Cassio Carvalheiro

domingo, 9 de março de 2014

POST 16 -13 – ESQUETES: IGNORANTÃO – produto de Individuação


POST 16 -13 – ESQUETES:  IGNORANTÃO – produto de Individuação

Introdução
Estamos dando continuidade à apresentação da série de esquetes (de humor) de estilos de comportamentos relacionados às quatro Categorias  do Burlesco : Pobre de Espírito, Gozador, Espirituoso e Genial ,  utilizando a estrutura (caráter x fundamentos x tendências) definida em “Burlesco” (http://licburlesco.blogspot.com.br).

Categoria Pobre de Espírito

Um resumo da Categoria “Pobre de Espírito” foi apresentado em http://licburlesco.blogspot.com.br/search?q=pobre+de+esp%C3%ADrito-20.05.2012.

Três esquetes mostram a essencialidade de estilos de comportamento dessa categoria:


Os estilos desta Categoria (Simplório, Cândido, Inocente útil e Ignorantão)  foram agrupados   devido a uma disposição permanente de caráter, identificado comumente com a imagem   compassiva que nos transmitem.  ("E quando aprendemos melhor a divertir-nos, esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores". - Nietszche, em "Assim falou Zaratustra/dos Compassivos").

O agente deste estilo (o Ignorantão) costuma  mostrar-se auto-confiante, conhecedor de ambientes e dominador de situações, mas em geral se compromete quando mostra suas credenciais
Neste esquete faremos uma apresentação do Estilo Ignorantão com base na estrutura normal do Burlesco  e em seguida designaremos o Ignorantão como um produto de Individualização.

Ignorantão

No “Aurélio”: Diz-se do indivíduo muito ignorante mas pretensioso.

Nota do autor:
Nessa forma, “Ignorantão” nos transmite a idéia de um arremêdo de indivíduo, destituído de valores morais e provavelmente desclassificado como cidadão, embora tenha a pretensão de viver em liberdade.    O “muito ignorante” leva o leitor a pensar que nosso texto irá  tratar de indivíduo pouco informado  ou mesmo um simples analfabeto. Veja alguns complementos que identificam esse indivíduo.

O  Ignorantão caracteriza-se por uma certa dose de canalhice, maneirismos periféricos e hábitos oportunísticos. Procura adaptar-se às exigências do princípio da (sua) realidade procurando ocultar, no mito, sua realidade social, seja através da ostentação, hábitos extravagantes  ou freqüentar ambientes sofisticados  em relação aos quais procura mostrar-se um entendedor e um “habituée”.

Fundamento Lógico
Nota do autor: Fundamentos Morais (Ideológicos) e Comportamentais considerados no Burlesco, embora esclarecedores do estilo burlesco do Ignorantão, foram omitidos neste esquete visando a simplificação deste esquete.

Em situações controversas que vivencia, o Ignorantão revela aquela  imagem compassiva que nos transmite, mormente quando analisado sob o aspecto do “Princípio lógico de Contradição (ou de Não contradição)”, que diz: “É impossível que um mesmo atributo convenha e não convenha a um mesmo sujeito, no mesmo lugar e ao mesmo tempo”. (da lógica clássica de Aristóteles (384-322 a.C)).
Embora seja visto como um princípio já bastante assertivo, deve-se considerar ainda o crivo da teoria da verdade,  que avaliou esse princípio para situações contraditórias, justificando-se a teoria da Correspondência : “Algo é verdade quando há uma correspondência entre esse algo e a realidade”.     
O Ignorantão tenta validar essa teoria para si e para os outros companheiros,  quando investe todo  o  poder de  seus métodos (“esse algo”), para posicionar favoravelmente o julgamento crítico (a  realidade do IGNORANTÃO) frente ao público.

A propósito, podemos dizer, por exemplo, que no julgamento da Ação Penal 470 (vulgo “Mensalão”), o povo brasileiro viu  com pesar a não condenação do “Ignorantão”  por formação de quadrilha, apesar de a Justiça ter comprovado  a teoria da Correspondência (“Algo é verdade quando há uma correspondência entre esse algo e a realidade”) .

G.C. Lichtenberg  coloca o Ignorantão (ainda livre) em seu devido lugar:

“Creio que o homem (o Ignorantão) é, no final das contas, uma criatura tão livre que se lhe não pode contestar o direito de ser aquilo que pensa ser”. 

Nota do autor:
No Burlesco, (em princípios da Lógica), também decorrentes das teorias da verdade, consideramos a implicação da teoria Pragmática no estilo Especialista,  e a implicação da teoria da Coerência, no estilo  Cerebral, visando a convergência do “Princípio lógico de Contradição”, analisadas pelo filósofo brasileiro Newton da Costa (1950).

Desempenho
Em função de situação analisada, questiona-se o desempenho do Estilo Ignorantão, com uma questão fundamental no Burlesco: quando esse estilo provoca o riso ?

- Quando o agente do estilo se  vê obrigado a se desfazer publicamente (ou sigilosamente) de constrangida lealdade amizade cooptada em outras épocas. (Lula e Dirceu possuem mesmas origens políticas?)

- Quando esse agente provoca divergência ou conflito entre normas sociais do ambiente onde convive e as suas, estas traduzindo valores que traz de ambientes outros que ele mesmo identifica em sua origem de “cachorro vira-lata”, sem uma linhagem respeitosa de parâmetros culturais. (Gafes sociais e culturais dos nossos políticos)

- Quando esse agente é miseravelmente desclassificado  pela  própria pessoa a quem um dia admitia perante a “tribo”: “Palavra que eu também teria feito da mesma maneira”.  (políticos Ilustres desclassificaram políticos corruptos.)

Estado
A Teoria (da correspondência) aplicada à vida afetiva do “vira lata” Ignorantão, diz que, dado o constrangimento geral que este provoca pela sua simples presença,  seu estado permanente é de vigilância, com receio de levar uma vassourada, ter um cachorro maior atiçado em sua direção ou simplesmente ser levado pela “carrocinha”. Seu disfarce (certa dose de canalhice, maneirismos periféricos e hábitos oportunísticos, e badulaques materiais e sociais que cultiva até com certa competência), o coloca num estado contraditório entre a certeza do lixo que habita e o  mundo das ofertas de prazer que busca constantemente.  



O estilo IGNORANTÃO

Será apresentado como resultado de um processo de   individuação cujos aspectos básicos, arquétipos e instintos,  reportamos em postagens no blog (v. links):


Comportamento burlesco e a individuação

O Ignorantão exterioriza seu estilo de comportamento burlesco,  caracterizando um processo de individuação, reconhecido em casos que veremos  adiante.   

Os links (1), (2) e (3) apresentam os conceitos básicos (arquétipo, imagem, imaginação ativa, intuição, etc.)  desse processo.


Arquétipo (extrato de Burlesco)

“Este termo, na psicologia analítica, se refere a estruturas inatas, matrizes universais inscritas no consciente coletivo,  formadas por imagens psíquicas  do inconsciente coletivo comum a toda a humanidade, que servem de matriz para  desenvolvimento da psique e que acabam por se instalar no indivíduo junto com o inconsciente pessoal.”
O inconsciente  pessoal conteria “todas as aquisições da existência pessoal tais como o esquecido, o reprimido, o subliminarmente percebido, pensado e sentido,  somado ao inconsciente coletivo”, no extrato da camada mais profunda da psique, e seria associado a motivos e imagens mitológicas herdadas do funcionamento psíquico em geral, ou seja, da estrutura cerebral herdada. O Paraíso, crença existente nos mais distintos povos, constitui uma “situação em que não há carências e as satisfações são imediatas e ilimitadas”, é um exemplo de arquétipo.
A relação pessoal, por exemplo, com o Arquétipo ou simbolismo do "Pai", do "Poder", é chamada de Complexo (originado no inconsciente pessoal), tal como o Complexo de Édipo, que a Psicologia  define como a “inclinação erótica  recalcada de uma criança pelo progenitor do sexo oposto, em virtude do conflito ambivalente com o progenitor do mesmo sexo, ao mesmo tempo amado, odiado e temido”. (“Aurélio”)
Assim, “Pai” tem função simbólica relacionada a algum poder, tal como o respeito imposto pelas regras, o receio de um DNA perversamente danificado, a (expectativa da) paternidade, o culto do macho (falo masculino), e outros simbolismos. Já o GRANDE PAI é um exemplo  de arquétipo junguiano, o “pai” coletivo comum na religião ocidental,  na figura de um grande Deus masculino que tudo vê.


Os arquétipos mais conhecidos estão relacionados a quatro principais impulsos humanos  Cada impulso pragmático caracteriza arquétipos  em diferentes situações. (estado de coisas)

->Mestria/Risco: (arquétipos do Herói, Fora-da-Lei e Mago).
->Independência/Auto-realização:  (arquétipos do Inocente, Explorador e Sábio).
->Pertença/Grupo:  (arquétipos do Bobo da Corte, Cara Comum e Amante).
->Estabilidade/Controle:  (arquétipos do Criador, Prestativo e Governante).
(Ref. Margaret Mark e Carol Pearson no livro “O Herói e o Fora-da-Lei”.)


Individuação

Nota do autor: O texto a seguir resume o processo de Individuação,  que terá  versão completa  em uma postagem a ser feita brevemente.

Individuação
Individuação , como um processo de simbolização, subjetivo, resistente ao predomínio da razão, rico de ilimitadas possibilidades culturais. Nesse contexto, a individuação  adere aos conceitos vistos, segundo um modelo que caracteriza arquétipos  em diferentes situações (estado de coisas). Este modelo pode ser verificado sob os seguintes aspectos no comportamento do sujeito individuado:

a) Escolha da aparência ideológica (conhecimento) derivada do arquétipo.
b) Direcionamento (morbidez)  dos  sentidos  das ações
c) Ajuste (ação)  do equilíbrio e solidez da arquitetura psicológica construída pela imagem e  pragmática gerada pelo arquétipo e suas tendências.

Escolha  
Inconscientemente o  indivíduo “escolhe” a aparência ideológica do arquétipo, com o qual pretende influenciar comportamentos ou atitudes das pessoas. Por exemplo, a compulsão para o poder, associado a um fantasma da história  (que tal Hitler?), certamente facilita ao indivíduo convencer as pessoas, ao invés de apelar para boatos e mentiras, ou usar de paradoxos, paródias, contrastes absurdos, contra-senso, caricaturas, etc.

Direcionamento
O direcionamento dado pelo indivíduo, como resultado das tensões ou motivações recebidas do ambiente via inconsciente arquetípico  e em especial da sua particular visão do mundo, é feito através de suas “contribuições”, ás vezes cômica, séria outras vezes, mas normalmente constituída de traços de subjetividade, quando não distorcidos dos valores éticos e morais ou da realidade.

Ajuste (v. tendências)
O equilíbrio e a solidez psicológica do sujeito individuado, de maneira geral, depende do ajuste daqueles aspectos distorcidos dos valores éticos e morais ou da realidade, considerados como tendências.

É verdade que alguns arquétipos mostram características de doenças patológicas, que devem ser adequadamente tratados pelos psicólogos clínicos ou pela psiquiatria. Casos patológicos não merecem o riso da zombaria,  mas sim pena e comiseração, pelas vias do tratamento politicamente correto que ensejam.
Portanto, o arquétipo, direcionador do comportamento burlesco, fornece uma visão particular de mundo ao indivíduo. Produz conceitos insensatos que buscam a coerência interna e externa de elementos emocionais e imaginários do modo de pensar (fisiológico), que resulta  comportamento diferenciado e mórbido em relação ao ambiente que o cerca. Isto constitui as peças principais do mecanismo psicológico e cultural comumente consideradas na utilização de arquétipos no burlesco.
Lembrando o princípio da Individuação, finalmente poderemos dizer: “Ei-lo”:

Contribuições
A individuação como fonte de humor, agrega contribuições seja em considerações sobre “focos de subjetivação”, “traços de subjetividade”, “tipos psicológicos”, “simbolizações” , seja  pelos temas que explora (imagens como  “Sacrifício”,  “criação de valores”, o aspecto lúdico, etc),    que Jung, Freud e outros pesquisadores da psicologia e da psiquiatria acrescentam como valor propedêutico  ao Burlesco.
Por exemplo,    a imagem  arquetípica do  “ SACRIFÍCIO  ”, que  um  candidato  a cargo no Senado  admitia estar fazendo em nome da Nação. Ei-lo, com o seu  comportamento, derivado provavelmente do arquétipo do Herói !!.

“Essa parte do inconsciente não é individual, mas universal; em contraste com a psique pessoal, ela possui conteúdos e modelos de comportamento que são mais ou menos iguais em todos os lugares e em todos os indivíduos...
O arquétipo é essencialmente um conteúdo inconsciente que é alterado ao tornar-se consciente e ao ser percebido, e assume sua cor a partir da consciência individual na qual por acaso aparece”. (C.G.Jung - The Archetypes)

Apresentamos a seguir, exemplos de comportamentos derivados de arquétipos :

Arquétipo  1 – O genérico politicamente incorreto
Recomenda-se muito cuidado, pois o indivíduo que usa  tal arquétipo está habituado a:
- apropriar-se de idéias de outra pessoa.
- diminuir a importância dos outros.
- fazer comparações desonestas, colocando as pessoas no mesmo valo fétido em se encontra.
- fazer acusações infundadas.
- agredir qualquer pessoa que seja mais qualificada que ele.

Arquétipo 2 - Político
Certo político brasileiro pode  ser reconhecido pelas  expressões que definem seu arquétipo:
- Procura manipular platéias utilizando-se de  triunfalismo ignóbil (“ninguém mais do que eu neste país, pode falar de ética.”)
- Faz apologia de sua origem humilde e de sua precária formação para contrastar com a posição de poder que atingiu.
- Demonstra total falta de autocrítica


Final
O burlesco explora cada situação em todas as suas dimensões, procurando devassar o  pensamento ou ato mais escatológico dos seus personagens, expor-lhes vontades, frustrações e irritações,  ou o fatalismo ou o determinismo de reações criadas pela imaginação ativa perante situações onde a insensatez ou a morbidez típica do gênero humano, originada no inconsciente,  acaba predominando.

A revista "Veja" relata um encontro no dia 26 de abril de 2012 entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No encontro, segundo a publicação, Lula sugeriu o adiamento do julgamento do mensalão em troca de proteção ao ministro na CPI do Cachoeira. Veja a declaração do Ministro: “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula.”   

José Nagado – (09.03.2014)


4 comentários:

  1. Nagado, gostaria de fazer um longo comentário sobre os os textos acima, referindo-me a "ignorantão" e "arquétipo", mas com certeza, iria para a malha fina do Imposto de Renda novamente, como quando minhas cartas foram publicadas no Estadão... Portanto, assino em baixo de tudo!
    Abraços
    Freitas

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    Respostas
    1. Caro Nicanor, obrigado pelo comentário.
      Primeiramente gostaria de esclarecer que existe uma diferença fundamental entre os conceitos de ARQUÉTIPO (identifica o estilo IGNORANTÃO) e FATALISMO (identifica o NÓ CEGO) , conceituado no POST 2.4.3 - LASTRO CONCEITUAL - Filosofia – cont. (2)
      http://licburlesco.blogspot.com/2012/03/243-lastro-conceitual-filosofia-cont-2.html
      Concordo que somos obrigados a respeitar nossas obrigações fiscais com o Governo, embora o Governo não cumpra com suas obrigações para conosco. Também faço anualmente meu cálculo de ajuste do I.Renda e não tenho receio da Receita Federal. A Malha Fina do I.R pega erros normais do Contribuinte. Atitude de enfrentamento, sem razão, pode complicar o contribuinte perante a Receita Federal.
      Abraço.(José Nagado-01.04.2014)

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  2. Caríssimo José Nagado, venho me esforçando para entender e compreender os textos sobre Burlesco que você tem postado. Confesso: não está fácil!! Ainda não consegui organizar em minha mente as diversas afirmações que você faz sobre temas tão díspares como filosofia do Nietzche, psicanálise do Freud e "politicamente correto"...
    Não pense que vou desistir: "desistir jamais" afirmam todos os vencedores. E eu quero vencer este desafio!

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  3. Caríssimo
    Luiz Roberto de Barros Santos
    Obrigado pelo esforço, mas acho que v. não tem culpa se está difícil o entendimento e a compreensão do meu texto.
    Vamos tentar resumir nossa explicação:
    “Temas tão díspares como a filosofia do Nietzsche, psicanálise do Freud e o políticamente correto”, uma vez conhecidos em sua abrangência acadêmica são considerados dentro do assunto sob análise, onde são reconhecidas suas aproximações com aqueles temas (díspares ou não), que lhes dão uma identidade no campo (do Burlesco) de entendimento do texto em desenvolvimento.
    O contexto é analisado segundo a estrutura previamente definida no Burlesco, em termos de fundamentos lógicos, ideológicos e comportamentais, através dos quais são organizadas as afirmações que estabelecem as conexões do tema: Estilos Burlescos de Comportamento - Categoria Pobre de Espírito: IGNORANTÃO.

    O blog está apresentando uma sequência de ESQUETES que deverá atingir a totalidade dos Estilos (17) definidos no Burlesco. O estilo Ignorantão completa a série de esquetes da Categoria Pobre de Espírito. Os links facilitarão sua compreensão:
    CATEGORIA : POBRE DE ESPÍRITO

    POST 13.2013 – ESQUETES : CÂNDIDO – Afilhado de Político
    http://licburlesco.blogspot.com/2013/11/post-132013-esquetes-candido-afilhado.html



    POST 14.2013 – ESQUETES : SIMPLÓRIO – do Grotesco ao Lúdico
    http://licburlesco.blogspot.com/2013/12/post-142013-esquetes-simplorio-do.html


    POST 15.2013 – ESQUETES – INOCENTE ÚTIL : compassivo
    http://licburlesco.blogspot.com/2014/02/post-152013-esquetes-inocente-util.html


    POST 16 .2013 – ESQUETES: IGNORANTÃO – produto de Individuação
    http://licburlesco.blogspot.com/2014/03/post-16-13-esquetes-ignorantao-produto.html


    Obrigado e um grande abraço (Nagado-01.04.2014)

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