2.5 Estereótipos
O Capítulo 2 – Elementos do Burlesco – prossegue com o conceito de Estereótipo (2.5), elemento que subvenciona uma das necessidades estruturais do Burlesco, a ideologia.
Em Lastro Conceitual (2.4.3),
concluímos que comportamentos burlescos ocorrem na fronteira entre tudo aquilo
que constitui um estado de coisas de
uma realidade, e de outro lado, tudo que
designa ou exprime o estado de
coisas dessa realidade, constituindo fenômenos, constituído e designado,
explicados de forma abrangente pela psico – fisiologia, filosofia e bio – genética.
Neste contexto, uma fronteira
conhecida é constituída pelas suposições sobre a homogeneidade grupal e padrões
comuns de comportamento dos indivíduos de um mesmo grupo social que geram crenças
socialmente compartilhadas dentro de uma
categoria social. Estas crenças designam os Estereótipos, enfaticamente mostrados em traços psicológicos compartilhados entre os
indivíduos de uma mesma categoria social.
O protagonista burlesco que
observamos nessa “fronteira” é calcado e orientado pelo espírito de uma
realidade cultural e social específica,
que tende a reproduzir indefinidamente os mesmos totens lógicos com suas
múltiplas máscaras ideológicas e
comportamentos controlados por fios como em um teatro de marionetes,
embora pareçam atores experientes, que seguem com eficiência e arte, roteiros
peculiares estruturados para dominar um espaço psicológico de confrontações de
valores, de diferenças psico - sociais, de crenças políticas e de
comportamentos.
Para tanto, utiliza-se de paródias e
paradoxos, caricaturas e farsas,
realismo e imaginação. Atua como se fosse especialmente predestinado a reproduzir finas e
humorísticas caracterizações arraigadas dos comportamentos humanos,
ideologicamente submissos à ordem
natural dos estereótipos, combatida por Roland Barthes (1915-1980) como ”uma tarefa
essencial, porque neles, sob o manto da naturalidade, a ideologia é veiculada,
a inconsciência dos seres falantes com
relação a suas verdadeiras condições de fala (de vida) é perpetuada”. (ref.12)
- Mitologias. Rio de Janeiro. Difel - (2006). A este autor atribuímos
importância relevante no entendimento das Ideologias, considerado mais adiante
neste texto.
Ilustrando o que foi dito, citamos abaixo alguns
exemplos conhecidos de estereótipos, trazidos até nós através do marketing, da
literatura, filmes, etc, certamente movidos por interesses ideológicos dos países citados ou em alguns casos, até por seus
inimigos.
- os alemães, associados às guerras dos séculos
19 e 20 , adquiriram a fama de Militaristas;
- os ingleses ou bretões, vitorianos e pretensiosamente, pasmem senhores, os
“súditos” da Commonwealth são considerados
fleumáticos e educados,
- os espanhóis são um povo de sangue quente;
Caricaturas, paródias, alusões, farsas, metáforas, etc., fazem parte do acervo público para reforçar os
estereótipos de um “estado de coisas” que
faz um povo rir e assimilar, para o bem ou para o mal.
(Observação: neste ponto excluimos uma consideração
heurística atribuida ao burlesco, sem prejuizo do objetivo deste blog)
O texto a seguir mostra a relação
entre o conceito de estereótipo e
ideologias para os menos acostumados com a crítica literária e de costumes, e
deixa boquiaberto principalmente o populacho tupiniquim, acostumado a imitar tudo que vem de fora, sem
entender-lhe propósitos e significados.
Kadota, Neiva Pitta (ref. 22) em “A
Escritura Inquieta – Linguagem, Criação, Intertextualidade” - Estação Liberdade,
1999, reflete sobre os conceitos de Roland Barthes.(1915-1980), em “Elementos
de Semiologia”, onde ele acentua a questão ideológica da língua, que “nada tem de ingênuo em sua formulação... o
que lhe permitiu estabelecer, e quase sempre manter, as diferenças entre
classes sociais e os povos ditos superiores e inferiores...”, associada ao
combate aos estereótipos.
Kadota revela também o caráter
contestador de Barthes em relação ã ideologia contida nos textos: “É preciso, para fugir à ideologia que cerceia
todo signo, trabalhar numa linha deformatória do texto anterior, praticar a
anamorfose escritural. A anamorfose que se imprime à obra é, segundo Barthes,
guiada pelos constrangimentos formais
dos sentidos”, ou seja, pelas alterações nela introduzidas e que poderão ser
múltiplas (....), resultarão em uma outra fala, que tem algo mais ou algo novo
a dizer, nunca, porém, o mesmo”.
Barthes trata os Mitos
como forma de ideologia, ferramenta de
dominação burguesa, como veremos adiante, em Fundamentos Mitológicos (05.02).Sem
esta pretensão, muitos usam e abusam da
ideologia para conseguir seus intentos. (j_nagado-04.04.2012)
rev. Parcial 07/072007
rev. Geral (nov/2009)
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