Cassio Carvalheiro

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

CONFRARIAS DO RISO – Concurso: “REVELANDO ESTEREÓTIPOS” – Parte 3: “USOS de ESTEREÓTIPOS”




CONFRARIAS DO RISO – Concurso: “REVELANDO ESTEREÓTIPOS” – Parte 3: “USOS de ESTEREÓTIPOS”
 https://licburlesco.blogspot.com/2018/12/confrarias-do-riso-concurso-revelando_13.html
A seguir, iremos expor alguns estereótipos revelados em postagens feitas no blog Confrarias do Riso.

Estereótipo
Muito usado no humorismo, é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação, baseados quase sempre em padrões usados para definir e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade.
Usado como manifestação de racismo, xenofobia, machismo, misandria, intolerância religiosa e homofobia, é mais aceito quando manifestado sob este tipo fantasiado de estereótipos, motivando suas vítimas a se sentirem obrigadas a participar da distorção de sua própria imagem.
Sua utilização é explicada para descrever a simplificação que fazemos do mundo e das pessoas a fim de facilitar a nossa compreensão destes. Uma semântica psicológica, de acordo com as ciências sociais.

Alguns Tipos básicos de Estereótipos:
- de gênero,  sociais e étnicos, sócio econômicos, profissional,  opções, mundo da estética, nerds (inteligência)

1.Estereótipos – Uso no Cômico, no Humor e no Chiste

Abaixo incluímos alguns exemplos de estereótipos, bastante conhecidos, para caracterizar os modelos do Cômico, do Humor e do Chiste, conforme protocolos (lógico, ideológico e comportamental) utilizados na estrutura do Burlesco.

1. Sandálias Havaianas - no ponto de venda: (cômico)
Alguns argentinos e brasileiros discutem sobre quem seria mais "engraçado", brasileiros ou argentinos?
Entretanto, um dos argentinos pergunta ao atendente da loja se não teria sandálias Havaianas estampadas com a bandeira Argentina. O atendente não consegue parar de rir e os brasileiros finalmente concordam: os argentinos são mais engraçados.
Pessoalmente, vejo nessa propaganda, um quase símbolo nacional representado pelo produto (sandália), ameaçado de ser "manchado" por um símbolo argentino (a bandeira). Ridículo, bizarro, impossível!

2. Carro Fox - dentro do carro (humor)
Um rapaz, supostamente gay, confessa, depois de 5 anos de relacionamento, ao seu parceiro, que ele não é brasileiro, e sim argentino (impossível não saber pelo seu sotaque inconfundível), ao que o parceiro brasileiro, sem dar a menor importância ao que o outro falou, responde com uma pergunta: Tudo o que precisávamos para o churrasco coube no carro? E o vídeo corta para a enorme quantidade de coisas que cabem no carro.

Aqui eu detecto uma reconciliação das culturas nacionalistas brasileira e Argentina, quase sempre antagônicas. Não importa se um é brasileiro e o outro é argentino; o que importa é que estão juntos, ainda que pareça ter sobrado uma ponta de inocência para o argentino, ao imaginar que o outro não sabia da sua nacionalidade.

3. Coleção de autores brasileiros, portugueses e hispânicos em geral (acho que era da Folha). (chiste)
Um peruano, um português e uma "mãe" argentina revelam seus estereótipos:
O português queixa-se das anedotas habituais;
O peruano queixa-se de que só aparece "tocando su flautita";
E a "mãe" argentina queixa-se de que "y yo....(levanta-se após longo silêncio)...más respeto, por favor".
É cruel, mas sutil e sublime.


(cont.)

2.Estereótipos - identificação do Mito -  Ideologia

No “Burlesco”, em “Estereótipos e Barthes”, registramos que o filósofo-semiólogo Roland Barthes (1915-1980) formalizou, no âmbito do “Estruturalismo”, a ideia das “mitologias” que nos são transmitidas como “ideologias” pelos veículos de comunicação e frequentemente adotados como padrões pelo povo ignorante ou desavisado. 
Este conceito de Ideologia associado ao de Estereótipo pode ser visto pelo leitor na série de postagens – Estereótipos e Barthes, como no link:

TAN 00.11.02 – ESTEREÓTIPOS E BARTHES – final
https://licburlesco.blogspot.com/2018/02/tan-001102-estereotipos-e-barthes-final.html

A importância dos “Estereótipos” foi justificada na formação da estrutura do Burlesco com base na definição de Barthes, em relação ao uso dos chamados “mitos” (ou falas) como formas de aplicação de “Ideologias”, pelo Poder. Lembramos que os Fundamentos “Lógicos”, “Ideológicos” e “Comportamentais”, são os Fundamentos basilares da estrutura que definimos no “Burlesco”.



Barthes – figuras de expressão

Barthes usou sete figuras de expressão para esclarecer aquela afirmação (“o mito é uma fala”) em suas “Mitologias” (2003).  

Exemplificamos algumas dessas figuras identificadas com o humor burlesco quando associados aos discursos, falas, ou até a simples bilhetes emitidos por conhecidos personagens.

No livro de Ruy Castro – O Poder de Mau humor – Companhia das Letras (1996), disfarçados no título, descobrimos exemplos de estereótipos decodificados pelas figuras de expressão usadas por Barthes: (1) A Vacina, (2) A Omissão da história, (3) A Identificação, (4) A Tautologia, (5)O Ninismo, (6) A Quantificação da Qualidade e (7) A Constatação. Apesar de antigas, as falas identificam estereótipos bastante correntes nos dias de hoje.

Figuras de expressão dos mitos utilizadas por Barthes.

1.    Vacina:  consiste em confessar o mal acidental de uma instituição de classe, para camuflar o seu mal(maior) indispensável.  
(Corrupção) - É dando que se recebe. (Roberto Cardoso Alves)

2.   A omissão da história:  Quando o Mito fala sobre um objeto, despoja-o (surrupia-o) de toda a História.
(Dívida) - Abençoados sejam os jovens, porque eles herdarão as dívidas nacionais. (Herbert Hoover)
(Tecnocratas) - Dê o Saara a um tecnocrata e, em cinco anos, o deserto estará importando areia. (Henri Jeanson)

3. A identificação: “A identificação” observa apenas a semelhança de características, como a dizer que “o outro só existe quando concorda comigo”.
(Bajulação) Não concorde comigo até eu acabar de falar, pô! (Darry F. Zanuck)

4.A tautologia:  É um processo verbal, que consiste em definir o mesmo pelo mesmo (“o teatro é o teatro”) (v. truísmo). “A tautologia” é uma redundância como ”subir para cima”, ou tratar o mesmo pelo mesmo.

5. O ninismo (nem - nem ismo):  Consiste em colocar dois contrários e equilibrar um com o outro, de modo a poder rejeitar os dois (não quero isto nem aquilo). Recusam-se igualmente termos para os quais uma escolha era difícil e foge-se do real intolerável.  

6. A quantificação da qualidade: Consiste em reduzir toda a qualidade a uma quantidade.
(Quantidade) - Certo político, falando da qualidade da sua administração referindo-se aos milhares de quilômetros de faixas exclusivas para ônibus implantadas no trânsito de São Paulo. (2013)

7. A constatação:  O Mito tende para o provérbio. A “constatação” pode ser tratada como um axioma: todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, reduzida a uma constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo.(experiência como formadora de ideias).
(1981-Mentiras) - Em nosso país (URSS), a mentira tornou-se não apenas uma categoria moral, mas um pilar do Estado. (Alexander Soljenitsin)
(Agricultura) - Se você tiver uma fazenda e, na hora da colheita, tiver que optar entre um administrador petista e uma nuvem de gafanhotos, fique com os gafanhotos. (Paulo Maluf)



Final:

Não sem motivos intelectuais e literários (e muitos), a campanha de certo candidato a Presidente da República pautou-se pelo apelo ao “Mito”,  que seus apoiadores souberam explorar com inteligência. Parabéns aos marqueteiros do Presidente eleito, Jair Bonsonaro.

O Blog Confrarias do Riso irá sugerir temas especiais para o exercício de “Revelando Estereótipos”, em próxima postagem.

Boa sorte!

(j.nagado-13.12.2018)

Um comentário:

  1. Um estereótipo étnico: O Mito de Aljubarrota

    A Batalha de Aljubarrota, entre Portugal (casa de Aviz) e Espanha (Casa de Castela), em 1483, terminou com uma heroica vitória dos Portugueses, apesar de estar um número de combatentes muito menor. O fato é considerado como um mito, integrado ao traço de personalidade do Português, logo ao início do século XVI (1500) das grandes descobertas marítimas portuguesas, cantada em versos por Luiz de Camões:

    “Não sofre o peito forte, usado à guerra.
    Não ter o inimigo já a quem faça dano,
    E assi, não tendo a quem vencer na terra,
    Vai cometer as ondas do oceano.”

    (j.nagado-03.01.2019)

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