Cassio Carvalheiro

domingo, 24 de maio de 2020

TAG 5 - MC 020 - CORONA VÍRUS - J.C NEVES



TAG 5 - MC 020-CORONA VÍRUS (JCNEVES)

https://licburlesco.blogspot.com/2020/05/tag-5-mc-020-corona-virus-jc-neves.html


J.C NEVES  é novo cronista do nosso blog CFR-
CONFRARIAS DO RISO.

(Escritor, dramaturgo, cronista.
Participações no CFR : crônicas e ensaios.
Destaques: Tributo  a JCN. Prêmio Parmenides.
Participante da SAIL.
Brevemente: dados biográficos de JCN



CORONAVÍRUS – O PRÍNCIPE DAS TREVAS


Num Reino distante, o mais habitado deste planeta,
Nasceu invisível Príncipe, da mais sombria faceta.

De pais, a princípio, anônimos, depois, c onhecidos
De pronto aterrorizou o reino de súditos aturdidos.

A começar pela cidade natal, cresceu rapidamente;
Alastrou-se pelo país; chegou à capital, lentamente.

De lá, para o mundo; em detê-lo, a tentativa foi vã,
Lembrando as ferozes conquistas de Gengis Khan.


Invisível, cruzou a Grande Muralha de toda Ásia,
Para estender-se desde esse continente até Eurásia.

Como cristalina e imperceptível onda de vento,
Invadiu os continentes, sem um só impedimento.

Em sua silenciosa fúria, mostrou-se democrático;
Não escolheu ricos nem pobres; nisso foi enfático.

Entrou em países antigos e de riquíssima História;
Não esqueceu dos pobres, sem tradição nem glória.


Como diabólico, ardiloso Mefístoles, no “Fausto”,
Esse Príncipe das trevas ataca o corpo, já exausto;

Traiçoeiro, aproveita-se de outras enfermidades;
Não perdoa todos que já têm baixas imunidades.

Ninguém pode tossir ou espirrar e, sequer, pegar!
Proibidos o beijo, o abraço e nem a mão apertar!

Uma distância métrica, não vá alguém ter contato
Com outro ser humano; perigo de óbito ao nato!


Tão funesto príncipe, pensou em nascer invisível,
Mas, a tecnologia tornou sua vontade impossível.

Pequenos chifres, tal como esférico astro coroado,
Não gira no espaço, viaja de carona, o malvado!

Com muitas artimanhas, ataca quem o carregou,
Vai-lhe direto ao pulmão, que não mais respirou.

Covarde! Ignora crianças e jovens; só velhinhos!
É preciso equilíbrio etário; morte aos coitadinhos!


Implacável, tal como Àtila, dito flagelo de Deus,
Invade países e povos, não vê religiosos ou ateus.

Leva morte e desordem e, até as grandes nações
Se rendem ao seu poder de caos e de destruições.

Sarcástico e pedante, define-se superior ao ebola;
Humilha outros vírus e sorri da gripe espanhola.

É soberbo e faz ameaças de forma rude, enfática;
Gaba-se de tornar insignificante a gripe asiática.


Na longa caminhada, é imparável e prepotente;
Ignora os solitários; prefere atacar muita gente.

Primeiras vítimas são feitas de maneira gradual,
Mas logo aparece em crescimento exponencial.

Em pequenos países, morrem centenas aos pares;
E, nos mais poderosos, vão a óbito aos milhares.

Por onde passa, ameaça causar o estrago do tifo;
Não poupará mansões e nem o humilde muquifo.


Megalomaníaco, não se importa em ser horrível;
Nas estepes russas, a desafiar até Ivan, o terrível!

Esvazia ruas e dachas moscovitas, ameaça Putin;
Invoca a grande Catarina, mas condena Rasputin.

Invade aquele que foi o grande Império Romano;
Ataca o saladino árabe-persa; adoece o Otomano.

Sua sede de poder não tem limites e nem estagno;
Domina um império como o de Alexandre Magno.


Vaidoso, não quer comparar-se a surto ou endemia;
Só aceitará cetro e monárquica coroa da pandemia.

Desdenha das históricas pestes, da dengue e zika;
Se lhe apontam lepra e o cólera, faz grande futrica.

E, desafiado com a letal febre amarela, já vencida,
Dá de ombros e, cruel, diz ser pior que talidomida.

Comparado à febre amarela, peste negra, influenza,
Até a gripezinha; possesso, responde: que se benza!


Analogias, dignas dos 4 Cavaleiros do Apocalipse,
Nelas, indignado, este Príncipe não aceita ser elipse.

Recusa ser coadjuvante na história contemporânea;
Exige ser o protagonista, já, de forma instantânea!

Percorre, então, o Planeta, a comandar a sua tropa;
Cruza mares e continentes, desde a Ásia à Europa.

Não respeita países, dos mais ricos aos mais pobres,
Deixa todos de joelhos, do plebeu aos mais nobres.


Sua empáfia pode até não corresponder à realidade,
Pois guerras e pandemias tiveram maior letalidade

Do que terá este Príncipe, frente à nova tecnologia;
Mas causará danos imensuráveis à atual economia.

Governos de todos os países esquecem crescimento;
Para evitar o contágio, decretam social isolamento.

É restrito o direito de ir e vir da casa, trabalho, casa;
Param as cidades e o mundo, em visão de terra rasa.


Por onde passa, o Príncipe espalha medo e incerteza;
Separa famílias, desenvolve egoísmo, cruel aspereza.

Transportes restringidos, quase lockdown em fatos;
Governos aconselham a lavar as mãos, como Pilatos!

Países de alto desenvolvimento caem na ribanceira;
As cenas de caos, como em “Ensaios da Cegueira”.

Povos, em pânico, lembram as dez pragas do Egito,
Rezam para que tão sombrio vírus não passe de mito.


Nações fecham fronteiras, não entra ou sai ninguém,
Precisam saber aonde o vírus vai e de onde provém.

Patrimônios políticos, em poucos dias se esfacelam;
Carisma e alta competência, em outros se revelam.

Terceira idade, isolada, não recebe filhos ou netos;
A saudade mútua reclama por um abraço e afetos.

Cancela atividades sociais e de fins fisioterápicos;
Consome a sua solidão em pensamentos erráticos.


Todos em confinamento, exceto serviço primário;
O sistema social não pode parar, sair do ordinário.

Bravos seres a conectar o mundo com os isolados,
Garantem abastecimento, a todos os emparedados.

Atrás de máscaras; não há bandidos e sim heróis!
Exércitos da saúde com esperança, luz, quais sóis.

Arriscam as vidas para que nós fiquemos a salvo;
Muitos são vitimados, ao interpor-se, qual um alvo.


Epicentros da vez, países e cidades em alternância;
Vitais recursos hospitalares em crescente vacância.

O poder econômico atropela os de menos recursos;
Oportunistas de plantão enriquecem nos percursos.

Nas redes sociais, sobram alarmistas e milagreiros;
A criar correntes golpistas, são sempre os primeiros.

Mas, da crise, brota solidariedade ao vivo; e é real!
Comunidades se unem em doações de cunho social.


Antes, corríamos a casa para fugir à delinquência;
Agora, escapamos de casa para fugir à demência.

Antes, ermitões buscavam grupamentos humanos;
Agora, escapamos deles; somos ermitões urbanos.

Na batalha contra inimigos, no olho, invisíveis,
Criamos lendas e mitômanos de forças incríveis.

Deuses e diabos acham guarida no maniqueísmo;
Interpretam o que é o bem e o mal, com egoísmo.


Estamos na semana da Páscoa, da Ressurreição;
Igrejas e templos fechados evitam aglomeração;

A cristandade se ajoelha, ao ver o Papa, solitário,
Caminhar sob chuva e frio, num quase calvário.

Há que transmitir sua Urbi et Orbis ao rebanho;
Não há vírus que o arrede de um dever tamanho.

Seu exemplo é ecumênico, independe de religião;
Reaviva crenças espirituais; ver no outro, irmão.


Fica o recado deste escriba ao Príncipe matreiro:
Não temos medo da tua cara feia e de arruaceiro.

Poderás até ganhar algumas batalhas nesta Terra,
Mas jamais serás capaz de ganhar esta Guerra.!

Outros vírus letais atentaram contra a humanidade;
E, cedo ou tarde, todos vencidos em sua maldade.

Separados, é estarmos juntos; te poremos em brasa;
Para derrotar-te, nos bastará que fiquemos em casa!


JCNeves - 08/04/2020

2 comentários:


  1. J.C. Neves estreia no CFR com a tragédia da pandemia do Covid 19, mostrando toda a picardia do prosador em versos rimados, mostrando, de início, uma ironia metafórica do Genghis Khan transformado no terrível vírus que veio dominar a Terra.
    A pandemia criada por esse vírus, comparada no seu trajeto, com outras terríveis doenças que já grassaram a terra, modificou comportamentos, aterrorizando países, pessoas, personalidades, e autoridades.
    Dá um frio na espinha ler todo o macabro texto do amigo JCNeves. Leia!

    Nota:
    O baixo clero (baixíssimo), explodindo com as suas dívidas com o Altíssimo, reclamou:
    Esta benção Urbi et Orbi, inédita e excepcional desta sexta feira, 27 de março de 2020 foi dada pelo Papa Francisco devido à pandemia da Covid 19, como exigência da Indulgência Plenária, rito da Penitenciária Apostólica.
    O Príncipe das Trevas desafia:
    “Até a gripezinha; possesso, responde: que se benza!”
    (j.nagado – 04.06.2020)

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  2. Re: Crônica: Corona Virus de JCNeves

    Você respondeu em Qui, 25/06/2020 09:47
    Idir Martin
    Seg, 22/06/2020 17:13
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    Favor encaminhar ao amigo Neves. Parece que não consegui enviá-lo diretamente.
    Cada um de nós já tem vários amigos ou familiares para chorar nesta pandemia. Ao lado dos exageros da mídia e de algumas ideias malucas de diminuir o número de vítimas diárias da Covid 19, para parecer que estão diminuindo, você faz um relato bonito e poético de sua complexidade.Parabéns.
    Idir Martin

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