Cassio Carvalheiro

quarta-feira, 4 de abril de 2012

2.5 ESTEREÓTIPOS - cont. de Elementos do Burlesco



2.5    Estereótipos 

O Capítulo 2 – Elementos do Burlesco – prossegue com o conceito de  Estereótipo (2.5), elemento que subvenciona uma das necessidades estruturais do Burlesco, a ideologia.

Em Lastro Conceitual (2.4.3), concluímos que comportamentos burlescos ocorrem na fronteira entre tudo aquilo que constitui um estado de coisas de uma realidade,  e de outro lado, tudo que designa ou exprime o estado de coisas dessa realidade, constituindo fenômenos, constituído e designado, explicados de forma abrangente pela psico – fisiologia, filosofia e  bio – genética.
Neste contexto, uma fronteira conhecida é constituída pelas suposições sobre a homogeneidade grupal e padrões comuns de comportamento dos indivíduos de um mesmo grupo social que geram crenças socialmente compartilhadas dentro de  uma categoria social. Estas crenças designam os Estereótipos, enfaticamente  mostrados  em traços psicológicos compartilhados entre os indivíduos de uma mesma categoria social. 
O protagonista burlesco que observamos nessa “fronteira” é calcado e orientado pelo espírito de uma realidade cultural e social específica,  que tende a reproduzir indefinidamente os mesmos totens lógicos com suas múltiplas máscaras ideológicas e  comportamentos controlados por fios como em um teatro de marionetes, embora pareçam atores experientes, que seguem com eficiência e arte, roteiros peculiares estruturados para dominar um espaço psicológico de confrontações de valores, de diferenças psico - sociais, de crenças políticas e de comportamentos.
Para tanto, utiliza-se de paródias e paradoxos, caricaturas e   farsas, realismo e imaginação. Atua como se fosse especialmente  predestinado a reproduzir finas e humorísticas caracterizações arraigadas dos comportamentos humanos, ideologicamente submissos à ordem  natural dos estereótipos, combatida por  Roland Barthes (1915-1980) como ”uma tarefa essencial, porque neles, sob o manto da naturalidade, a ideologia é veiculada, a inconsciência dos seres  falantes com relação a suas verdadeiras condições de fala (de vida) é perpetuada”. (ref.12) - Mitologias. Rio de Janeiro. Difel - (2006). A este autor atribuímos importância relevante no entendimento das Ideologias, considerado mais adiante neste texto.
Ilustrando o que foi dito, citamos abaixo alguns exemplos conhecidos de estereótipos, trazidos até nós através do marketing, da literatura, filmes, etc, certamente movidos por interesses  ideológicos dos países  citados ou em alguns casos, até por seus inimigos.
- os alemães, associados às guerras dos séculos 19 e 20 , adquiriram a fama de Militaristas;
- os ingleses ou bretões, vitorianos e  pretensiosamente, pasmem senhores, os “súditos” da Commonwealth  são considerados fleumáticos e educados,
- os espanhóis são um povo de sangue quente;  
Caricaturas, paródias, alusões,  farsas, metáforas, etc.,  fazem parte do acervo público para reforçar os estereótipos de um “estado de coisas” que  faz um povo rir e assimilar, para o bem ou para o mal.  
(Observação: neste ponto excluimos uma consideração heurística atribuida ao burlesco, sem prejuizo do objetivo deste blog)
O texto a seguir mostra a relação entre o  conceito de estereótipo e ideologias para os menos acostumados com a crítica literária e de costumes, e deixa boquiaberto principalmente o populacho tupiniquim,  acostumado a imitar tudo que vem de fora, sem entender-lhe propósitos e significados.
Kadota, Neiva Pitta (ref. 22) em “A Escritura Inquieta – Linguagem, Criação, Intertextualidade” - Estação Liberdade, 1999, reflete sobre os conceitos de Roland Barthes.(1915-1980), em “Elementos de Semiologia”, onde ele acentua a questão ideológica da língua, que  “nada tem de ingênuo em sua formulação... o que lhe permitiu estabelecer, e quase sempre manter, as diferenças entre classes sociais e os povos ditos superiores e inferiores...”, associada ao combate aos  estereótipos.
Kadota revela também o caráter contestador de Barthes em relação ã ideologia contida nos textos:  “É preciso, para fugir à ideologia que cerceia todo signo, trabalhar numa linha deformatória do texto anterior, praticar a anamorfose escritural. A anamorfose que se imprime à obra é, segundo Barthes, guiada  pelos constrangimentos formais dos sentidos”, ou seja, pelas alterações nela introduzidas e que poderão ser múltiplas (....), resultarão em uma outra fala, que tem algo mais ou algo novo a dizer, nunca, porém, o mesmo”.
Barthes trata os Mitos como forma de ideologia,  ferramenta de dominação burguesa, como veremos adiante, em Fundamentos Mitológicos (05.02).Sem esta pretensão, muitos usam e abusam  da ideologia para conseguir seus intentos. (j_nagado-04.04.2012)

rev. Parcial 07/072007
rev. Geral (nov/2009)

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