectiva negativa: É uma distorção  de sentido. Transforma o cultural em natural e o histórico em eterno. É um discurso (uma divagação) comprometido com o encobrimento, particularizando-se como uma ’’fala despolitizada’’, grifa Barthes.
Barthes aplica este conceito em “Mythologies” (1950), onde apresenta os princípios da semiótica em um ensaio (“Myth today”) sobre fenômenos da cultura popular francesa, e posteriormente (1.957), ele reuniu   seus artigos sobre mitos do cotidiano francês como  em   “A Ordem”  e outros escritos entre 1.954 e 1.956.
Nesses textos Roland Barthes exemplifica conceitos da semiótica  através do  relacionamento dos signos aos objetos ou idéias que representam, e a combinação dos signos em sistemas chamados códigos, decodificados pela atuação simultânea do significante e significado sobre nós.

Uma fala mítica: “A Ordem”, de Barthes.            
Em A Operação Astra , Roland .Barthes demonstra uma relação de causa-efeito  (metonímia) entre a ordem (regra ou lei estabelecida) e o “poder”, apontando um processo paradoxal e maniqueísta, através do qual este restaura “a Ordem” (como signo do bem transcendental), para uma sociedade estruturada como objeto de  tutela política, penal, religiosa, etc, isto é, dos valores que a Ordem defende.
O paradoxo consiste em:
- isolar certo valor (o exército, a Igreja, etc) que a Ordem quer restaurar,
- expor-lhes  toda sua imperfeição natural, através de suas mesquinharias, injustiças e piadas que suscita 
- e depois,  considerar todo o mal ou revolta que isso provoca, como uma obsessão, doença  comum, natural e desculpável,  que  a ordem exorciza,
- e finalmente, levar o doente (o povo) a representar  a natureza da sua revolta, e ela desaparece.
A atuação (apesar de tudo, fatal, vitoriosa e finalmente  benéfica) maniqueísta da Ordem,  é resgatada  pelo bem transcendental da Igreja, do exército, etc.
A Igreja, denunciada  pelo excessivo formalismo e pela hipocrisia de seus comedores de hóstia condena o crente em nome da  fé mesma e depois, num gesto extremo, usando o Verbo, ainda que rigoroso  e duro proclama a salvação pelo rigor moral e  santidade de suas vítimas.
A imagem do militar fazendo continência à bandeira, o signo de sua disciplina e respeito pela pátria, contrasta com a rotina tirana que seus chefes manifestam para o espectador. Sob a ordem de “Sentido!”, imediatamente vê-se rigidamente enfileirado, a imagem de um exército triunfante sob bandeiras tremulantes.  O clichê é muito  batido, mas nada se espera do espectador além do seu compromisso de fidelidade a essa Ordem.
Barthes em suas Mitologias (Barthes, Roland. Mitologias. 2003),  utiliza sete figuras de expressão de mitos,  explicitados a seguir.
Figuras de expressão dos Mitos
1. Vacina:  consiste em confessar o mal acidental de uma instituição de classe, para camuflar o seu mal indispensável.  

2. A omissão da história:  Quando o Mito fala sobre um objeto, despoja-o de toda a História. “A omissão da história” atua surrupiando, através do discurso do mito sobre um objeto. Trata-se da “irresponsabilidade do homem”, quando se refere à ausência do questionamento da origem do objeto;

3. A  identificação:  O pequeno-burguês é um homem incapaz de imaginar o Outro. “A identificação” observa apenas a semelhança de características, como dizer que “o outro só existe quando concorda comigo”. Acaba-se por transformar esse “outro”, em puro objeto, um espetáculo ou, até mesmo, uma marionete.

4. A tautologia:  É um processo verba, que consiste em definir o mesmo pelo mesmo (“o teatro é o teatro”) (ver  truismo.). “A tautologia” é uma redundância como”subir para cima”, ou tratar o mesmo pelo mesmo.

5. O ninismo (nem - nem  ismo):  Consiste em colocar dois contrários e equilibrar um com o outro, de modo a poder rejeitar os dois.(não quero isto nem aquilo). Recusam-se igualmente termos para os quais uma escolha  era difícil e foge-se do real intolerável.  

6. A quantificação da qualidade: Consiste em reduzir  toda a qualidade a uma quantidade.

7. A constatação:  O Mito tende para o provérbio. A “constatação” pode ser tratada como um axioma: todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, reduzida a uma constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo.(experiência como formadora de idéias).
 Estas figuras de expressão associadas aos mitos são reconhecidas  em diversos estilos do burlesco.(j_nagado-18.06.2012)

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