Cassio Carvalheiro

quinta-feira, 19 de abril de 2012

2.6 Arquétipos, instintos e Individuação - (cont.2)


2.6 Arquétipos, instintos e Individuação -  (cont.2)

Universalidade
A relação pessoal, por exemplo, com o Arquétipo ou simbolismo do "Pai", do "Poder", é chamada de Complexo (originado no inconsciente pessoal), tal como o Complexo de Édipo, que a Psicologia  define como a “inclinação erótica  recalcada de uma criança pelo progenitor do sexo oposto, em virtude do conflito ambivalente com o progenitor do mesmo sexo, ao mesmo tempo amado, odiado e temido”. (“Aurélio”)
Assim, “Pai” tem função simbólica relacionada a algum poder, tal como o respeito imposto pelas regras, o receio de um DNA perversamente danificado, a (expectativa da) paternidade, o culto do macho (falo masculino), e outros simbolismos. Já o GRANDE PAI é um exemplo  de arquétipo junguiano, o “pai” coletivo comum na religião ocidental,  na figura de um grande Deus masculino que tudo vê.
 Igualmente, o inconsciente coletivo da humanidade, tem instalado, acima da função simbólica de Maria (ou da Deusa, ou da Imperatriz do tarô), o Arquétipo UNIVERSAL da Grande Mãe, uma instância psíquica que será representada por alguma deusa ou figura similar por um povo de qualquer lugar, mesmo se isolado.  
 “Essa parte do inconsciente não é individual, mas universal; em contraste com a psique pessoal, ela possui conteúdos e modelos de comportamento que são mais ou menos iguais em todos os lugares e em todos os indivíduos... O arquétipo é essencialmente um conteúdo inconsciente que é alterado ao
tornar-se consciente e ao ser percebido, e assume sua cor a partir da consciência individual na qual por acaso aparece”. (C.G.Jung - The Archetypes)

Tipos Psicológicos
Jung atribui a origem (cultural) da subjetividade ocidental moderna ao pensamento prevalente em nossa cultura, marcada pelo narcisismo, mania da razão, recusa da alteridade e incapacidade de simbolização, centradas no Ego,  onde a consciência acredita-se autônoma, livre de constrangimentos, não dependente de uma base inconsciente, e Jung propõe uma nova subjetividade (a individuação) com um processo de simbolização, subjetivo, resistente ao predomínio da razão, rico de ilimitadas possibilidades culturais. 
O inconsciente coletivo, base da individuação, é composto  fundamentalmente de uma tendência do indivíduo para sensibilizar-se com certas imagens ou símbolos que identificam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos, pré - disposições que nascem com o indivíduo para executar e simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras.
Entretanto, para Jung o Ego (a consciência) é submetido a focos de subjetivação (funções) – a sensação, o sentimento, a intuição e o pensamento, como disposição inata e também por influência da cultura, caracterizando tipos psicológicos, supostamente (aparentemente) livres daquela  base do inconsciente coletivo, e adquirem uma função de adaptação maior do indivíduo, quando o foco de subjetivação coincide com aquele da cultura (a moda, por exemplo)  para o indivíduo dominado pelo pensamento, no caso da cultura ocidental. Em geral o indivíduo identifica-se com um tipo psicológico conscientemente, deixando o outro na sombra, no inconsciente.

Comportamento burlesco  e individuação

arquétipos

Tendo em vista a individuação vamos propor uma explicação plausível sobre o comportamento burlesco nesse processo e para tanto voltemos aos termos que definem o processo: arquétipo, imagem, imaginação ativa, intuição, etc.
O arquétipo corresponde à apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que permite a ação e possibilita a vivência de novas situações.
Imagem é a forma da atividade associada a  situação típica em que é desenvolvida.
Intuição é a pragmática (voltada para a ação)  apreensão (idéia súbita ou premonição) inconsciente   de uma situação altamente complicada, análogo ao instinto que é o  impulso pragmático para levar a cabo alguma ação altamente complicada.

aparência das coisas
Consideramos, anteriormente, que comportamentos burlescos (explicados de forma abrangente pela psico – fisiologia, filosofia e  bio – genética) ocorrem na fronteira entre tudo aquilo que constitui um estado de coisas de uma realidade,  e de outro lado, tudo que designa ou exprime o estado de coisas dessa realidade, constituindo fenômenos, constituído e designado.

Por analogia, consideramos que no inconsciente, o arquétipo corresponde à apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que permite a ação e possibilita a vivência de novas situações, aquilo que “constitui um estado de coisas de uma realidade”. E por outro lado, a  imaginação ativa, acaba por personificar a tendência de “tudo que designa ou exprime esse estado de coisas”. Na fronteira da imagem do instinto com a personificação das tendências está o significado burlesco, a aparência das coisas, que o indivíduo internaliza (e transforma) como essência própria das coisas e que termina por aflorar em atos burlescos ou catalisadores de  alguma forma de reação destinados a resolver estados (mormente psicóticos ou neuróticos)  deduzidos dessa aparência.

Uma vez  integrado ao ambiente psico - social o ser indivíduado adquire personalidade, direcionando suas atitudes e comportamentos aos propósitos construídos especialmente para esse ambiente, nessa batalha pessoal em que tentará validar  sua individuação.
Contribuições
A individuação como fonte de humor, agrega contribuições seja pelas considerações sobre “focos de subjetivação”, “traços de subjetividade”, “tipos psicológicos”, “simbolizações” ou  pelos temas que explora (como  “Sacrifício”,  “criação de valores”, seu aspecto lúdico, etc),    que Jung, Freud e outros pesquisadores da psicologia e da psiquiatria acrescentam como valor propedêutico  ao Burlesco.

O burlesco procura explorar cada situação em todas as suas dimensões, procurando devassar o  pensamento ou ato mais escatológico dos seus personagens, expor-lhes vontades, frustrações e irritações,  ou o fatalismo ou o determinismo de reações criadas pela imaginação ativa perante situações onde a insensatez ou a morbidez típica do gênero humano, originada no inconsciente,  acaba predominando.
Personagens criados pela “imaginação ativa” exteriorizam arquétipos diversos junto das fronteiras onde colam suas imagens em situações como:

- Na intimidade de um quarto de hotel a noiva impaciente guarda seu “Herói” que vem resgatar o mito da  virgindade desfeita no ato sexual (pela enésima vez),  ou talvez o “guerreiro sagrado”, seu Don Quixote que vem perpetrar o seu cavalheiresco ataque.
-Na sala de reunião, corruptos políticos e assessores, com os bolsos, cuecas e meias, repletos de dinheiro da corrupção,  oram em agradecimento a seu benfeitor. Esta cena, com fotos registradas em jornais lembra o arquétipo de origem árabe: Ali Baba (e os quarenta ladrões)

Comentário final
Encerramos este capítulo – Elementos do Burlesco – uma introdução de conceitos básicos seja para dar suporte à estrutura que iremos utilizar seja como referências para comportamentos que serão explorados nos estilos burlescos
j_nagado – 19.02.2012 

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