Cassio Carvalheiro

quinta-feira, 19 de julho de 2012

HAICAIS E O BURLESCO - introdução

HAICAIS E O BURLESCO - Introdução


Gostava muito dos Hai-Kais que o Millor Fernandes publicava na extinta revista semanal “O CRUZEIRO”, nos idos de 1957.No ano (2000), numa loja de Conveniência de um posto de gasolina, encontrei um livro de bolso, cujo título logo me chamou a atenção. Adivinhou: “HAI-KAIS” do próprio. Millôr Fernandes. (Coleção L&PM Pocket vol.27 – 1999). Foi nesse livro de bolso que vi, pela primeira vez, informações e prescrições básicas do Haicai.
Na “pequena introdução para os não iniciados” em Hai-Kus ou Hokkus, para os japoneses ou Hai-Kai, escrito com K, grafia preferida e utilizada por Millor, conheci as principais características dessa forma de poesia simbolista originária no Japão,  da época da sua popularização (século XVII), seus temas e composição. “O Hai-Kai é um pequeno poema japonês composto de três versos: dois de (5) e um – o segundo – de (7) sílabas. No original não tem rima, que geralmente lhe é acrescentada nas traduções ocidentais”. (sic)
Nessa  época cheguei a pensar que eu (e o Millor) era a única pessoa a se interessar por Haicais. Porém, logo descobri amigos e pessoas que conheciam grupos de criadores de Haicais, principalmente gente mais velha da colônia japonesa.

A seguir alguns aspectos do Haicai citados no livro :
Haikai – Antologia e História
Paulo Franchetti, Elza Taeko Dói e Luiz Dantas
Editora da Unicamp – (1996) – Campinas - SP

A evolução waka / renga / haikai
Waka: nos séculos X a XVI,  poesia japonesa; sinônimo de tanka, sua forma por excelência.
Tanka: Estrofes de terceto (5 – 7 – 5) e dístico (7 – 7). A relação entre as estrofes raramente apresenta um nexo lógico
Renga: sequência (longa ou curta)  de estrofes (terceto / dístico); atividade palaciana  com inúmeras regras das quais as mais importantes referem-se à estrofe mais longa (hokku). Vigentes ainda hoje para aquilo que é conhecido como haikai (haiku). O encadeamento das estrofes enfatiza a beleza desse tipo de poesia.
Sua complexidade deu origem ao popular haikai-renga, de versos ligados “cômicos”, divertidos, informais.
Bashô (1644-1694) consegue dar ao haikai o estatuto de “gênero diferente e autônomo, em que o pessoal e o impessoal, o alto e o baixo, o elegante e o grotesco compõem um mesmo mundo, cheio de sentido e de vida”.

Era Tokugawa (1603 – 1867): grande estabilidade social e quase total isolamento face ao resto do mundo. Mestres do haicai: Bashô (1644 – 1694);  Buson (1716 – 1783); Kobayashi Issa (1763 – 1827) 

Era Meiji (1867 – 1912): era da Integração ou confronto do Japão antigo com o Ocidente.
Masaoka Shiki (1867 – 1902). Criador do termo haiku (HAIkai-hokKU),  separado  do poema coletivo, o renga. O haiku passa a  ser considerado literatura, dependente de contextualização  para sua interpretação.


Como arcabouço de composição, além dos versos de 5-7-5 sílabas, o Haicai valoriza a chamada composição por justaposição, para sugerir ao leitor, através de versos que se somam  para obter no terceiro, uma amplidão maior de uma sensação, sem que essas partes constituam um poema  de “sentido fechado”, isto é, em que a idéia seja completa.


O Haicai tradicional tem características bem definidas desde sua origem (hokku) na poesia do Japão, identificados como “poemas de estação”, isto é, poemas reconhecidos pelo uso obrigatório dos “kigo”, palavras associadas à   estação  em que se compõe o haicai.


O livro trata da questão ética e estética no Haikai sob os aspectos filosóficos do Budismo e do Confucionismo, considerando: "No Japão como na China, as questões éticas, religiosas e estéticas são frequentemente as mesmas questões". 
Paulo Leminski (1944 – 1989), na esteira do interesse e divulgação do Zen budismo (1960) promoveu a leitura mais recente do haikai no Brasil.
Ezra Pound (1885-1972) valoriza no haikai a composição por justaposição, em que a relação entre as partes é de natureza metafórica. Sua reflexão sobre a poesia e escrita chinesa influenciou o movimento da Poesia Concreta.

Eliminado o artificialismo, ostentações técnicas, julgamentos preconceituosos, e sentimentalismo vazio preconizados pelo Haicai, fica o conceito básico de que o Haicai   “É antes a arte de, com o mínimo, dizer o suficiente”. 

Os haicais a seguir, representam um pequeno painel obtido com esse tipo de poemeto. Nossa perspectiva na composição de Haicais destaca o aspecto de mudança comportamental, visado também pelo Burlesco. (j_nagado - 19.07.2012)

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