Cassio Carvalheiro

quinta-feira, 19 de abril de 2012

2.6 Arquétipos, instintos e Individuação - (cont.1)


2.6 Arquétipos, instintos e Individuação -  (cont.1)
                                                                                                                                                                                  
Instinto
A exigência que Jung fazia junto  a seus opositores significava dar conta de quem (instinto / arquétipo) constrói determinadas configurações filosóficas ou psicológicas, referindo-se ao valor atribuído ao inconsciente através de  diferentes (e subjetivos) instintos revelados (como confissão pessoal)  nas teorias psicológicas de sua época, citando o instinto sexual, com Sigmundo Freud (1856 – 1939), o instinto de poder, com Adler, Alfred (1873 – 1937) e dele próprio, Jung, uma “multiplicidade relativamente autônoma de complexos psíquicos”, declarados como instintos / arquétipos em sua obra.
Nesse clima de debates, Jung (1875 - 1961), médico-psiquiatra torna pública sua discordância com Sigmundo Freud (1856 – 1939), o qual, afirmou Jung,  dificilmente teria formulado muitos de seus conceitos,  se tivesse qualquer experiência psiquiátrica específica como ele, Jung, que observou muitos pacientes (ainda) esquizofrênicos (perda da realidade) e (finalmente) psicóticos, com suas fantasias bizarras (incompreensíveis para médico e paciente), no Hospital Psiquiátrico da Universidade de Zurique.
Nestes estados (neuróticos e psicóticos) recaem as bases das considerações de Jung sobre a bizarrice das fantasias recolhidas entre seus pacientes (finalmente) psicóticos, postulando, inicialmente, que o estado neurótico, no qual predomina o aspecto psicológico pessoal, é humanamente compreensível, ao contrário do estado psicótico.
Explica-se que pacientes (ainda) esquizofrênicos são afetados por grande quantidade de símbolos (originários no inconsciente) coletivos que caracterizam material psicótico bizarro por excelência, destituído da razão, e  que ajudam a explicar a estranheza das fantasias do indivíduo (finalmente) psicótico. 
Jung, a partir da análise de seus pacientes e de experiências a ele relatadas, onde representações (imagens e fantasias) da superstição popular adquiriam certa expressão  de verdade para um número  cada vez maior de homens. Ainda que essas imagens e fantasias apareçam disfarçadas por acréscimos fornecidos pela imaginação humana, elas validam tais representações   como criações subjetivas e salvadoras perante situações aflitivas.    

O Instinto e a Filosofia
Nas pegadas de Friedrich Wilhelm Nietzche (1844 -1900), Jung afirmava que pensamento, compreensão, argumentação não podiam ser vistos como processos independentes, sujeitos apenas às eternas leis da lógica, mas que são funções psíquicas coordenadas com a personalidade e a ela subordinadas...
Jung afirmava, em relação a Immanuel Kant (1724 – 1804), que sua própria personalidade condicionou de forma decisiva a “Crítica da razão pura”, obra onde o “universalismo da razão” revela, particularmente,  a personalidade de Kant guiada por um instinto.
O problema (o instinto) em relação ao qual Jung se debate é o mesmo que anteriormente perturbara Nietzsche,  um certo “quê” tirânico do instinto que almeja apresentar-se como finalidade última  da existência e legítimo senhor dos demais – nas palavras do próprio Nietzsche.
Deixando de lado o caráter instintivo da própria filosofia, desde que o filósofo em sua obra valoriza exigências fisiológicas impostas pela necessidade de manter determinado gênero de vida, vamos ver Nietzsche, procurando  “o fragmento de personalidade”,  isto sim, uma realidade instintiva presente em cada sistema filosófico,

Individuação
Quando Jung menciona genericamente instintos ou arquétipos (a “forma especificamente humana que suas atividades possuem”), em geral está se referindo ao instinto modificado (psiquisado), definido como a estrutura resultante da interação do instinto e a situação psíquica do momento. Para ele,  este instinto modificado  chega a perder sua característica mais essencial, a compulsoriedade. O que é compulsório se torna um fenômeno psíquico  e a psique emerge por meio dele como portadora de uma extraordinária capacidade de variação e transformação.
Dessa forma, no lugar de um ato compulsivo aparece um certo grau de liberdade e no lugar do previsível emerge uma relativa imprevisibilidade. A noção de psiquisação é, em outras palavras, a chave para compreendermos o processo de individuação.
Na psicologia junguiana é importante a noção de variação e transformação (plasticidade e versatilidade) da psique, requisito para essa concepção psicológica que envolve as noções de arquétipo, de instinto criativo e de psiquisação, expressa em variedade de formas - imagens, símbolos, pano de fundo para a noção de morte e renascimento como metáfora da criatividade.
Imaginação ativa
O arquétipo corresponde à apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que permite a ação e possibilita a vivência de novas situações, utilizado no método psicoterapêutico desenvolvido por Jung, a “imaginação ativa”. Esta conceituação junguiana de arquétipo constitui   uma forma de interação com o inconsciente, onde este realiza   espontaneamente várias personificações (pessoas conhecidas e desconhecidas, animais, plantas, lugares, acontecimentos, etc.), com as quais nossa imaginação pode  discordar, quando for o caso, opinar, questionar e até adotar comportamentos subjetivos, e com resultados muitas vezes bizarros ou histriônicos. (este final fica por conta do Burlesco).
Para Jung os arquétipos estão relacionados ao “processo de formação e particularização do indivíduo e, em especial, ao desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva”. Para Jung: “Tal processo envolve ir a um além das máscaras sociais e da integração da “sombra”- os aspectos da nossa personalidade considerados moralmente reprováveis. Símbolos oníricos, mitos, contos de fadas e a alquimia são representações típicas dessa luta por tornar-se o que se é (individuação)”, diferenciado do homem-massa que Jung caracteriza por tipos psicológicos.


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