Cassio Carvalheiro

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Crônica - MULHER DE LADRÃO (J N - abril.2001)








Crônica Policial ou Política?


A "Lava Jato" continua a provocar danos no Partido dos Trabalhadores.
A prisão de José Dirceu , dia (03.08.2015), feita em caráter preventivo, tem a finalidade de "interromper o ciclo delitivo", dentro de um contexto de "criminalidade desenvolvida de forma habitual, profissional e sofisticada" (juiz Sergio Moro).
Nos bastidores do Partido dos Trabalhadores, já estão apostando que seu ex-grande líder, José Dirceu, irá cumprir aquilo que diz a Tribuna da Internet:

O Lula traiu Dirceu. Este vai se vingar fazendo delação premiada e entregando o Lularápio.


DELAÇÃO PREMIADA (4 de agosto de 2015)


"...A única alternativa para (José Dirceu) ter um resto de vida ao lado da família é fazer a delação premiada, com a qual já até ameaçou Lula e Dilma, no dia 4 de junho, quando mandou vazar aos jornalistas a explosiva frase “eu, Lula e Dilma estamos no mesmo saco”.

Entrando nesse ambiente policialesco ,  lembrei-me desta crônica que escrevi em 2001, que leva para o  viés da da traição e da vingança, a solução de desfeitas, PÚBLICAS, do parceiro  traidor. Assim, a vingança contra o Lula, estaria sendo preparada pela  Galega ou pela companheira Rose, sócia (laranja?) de patrimônio do ex-presidente, em terras lusitanas. 

Um amigo, (alô Carlos J.), que faz com precisão suas análises políticas diz:
"Pessoalmente acredito que Lulla só irá cair por uma delação direta dos empreiteiros, ou mais a frente numa investigação sobre o BNDES".












MULHER DE LADRÃO


 


Um casal de portugueses comprava verduras e legumes no CEASA e levava para vender em uma rua próxima ao mercado Municipal. Lá havia muitos desses pequenos comerciantes e cada um tinha o seu lugar na calçada. Um dia vi o Manuel (ou Joaquim) gritar:


 


“O Maria, vem cá ajudar-me a xingar o gajo que está querendo roubar o nosso lugar aqui na rua”.


 


A dona Maria veio correndo com o bule de café que fora comprar no bar da esquina e passou a lançar impropérios ao gajo, que por conveniência, já tinha tirado sua mercadoria do lugar reclamado.


 


Essa situação mostrava uma cumplicidade quase cômica do casal, na dura luta pela vida. Pela aparência deles, já deveriam ter mais de vinte anos de convivência. Talvez o Joaquim (ou Manuel), nem precisasse realmente dos xingamentos da Maria.


 


A Amélia “a mulher de verdade”, que passava fome ao lado do seu homem e achava bonito não ter o que comer, cantada por Ataulfo Alves naquele antigo samba, era uma pobre coitada. Mas era cúmplice do seu homem, no seu mundo de pobreza. 


 


Se essa mulher era castigada pela fome, outra apanhava de verdade. A “mulher do malandro”, que diziam, até gostava de apanhar. Não reclamava na polícia e nem tinha a delegacia da mulher para onde levar suas queixas. Também era cúmplice do seu homem.


 


Cumplicidade, teu nome é mulher. O “Poderoso Chefão” sabia disso, mostra o filme, e mandou castigar seu genro quando descobriu que sua filha havia apanhado dele. As mulheres e filhos (enquanto pequenos) da grande família da Máfia, segundo a romântica história que nos é contada através desse e de outros tantos filmes, eram mantidos inocentes no mundo de crimes dessa “honorabile societá”.


 


Quantos segredos e crimes sórdidos têm sido ocultados, em nome dessa cumplicidade, por mulheres ligadas a homens truculentos, violentos, perversos ou desonestos, que a sociedade teima em vê-las apenas como vítimas de um amor verdadeiro ou do temor de ter um lar destruído? Ou pelo temor da perda de uma situação confortável que, afinal, esse homem lhe dá?


 


Mas porque estou eu a falar das mulheres com esse ranço de machismo, quando a situação poderia muito bem ser invertida? Há homens que apanham de suas mulheres e mulheres que se enviesam por atividades desonestas também sob às vistas complacentes ou cúmplice de seus homens. Por enquanto, mesmo contrariando feministas e mulheres independentes e modernas de hoje, o que vemos na televisão, revistas e jornais, é essa visão da mulher vítima, mesmo que a mulher seja mais do que cúmplice das truculências do homem.


Bem, essa situação pode perdurar enquanto houver alguma harmonia entre o casal ou enquanto não houver interferência de alguém, que pode ser um parente ou pessoa que conheça as mazelas da família.


 


Veja-se, como exemplo, o caso que nos brindou a mídia, mostrando toda a realidade de uma ex-Primeira dama da cidade de São Paulo, que nunca lhe reconheceu méritos e perfil para tanto. Permaneceu caladinha, cúmplice, enquanto o desonesto e ímprobo marido não lhe negava os recursos para sustentar suas mordomias e os regalos e vícios de um dos filhos do casal. Cúmplice também, como não. Um dia botou a boca no trombone, revelando mil sujeiras do marido, através de uma revista de grande circulação.


 


A mídia é muito importante para jogar cocô no ventilador. De outra feita, já faz alguns anos, foi o irmão da mulher o responsável pela vendeta. Era um presidente o homem. O caso PC, que envolveu o posteriormente cassado presidente Collor, foi desvendado a partir das denúncias do irmão Pedro, que a cumplicidade da mulher do presidente não permitiu denunciar.  Falam as más línguas, que essa mulher não tinha inteligência suficiente para entender o que estava acontecendo. Uma atenuante para sua cumplicidade.


 


Num caso mais recente, a procuradoria da República finalmente entendeu por bem acusar a mulher do ladrão cognominado Lalau pela mídia. Para que ninguém se esqueça, era Juiz Regional do Trabalho. Neste caso, um ex-genro, afastado legalmente das benesses do ex-sogro, que se apropriou do dinheiro público com outros comparsas, foi quem iniciou a história. Quando apareceu na mídia, deu a impressão de alguém que se viu prejudicado por não ter levado a sua parte em dinheiro e magoado por ter sido abandonado pela própria ex-mulher. Foi o chamado “Quero o Meu”. 


 


Quando vi pela TV a mulher e suas filhas, indo ao local onde o marido (ex-juiz) ficou preso, imaginei comigo, como se sentiriam aquelas elegantes e discretas mulheres, que certamente sabiam que os bens e o conforto que desfrutavam provinham de dinheiro desviado da construção do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. 


 


Para encerrar essa história de cumplicidade da mulher, parece que O Tigrão, aquele personagem caracterizado pela música Funk, agarrando cada uma de suas mulheres pelo cabelo e batendo na cara delas enquanto elas dizem que “Um tapinha não dói”, está começando a levar suas pancadas pelas pessoas de bom senso. Mulher de malandro ou de ladrão vai deixar de ser cúmplice sem culpa ou uma Amélia que merece pena. 


 


José Nagado – 14/04/01.


 


 


 


 

2 comentários:

  1. From: jcneves
    To: j_nagado@hotmail.com
    Subject: Casos Políticos ou Policiais?



    Caríssimo Nagado




    Dei uma volta pelo seu blog e por lá vi a reprodução da sua crônica de 2001. Creio que qualquer semelhança real ou fictícia (não há ficção no Brasil!) com o que ocorre atualmente no país, não é mera coincidência; é pura repetição de realidades.




    Por falar em realidade, finalmente o meu livro LEGADO se transformou em uma; a montanha acabou de pari-lo. Assim que puder, deixarei um exemplar na sua portaria.


    Um abração

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    1. Caro Neves,
      seu comentário envolve certa consideração política em
      relação à imagem de certos personagens que não estão entre aqueles que o brasileiro irá venerar no futuro. (RSRSRS)
      obrigado
      abr.

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