TRIBUTO AO NEVES
TAN 05.08.01 SAIL: C.Drumond de Andrade?
O texto a seguir, atribuído a CARLOS DRUMOND DE ANDRADE, provocou alguns dos Confrades da SAIL a questionar sua autoria. O Neves, sempre atento, comenta.
Mais um
Carlos Drummond de Andrade: Satânico é meu pensamento a teu
respeito...
Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu
desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que
me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama,
quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no
meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente
indiferença,aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu
durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças
de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!
Re:
QUEM SABE ESCREVER É OUTRA COISA
Para José Nagado, jaymerosa@terra.com.br,
nicanordefreitas@gmail.com, IDIR Martin, Breno Vianna
Nagado
Belo e surpreendente final do texto. Um pequeníssimo detalhe
me deixou a dúvida de que o texto seja inteiramente do Drumond, ou se houve
alguma interferência de terceiros:
..."Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo".
Em todo o poema ele usa os pronomes na segunda pessoa
do singular (tu, teu, te, ti,contigo) e aqui ele utiliza a terceira pessoa
(seu), no lugar de (teu) - no caso, a licença poética é desnecessária -,
saindo do íntimo para um tratamento mais formal. Esse desvio não é comum
em Drumond, que preza pela boa concordância. Mas, os gênios também podem
ter seus desvios.
Abraços
Neves - 22/12/12
Retrucando..
Menos pragmático, o Nagado lembra a liberdade dos concretistas.
Caro Neves
Comentários sobre o texto de Carlos Drumond de Andrade podem
surpreender incautos da crítica literária quando levados apenas pelo prazer da
descoberta de erros gramaticais, paternidade e até na intertextualidade,
craveiras tradicionais da estatura literária dos nossos acadêmicos.
Concretista (como Ezra Pound, Mayakowski, T.S. Eliot),
C.D.A mostra seu humor nesta prosopopéia usando e abusando do tom
coloquial de confidência durante o texto, para realizar concretamente (e sem
dúvida), a quebra daquele tom coloquial, com uma mudança do tratamento pessoal
utilizado no texto, de “teu” para “seu”.
Caro Neves, este comentário iria desaparecer em meio ao
turbilhão de um final de ano com festas e uma viagem para Natal (após o
Natal). Espero que os pernilongos de Natal sejam mais camaradas que
aqueles que infernizaram o C.D.A.
Agora preciso sair para jantar com meus filhos, netos e
minha filha Letícia que ...
Até mais.
Abraço
Nagado (22.12.2012)
(CONTINUA
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