Cassio Carvalheiro

quinta-feira, 16 de março de 2017

B&F – 004.2013 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS E O BURLESCO


 B&F – 004.2013 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS E O BURLESCO

Neves
Seu e-mail obrigou-me a reler tudo que havia lido sobre os Pré-Socráticos, para recuperar o motivo de ter-me referido a eles com o adjetivo "Histriônico", na verdade, "Profundidade Histriônica". 
Seriamente falando, os pensamentos dos Pré-Socráticos produzem uma  sensação leve e superficial de pensamentos tornados obsoletos pelo aprofundamento invasivo de filósofos pósteros. Em sua defesa, considero que os Pré-Socráticos foram autênticos em seus pensamentos, retratos temporais da imagem cosmológica daqueles pensadores. 
"Profundidade histriônica" nos lembra o oxímoro então criado naturalmente, com a "profundidade" de uma razão atemporal e uma aparência "histriônica" superficial, craveira atribuída aos Pré-Socráticos, por aqueles que se julgaram aptos a avaliar aqueles pensamentos. Esta foi a minha justificativa para "Profundidade histriônica", que se transformou num texto escrito em (2011) levemente modificado agora, para responder ao caríssimo Neves.

Profundidade histórica
A pesquisa epistemológica sobre o “Burlesco” envolveu-nos com a (ir)responsabilidade de adquirirmos um conhecimento (burlescamente)prático em relação à filosofia ocidental, obrigando-nos a adotar alguns critérios para joeirar textos e filósofos de acordo com os  objetivos da pesquisa.
Para isto, reconhecemos desde o início, a necessária distinção entre o mítico, ou mito-poético, e o conhecimento racional, desfazendo-nos  de  qualquer tentativa sensacionalista (farsa) de associar os primeiros pré-socráticos, desde Tales, da proximidade intelectual com o cientista moderno, e o afastamento das idéias de profetas e videntes de tradições gregas mais antigas.

Critérios (burlescabilidade, rsrsrs)

a)Em primeiro lugar, tivemos que nos precaver contra o filosofismo excessivo, refutando   idéias por vezes interessantes (para não dizer engraçadas)  mas não alinhadas com um “devir” evolutivo do (pensamento) burlesco (por causa deste critério, mais cacetadas estão “porvir”).

b)Em segundo lugar, tivemos que refutar tanto evoluções (positivas ou negativas)  como também deturpações,  de  doutrinas ou proposições filosóficas (e científicas) significativas para a história da filosofia   (e das ciências), mas insignificantes para o (pensamento) burlesco.

Proposições de alguns Pré-Socráticos

 1.Thales de Mileto (625-558 a.C) - “a água é a origem de todas as coisas”- “Os ímanes têm alma, porque consegue mover o ferro”.

2. Pitágoras, (580 – 497 a.C) – acreditava que  arbustos, feijões têm alma.
         
3. Heráclito, (540 – 490 a.C) – “tudo era feito de fogo”; a “metafísica de Heráclito”, para falar da sua doutrina do estado do fluxo.

4. Anaxágoras ( 500 – 432 a.C) - várias substâncias diferentes compunham a totalidade do espaço existente. Cada elemento constituinte seria, portanto, fundamental em si mesmo e a matéria constituída pela combinação desses elementos era infinitamente indivisível.

5. Zenão de Eléia  (490 – 430 a.C)- Apresentou um conjunto de paradoxos para mostrar que nada pode mover-se.
6.Demócrito (460 – 370 a.C)- indivisibilidade dos átomos

(Sócrates viveu entre (469-399 a.C); portanto , alguns  Pré-Socráticos foram seus contemporâneos).

Critérios adotados - Exemplos

Critério (a)
As idéias filosóficas dos Pré-Sócráticos foram apreciadas  em épocas posteriores por outros filósofos como Aristóteles, por exemplo, que comentou com certa benevolência irônica o “princípio da água” e a “existência da alma”, segundo Tales de Mileto. (ver nota 1)
Nota 1.
Ao não se conformarem com as explicações tradicionais dos mitos gregos, cuja ordem do mundo dependia da vontade dos deuses, demonstram sua confiança na capacidade da razão humana e se dedicavam a explicar a realidade material da natureza. Como compartilhavam de uma mesma preocupação, esses primeiros pensadores  são chamados também de “físicos”. (derivado de physis, que em grego, significa “natureza”). Para eles tudo que existia derivava de um elemento físico primordial. 

Embora não existam fragmentos da obra de Tales, seu pensamento pode ser conhecido a partir da "Metafísica", obra do também filósofo grego Aristóteles.

Segundo historiadores,
Diógenes Laércio, Simplício e principalmente Aristóteles (Metafísica), Tales foi comerciante e conquistou recursos suficientes para dedicar-se a suas pesquisas no Egito e Babilônia, onde,  em contato com astrônomos e matemáticos deve ter recolhido informações para seus teoremas   da matemática, e fundamentos de geometria e astronomia.

Critério (b)
Foram refutados enunciados ou proposições filosóficas dos Pré-Socráticos, como por exemplo  sobre a “indivisibilidade dos átomos” (Demócrito),   que acabou por ficar como um legado para a posteridade, exatamente pela idéia da “não indivisibilidade do átomo”, comprovada nos tempos modernos. Dizer-se que Demócrito teria antecipado a teoria atômica moderna é um momento histriônico na Filosofia dos Pré-Socráticos. (ver nota 2 – Profundidade histriônica)
Nota 2 - Profundidade histriônica
Os enunciados pré-socráticos de forma geral atenderam ao critério (a) ou (b) ou ambas, e, quando tratados por outros filósofos  o foram para defender suas próprias idéias filosóficas.
Tales(625-558 a.C)
Assim pretenderam, por exemplo:

Hegel (1770-1831): “A grande crítica hegeliana ao pensamento de Tales está em afirmar a água, que é algo singular, como um universal. Hegel busca a unidade, mas segundo este isso se dá no fenômeno da consciência”.
Nietszche (1844-1900) – crítica ao pensamento filosófico, atrelado aos grandes enganos da civilização ocidental:  religião e a ciência.

Heráclito (540 – 490 a.C)
Hegel, influenciado pelo pensamento de Heráclito afirmou: “Não existe frase de Heráclito que eu não tenha usado em minha Lógica.” Marx (1818-1883) e Darwin(1809-1882) eram seguidores de Heráclito. Marx, admirador de Darwin, foi hegeliano na juventude. Essa relação se torna ainda mais intrincada com a afirmativa surrealista de um pretenso (e pro fundo) cientista político: A noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo”.(!!)
Heráclito interpretou a realidade tendo como princípio o devir - “ Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”.
Gostaria que alguém explicasse tanta profundidade.

Conclusão 

Os Pré-Socráticos, cosmologicamente  afinados com o momento histórico, ganharam certa “Profundidade histriônica” ,  quando cérebros ineptos procuraram se apropriar de suas  idéias originais,  agregando-lhes interpretações próprias.

José Nagado (08.03.2013)

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