2.6
Arquétipos, instintos e Individuação - (cont.1)
Instinto
A exigência que Jung fazia
junto a seus opositores significava dar conta de
quem (instinto / arquétipo) constrói determinadas configurações filosóficas ou
psicológicas, referindo-se ao valor atribuído ao inconsciente
através de diferentes (e subjetivos)
instintos revelados (como confissão pessoal)
nas teorias psicológicas de sua época, citando o instinto sexual, com Sigmundo Freud (1856 – 1939), o instinto de
poder, com Adler, Alfred (1873 – 1937) e dele próprio, Jung, uma
“multiplicidade relativamente autônoma de complexos psíquicos”, declarados como instintos / arquétipos em
sua obra.
Nesse
clima de debates, Jung (1875 - 1961), médico-psiquiatra torna pública sua
discordância com Sigmundo Freud (1856 –
1939), o qual, afirmou Jung,
dificilmente teria formulado muitos de seus conceitos, se tivesse qualquer experiência psiquiátrica
específica como ele, Jung, que observou muitos pacientes (ainda)
esquizofrênicos (perda da realidade) e (finalmente) psicóticos, com suas
fantasias bizarras (incompreensíveis
para médico e paciente), no Hospital Psiquiátrico da Universidade de Zurique.
Nestes estados (neuróticos e psicóticos) recaem as
bases das considerações de Jung sobre a bizarrice das fantasias recolhidas
entre seus pacientes (finalmente) psicóticos, postulando, inicialmente, que o estado neurótico, no qual predomina o
aspecto psicológico pessoal, é humanamente compreensível, ao contrário do
estado psicótico.
Explica-se que pacientes (ainda) esquizofrênicos são
afetados por grande quantidade de símbolos (originários no inconsciente)
coletivos que caracterizam material psicótico bizarro por excelência,
destituído da razão, e que ajudam a
explicar a estranheza das fantasias do indivíduo (finalmente) psicótico.
Jung, a partir da análise de seus pacientes e de
experiências a ele relatadas, onde representações (imagens e fantasias) da
superstição popular adquiriam certa expressão
de verdade para um número cada
vez maior de homens. Ainda que essas imagens e fantasias apareçam disfarçadas
por acréscimos fornecidos pela imaginação humana, elas validam tais
representações como criações subjetivas
e salvadoras perante situações aflitivas.
O Instinto e a Filosofia
Nas pegadas de
Friedrich Wilhelm Nietzche (1844 -1900), Jung afirmava que
pensamento, compreensão, argumentação não podiam ser vistos como processos
independentes, sujeitos apenas às eternas leis da lógica, mas que são funções
psíquicas coordenadas com a personalidade e a ela subordinadas...
Jung afirmava, em relação a Immanuel Kant (1724 – 1804), que sua própria personalidade
condicionou de forma decisiva a “Crítica da razão pura”, obra onde o
“universalismo da razão” revela, particularmente, a
personalidade de Kant guiada por um instinto.
O problema (o instinto) em relação ao qual Jung se
debate é o mesmo que anteriormente perturbara Nietzsche, um certo
“quê” tirânico do instinto que almeja apresentar-se como finalidade última da existência e legítimo senhor dos demais –
nas palavras do próprio Nietzsche.
Deixando de lado o caráter instintivo da própria
filosofia, desde que o filósofo em sua obra valoriza exigências fisiológicas
impostas pela necessidade de manter determinado gênero de vida, vamos ver
Nietzsche, procurando “o fragmento de personalidade”, isto sim, uma realidade instintiva presente
em cada sistema filosófico,
Individuação
Quando Jung menciona genericamente instintos ou arquétipos (a “forma especificamente humana que suas atividades
possuem”), em geral está se referindo ao instinto
modificado (psiquisado), definido como a estrutura resultante da interação
do instinto e a situação psíquica do momento. Para ele, este instinto
modificado chega a perder sua
característica mais essencial, a compulsoriedade. O que é compulsório se torna
um fenômeno psíquico e a psique emerge
por meio dele como portadora de uma extraordinária capacidade de variação e transformação.
Dessa forma, no lugar de um ato compulsivo aparece um
certo grau de liberdade e no lugar do previsível emerge uma relativa
imprevisibilidade. A noção de psiquisação é, em outras palavras, a chave para
compreendermos o processo de individuação.
Na psicologia junguiana é importante a noção de variação
e transformação (plasticidade e versatilidade) da psique, requisito para essa
concepção psicológica que envolve as noções de arquétipo, de instinto criativo
e de psiquisação, expressa em variedade de formas - imagens, símbolos, pano de
fundo para a noção de morte e renascimento como metáfora da criatividade.
Imaginação ativa
O
arquétipo corresponde à apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que
permite a ação e possibilita a vivência de novas situações, utilizado no
método psicoterapêutico desenvolvido por Jung, a “imaginação ativa”. Esta conceituação junguiana de arquétipo
constitui uma forma de interação com o
inconsciente, onde este realiza
espontaneamente várias personificações (pessoas conhecidas e
desconhecidas, animais, plantas, lugares, acontecimentos, etc.), com as quais
nossa imaginação pode discordar, quando
for o caso, opinar, questionar e até adotar comportamentos subjetivos, e com
resultados muitas vezes bizarros ou histriônicos. (este final fica por conta do
Burlesco).
Para
Jung os arquétipos estão relacionados ao “processo de formação e
particularização do indivíduo e, em especial, ao desenvolvimento do indivíduo
psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva”. Para Jung:
“Tal processo envolve ir a um além das máscaras sociais e da integração da
“sombra”- os aspectos da nossa personalidade considerados moralmente
reprováveis. Símbolos oníricos, mitos, contos de fadas e a alquimia são
representações típicas dessa luta por tornar-se
o que se é (individuação)”, diferenciado do homem-massa que Jung
caracteriza por tipos psicológicos.
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