JOSÉ NAGADO
(CRÕNICAS ANACRÕNICAS)
A quem poderia interessar uma crônica que fala de um barzinho na Avenida do Cursino? Em lugar desta crônica, pensei em postar uma outra crônica sobre um colega do Colégio, que se tornou diretor de filmes pornôs. Quem sabe ainda consiga contatar esse antigo colega e com a permissão dele, postaria a tal crônica: "Em Cartaz".
O BAR DO LUIS
http://licburlesco.blogspot.com/2013/11/cronica-o-bar-do-luiz.html
Fica na Avenida do Cursino, tem uma porta de aço de enrolar,
um balcão para servir aquele cafezinho horrível e a cachaça do alcoólatra
apressado, seguido da geladeira que se estende até o fundo do bar, onde fica a
caixa registradora, invariavelmente o posto do dono do bar, da esposa ou de um
dos filhos. Ao longo do balcão e na calçada, algumas mesinhas e cadeiras de
aço, com a propaganda de uma marca de cerveja.
Falo do Bar do Luis. Desde 1962, como diz o luminoso sobre a
porta do bar, também com a propaganda da mesma cerveja divulgada nas mesas e
cadeiras, que um amigo que morava ali perto vivia dizendo que eu tinha que ir
lá um dia, para provar o bolinho de bacalhau, junto com uma cervejinha super
gelada, além de outros quitutes que eram de dar água na boca.
Logo que mudei para um bairro próximo da Avenida do Cursino,
voltando certa tarde do trabalho com esse amigo, resolvemos ir ao Bar do Luiz.
O bar estava cheio de gente que voltava do trabalho como nós, alguns ainda
engravatados e outros mais à vontade, parecendo que já tinham passado nas suas
casas e saído só para dar aquela chegada no bar do Luiz, para a cervejinha de
fim de tarde.
Passando pela fileira de mesinhas dentro do bar, fui direto
ao banheiro que avistei logo que cheguei, desesperado para tirar a água do
joelho. Ã frente de um monte de caixas com garrafas de bebidas e outras coisas
amontoadas, ficava a porta do banheiro, mal iluminado e sujo, como era de se
esperar. Aliviado, sai do banheiro e passei pelo Luis (devia ser ele), que embora ocupado, me cumprimentou com um boa
noite e fez a propaganda dos salgadinhos sobre o balcão: “Estão fresquinhos.
Saíram agora. Delícia”.
Bolinhos de bacalhau, esfihas, quibes, salsichas boiando em
um molho avermelhado, ovos cozidos, pizza cortada em pedaços, sardinhas fritas
e aquela duvidosa pururuca de leitão estavam ali, dentro do conservador de
alimentos quentes ou espalhados sobre o balcão.
Meu amigo já tinha ocupado uma mesinha na calçada e estava
acabando de fazer um pedido para o garção: “...dois copos, e pra começar, pode
trazer meia dúzia daqueles bolinhos de bacalhau que o amigo ( eu, chegando)
aqui vai degustar”.
Realmente o bolinho de bacalhau era bom, mas nada de
especial. A cerveja era tomada naqueles copos tipo americano, de vidro, que a
iluminação fraca das mesas não permitia ver se estavam bem lavados. Nada disso
tinha importância para o pessoal que estava no bar, numa conversa animada e com certeza ficariam por ali até
bem tarde. Bem tarde, para os freqüentadores desses antigos bares de fim de
expediente, significava dez ou onze horas da noite, quando muito. O que todos
queriam, na verdade, era curtir o fim do dia por uma ou duas horas batendo um
papo e tomando aquela cervejinha gelada e comendo os bolinhos do bar do Luiz. A
excelência desses bolinhos era a justificativa (exagerada) dos seus
frequentadores, para dar a parada de toda tarde nesse ponto.
Uns dez anos atrás, com três amigos fui fazer doação de
sangue em nome de um parente de um deles. Era sábado, pela manhã, e no retorno
do Banco de Sangue, após alguém elogiar os fabulosos bolinhos do Bar do Luis,
resolvemos parar ali para tomar aperitivo e comer os tais bolinhos. Tudo
continuava como dantes, só que mais envelhecido. Não sei se o Luiz continuava
lá. Os freqüentadores pareciam aqueles mesmos trabalhadores que por lá passavam
nos fins de tarde, dez anos antes.
Minha lembrança desse dia não foi muito agradável. A doação
de sangue fez a minha pressão arterial abaixar e uma batida de abacaxi acabou
de fazer o resto. Tive uma queda violenta da minha pressão que um dos amigos
logo resolveu com uma providencial pressão na minha nuca, enquanto eu fazia um
esforço para levantar o corpo para a posição vertical. Terminei meu aperitivo
tomando um refrigerante, sem bolinho, e sendo gozado pelos três amigos.
Recentemente, passando pelo local a pé pela manhã, num dia
no meio da semana, tive a curiosidade de ver como estaria o Bar do Luiz. Estava
fechado. Nunca imaginara que esse bar não abria desde cedo. Talvez, pensei,
sempre fora assim, um bar dedicado a honestos trabalhadores, assíduos
freqüentadores de fins de tarde. Não era, pelo que passei a perceber, daqueles
botecos onde a corja de vagabundos e alcoólatras começa a se reunir desde cedo,
para passar o tempo jogando loto ou cartas, ou dirigindo gracejos às mulheres
que passam pela calçada.
Uma lei municipal, decretada há pouco tempo, restringiu a
abertura de bares até a uma hora da madrugada, visando garantir a tranqüilidade
da vizinhança. Boa lei, que se for respeitada, também contribuirá para a
redução de crimes e violências praticadas por gente desqualificada que adentra muitos bares desse tipo nas violentas madrugadas de São Paulo.
Não é o caso do bar do Luiz, que fecha cedo e é amado por gente trabalhadora, como um amigo que tinha lá a sua cadeira cativa até pouco tempo antes de
morrer. Para ele, o Bar do Bolinho, ou melhor, o bolinho do Bar do
Luiz é o melhor que há.
Acho que é verdade.
José Nagado – 19/08/01
Nagado, faz umas quatro horas eu pensei que tinha postado um comentário, mas voltei a entrar no blog e vi que não foi publicado. Coisas da internet...
ResponderExcluirLuiz Roberto, boteco sempre foi local para conversas descontraídas, e
Excluirfoi naquelas mesas do Bar do Luiz que rabisquei ensaios sérios sobre alguns temas escatológicos, ainda não abordados no Burlesco. Espero que
seu comentário não tenha sido censurado...