ESTEREÓTIPOS E BARTHES
– 03 (continuação)
O Mito - Roland Barthes trata os Mitos como formas de ideologias.
Ideologia é um termo de diferentes significados e duas concepções: a neutra e
a crítica. O
termo ideologia é sinônimo ao termo ideário
no senso comum, com o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos,
de doutrinas ou
de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações
sociais e, principalmente, políticas.
Utilizado sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento
de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou
dissuasão, mas não por meio da força
física) de forma prescritiva, alienando a
consciência humana. (Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre).
Tal concepção crítica, conforme Barthes,
deve-se a três influências principais
devidas a Hjelmslev (linguística), pela conotação, de Durkheim (psicanálise), pelo enfoque de representação coletiva, e de Marx
(política), pela Ideologia, em seu conceito particular, como distorção.
Sem que se relevem tais influências,
consideradas polêmicas lingüísticas e psicanalíticas que envolvem tal tema, para o Burlesco interessa o conceito
particular (de Marx) da ideologia como distorção, considerando-se daí a
necessidade de combater os estereótipos presentes nos mitos, recomendada por
Barthes.
A
fala mítica
Para
o semiólogo Barthes, o Mito, é um modo de significação, que não nega a factualidade histórica,
uma forma de fala inocente, ingênua (conotação), naturalizando e eternizando a sociedade burguesa (representação coletiva),
esta aqui representada pela sociedade francesa
na qual viveu Barthes, mas ocorrência normal alhures.
A expressão - “o Mito é uma Fala”,
é usada por Barthes para conceituar
o mito como um modo de significação, uma forma, onde tudo que
pode ser julgado por um discurso (uma fala) pode se constituir em mito, com
seus limites históricos, condições de funcionamento e objetivos sociais.
Barthes ainda acrescenta que a fala mítica conjuga não só a “natureza” das coisas, dependendo de matéria representativa (ou gráfica) já
trabalhada tendo em vista uma comunicação apropriada, postulando uma
significação, através da semiologia.
Nesse sentido, Barthes aborda o Mito, em uma perspectiva negativa: É uma
distorção de sentido. Transforma o cultural em
natural e o histórico em eterno. É um discurso (uma
divagação) comprometido com o encobrimento, particularizando-se como uma
’’fala despolitizada’’, grifa Barthes.
Barthes aplica este conceito em “Mythologies” (1950), onde apresenta os
princípios da semiótica em um ensaio (“Myth today”) sobre fenômenos da cultura
popular francesa, e posteriormente (1.957), ele reuniu seus artigos sobre mitos do cotidiano
francês como em “A Ordem” e outros escritos entre 1.954 e 1.956.
Nesses textos Roland Barthes exemplifica conceitos da semiótica através do
relacionamento dos signos aos objetos ou idéias que representam, e a
combinação dos signos em sistemas chamados códigos, decodificados pela atuação
simultânea do significante e significado sobre nós.
Uma fala mítica: “A Ordem”, de Barthes.
Em A Operação Astra , Roland .Barthes demonstra uma relação de
causa-efeito (metonímia) entre a ordem
(regra ou lei estabelecida) e o “poder”, apontando um processo paradoxal e
maniqueísta, através do qual este restaura “a Ordem” (como signo do bem
transcendental), para uma sociedade estruturada como objeto de tutela política, penal, religiosa, etc, isto
é, dos valores que a Ordem defende.
O paradoxo consiste em:
- isolar certo valor (o exército, a Igreja, etc) que a Ordem quer
restaurar,
- expor-lhes toda sua imperfeição
natural, através de suas mesquinharias, injustiças e piadas que suscita
- e depois, considerar todo o mal
ou revolta que isso provoca, como uma obsessão, doença comum, natural e desculpável, que a
ordem exorciza,
- e finalmente, levar o doente (o povo) a representar a natureza da sua revolta, e ela desaparece.
A atuação (apesar de tudo, fatal, vitoriosa e finalmente benéfica) maniqueísta da Ordem, é resgatada
pelo bem transcendental da Igreja, do exército, etc.
A Igreja, denunciada pelo
excessivo formalismo e pela hipocrisia de seus comedores de hóstia condena o
crente em nome da fé mesma e depois, num
gesto extremo, usando o Verbo, ainda que rigoroso e duro proclama a salvação pelo rigor moral
e santidade de suas vítimas.
A imagem do militar fazendo continência à bandeira, o signo de sua
disciplina e respeito pela pátria, contrasta com a rotina tirana que seus
chefes manifestam para o espectador. Sob a ordem de “Sentido!”, imediatamente
vê-se rigidamente enfileirado, a imagem de um exército triunfante sob bandeiras
tremulantes. O clichê é muito batido, mas nada se espera do espectador além
do seu compromisso de fidelidade a essa Ordem.
Barthes
em suas Mitologias (Barthes, Roland. Mitologias. 2003), utiliza sete figuras de expressão de mitos, explicitados a seguir.
Figuras
de expressão dos Mitos
1.
Vacina: consiste em confessar o mal
acidental de uma instituição de classe, para camuflar o seu mal indispensável.
2. A omissão da história: Quando
o Mito fala sobre um objeto, despoja-o de toda a História. “A omissão da história” atua surrupiando, através do
discurso do mito sobre um objeto. Trata-se da “irresponsabilidade do homem”,
quando se refere à ausência do questionamento da origem do objeto;
3.
A identificação: O pequeno-burguês é um homem incapaz de
imaginar o Outro. “A
identificação” observa apenas a semelhança de características, como dizer que
“o outro só existe quando concorda comigo”. Acaba-se por transformar esse
“outro”, em puro objeto, um espetáculo ou, até mesmo, uma marionete.
4.
A tautologia: É um processo verba, que
consiste em definir o mesmo pelo mesmo (“o teatro é o teatro”) (ver truismo.). “A
tautologia” é uma redundância como”subir para cima”, ou tratar o mesmo pelo
mesmo.
5.
O ninismo (nem - nem ismo): Consiste em colocar dois contrários e
equilibrar um com o outro, de modo a poder rejeitar os dois.(não quero isto nem
aquilo). Recusam-se igualmente termos para os quais uma escolha era difícil e foge-se do real intolerável.
6.
A quantificação da qualidade: Consiste em reduzir toda a qualidade a uma quantidade.
7.
A constatação: O Mito tende para o
provérbio. A “constatação” pode ser tratada como um
axioma: todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa
que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, reduzida a uma
constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo.(experiência
como formadora de idéias).
Estas figuras de expressão associadas
aos mitos são reconhecidas em diversos estilos
do burlesco.(j_nagado-18.06.2012)
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