Cassio Carvalheiro

quarta-feira, 29 de maio de 2013

POST – 007.2013 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS – (Parte 5.4)

POST – 007.2013 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS 
(tertúlia domingueira)

5.4 OXÍMOROS

Considerando esse introito vamos estabelecer a  conexão  entre o oxímoro e o pensamento   dos Pré-Socráticos, mormente de Heráclito, sem “enrolations”.
A língua alemã   

Um interessante ensaio literário (preciosidade) diz que em "Hegel poeta" Haroldo de Campos , nos textos de Fenomenologia do espírito, identifica no estilo hegeliano, uma associação entre “ambigüidade formal e conteudística”, o que seria uma característica da poesia.

O texto de Haroldo de Campos explica a constituição plurissignificativa dos conceitos de Hegel pelo uso de "palavras-oxímoros" da língua alemã, que contêm simultaneamente um significado e o seu oposto, a forma de “exploração metafórica e metonímica” de significantes que revelam a natureza questionante do texto hegeliano. (Como exemplo, citado por Haroldo, de Aufhebung, do verbo aufhben, que quer dizer tanto "abolir" quanto "preservar").
Ref. Alea : Estudos Neolatinos - Alea vol.8 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2006 - Da idéia ao texto: uma digressão “filopoetosófica” – Antonio Andrade

Antítese e Oxímoro

A Antítese e o Oxímoro são figuras de linguagem a serviço da construção de idéias contraditórias.
A antítese em oposição a uma tese , subsidia significados pertinentes ao contexto ou domínio analisado, seja na poética, música, filosofia política, etc. A síntese, nesse contexto, se coaduna com o sentido de unidade (ideologia), harmonia (música) e outros significados próprios de cada contexto.
A Antítese atribui uma contradição explícita através de dois sentidos distintos. (A/B).
O Oxímoro, estabelecendo a ligação de duas imagens aparentemente excludentes, representa  uma intensificação especial da Antítese.
O Oxímoro (ou Antilogia) é  uma forma de antítese lúdica e paradoxal, que atribui a uma dada expressão, dois sentidos (A e B) teoricamente incompatíveis.
Isto significa que (A) não só é negada por (B), como também, e simultaneamente, se pretende impor a afirmação dessa mesma negação, instaurando uma “realidade terceira” que funciona como termo dialético da síntese e que ultrapassa o puro movimento de afirmação e negação.
(Ref. Google: Guilherme Ribeiro – Recursos Estilísticos – Antítese – Oxímoro – Paradoxo)

Vejamos alguns exemplos de oxímoros:

Camões

“O amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente”; (Camões)
Tentando responder   racionalmente o que é o amor, o poeta (Camões) afirma uma propriedade do amor (arde sem se ver) e  em contrapartida surge sua negação ( é ferida que doi e não se sente).  Nesse caso, perante esses contraditórios, a síntese corresponde a indagação não respondida.


Shakespeare

Em “A Linguagem de Shakespeare” , Frank Kermode; tradução de Barbara Heliodora – Rio de Janeiro: Record 2006,  o autor cita o uso dos seguintes oxímoros (pgs. 32, 152, 168): “nobre servo”, “alegria derrotada” e “ardilosa loucura”. O primeiro oxímoro foi utilizado em “Coriolano” e os dois outros em “Hamlet”.

Considerando a objetividade deste texto destaco os comentários sobre o oxímoro “nobre servo”, apanhado na fala (texto) em que Aufidius medita sobre sua preocupação e desconfiança com relação  ao atual aliado Coriolano, seu antigo inimigo.

...”Primeiro ele foi / Um nobre servo para eles (romanos), porém não foi capaz/ De arcar com equilíbrio suas honras./...”

Trata-se do dilema de Aufidius, a quem o “nobre servo” representa um misto de  respeito, afeição  e inveja, asseverando sua dificuldade para assumir uma posição a respeito da superioridade hierárquica de Coriolano.

O texto ressalta a natureza e  riscos de poder e equanimidade dos atos de Coriolano, em  reticentes pensamentos de Aufidius, ameaçadoramente obscuros e destituidos de uma base retórica.

Segue-se uma série de tentativas de explicação, utilizando-se Shakespeare  de sinédoques, hendíade e metáforas como recursos criativos  para simular o movimento do pensamento, nisto  reconhecendo-se o pensamento de Heráclito. (“tudo flui”)

Entre as várias explicações, a síntese: “... basta um (defeito) para explicar seu destino, e mesmo assim é difícil alguém falar deles, sendo tão grandes as suas virtudes”.

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Gostaria que alguém explicasse tanta profundidade. (j.nagado)
(José Nagado - 28.05.2013)

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