Cassio Carvalheiro

sábado, 4 de fevereiro de 2017

CRÕNICA – FOTOS DE SÃO PAULO – 2 (JN 09.04.2001)




CRÕNICA – FOTOS DE SÃO PAULO – 2


Parabéns São Paulo!

463 anos (1554-2017)

Em 25.01.2014 prestei homenagem à cidade de São Paulo, postando uma crônica que escrevi em 2001, “Fotos de São Paulo”, (link: http://licburlesco.blogspot.com/2014/01/cronica-fotos-de-sao-paulo-2001.html), com o seguinte comentário:

FOTOS DE SÃO PAULO (José Nagado) 

1959 ... vim para São Paulo com treze anos de idade. Cheguei a andar de bonde "camarão"; joguei em campos de futebol de "várzea"; trabalhei como office-boy em escritórios no centro velho; estudei em Colégio do Estado (I.E. Antônio Firmino de Proença); trabalhei em grandes empresas (Banco Moreira Salles, SKF, VASP); vi São Paulo iniciar a construção do seu Metrô; formei-me na Escola de Engenharia Mauá, em 1971; vi grandes mudanças no centro e na periferia... 
Fotografei São Paulo para poder falar um pouco das mudanças que vi e para um dia poder contar para meus filhos e netos.

Esta crônica - Fotos de São Paulo 2, escrita também em 2001, lembra uma época em que se permitia ao cidadão comum acompanhar e vibrar com as mudanças que ocorriam na paisagem desta cidade que tanto amamos.

Parabéns São Paulo!


CRÔNICA - FOTOS DE SÃO PAULO – 2 (J.NAGADO)

 http://licburlesco.blogspot.com/2017/02/cronica-fotos-de-sao-paulo-2.html

Os últimos quarenta anos do século XX mudaram radicalmente a cidade de São Paulo. Os bondes foram retirados das ruas da cidade de São Paulo. Grandes avenidas foram construídas, rasgando a cidade em várias direções, apropriando-se dos vales entre os morros, beira de riachos, alagados e desprezados, marginais dos rios Tietê e Pinheiros. As linhas do metrô furaram as entranhas da cidade, aparecendo na superfície em alguns trechos. Canalizaram-se rios e riachos e construíram-se piscinões para evitar as enchentes.

Muitas áreas vazias foram urbanizadas. A várzea do Campo de Marte, por exemplo, possuía muitos campos de futebol mantidos pela Secretaria de Esportes de São Paulo. Hoje os campos sumiram e deram lugar ao Parque Anhembi que ocupa boa parte daquela área.

Vias construídas são logo ocupadas. O trânsito das estradas de rodagem se funde com trânsito amalucado da cidade. Um grande anel rodoviário está sendo construído num raio de 30 quilômetros da Praça da Sé, para interligar as estradas e evitar que veículos entrem sem necessidade na malha viária da Grande São Paulo.

Há uns vinte e cinco anos atrás, um militar metido a especialista em trânsito veio a São Paulo e criou a via Rotatória em torno do centro velho da cidade, que passava por avenidas com mão única de direção.

A Zona Azul foi criada um pouco depois, e é aquele lugar dentro do grande centro da cidade, onde seu carro fica à mercê de marginais e pode ser multado se você não tirar o carro após o tempo de uma ou duas horas, permitido pelo seu cartão de estacionamento.

Recentemente, coisa de três anos, proibiram a circulação de veículos durante a semana, dentro de uma área da cidade limitada por um mini anel viário formado pelas Marginais Pinheiros, Tietê e avenidas abertas na ex-tranquila periferia de São Paulo. Das sete às dez horas da manhã e das dezessete às 20 horas, num determinado dia da semana, de acordo com o final da placa do seu carro, você não pode circular dentro dessa área, sob pena de ser multado. É o chamado dia do “rodízio” do seu carro.

Era o dia do “meu rodízio”. Tendo tudo planejado para tirar algumas fotos de São Paulo, às oito horas da manhã peguei meu carro e fui ao Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, sem precisar entrar no perímetro do mini anel viário. Lá não havia zona Azul, mas, como sempre, havia o tomador de conta do seu carro. Um equipamento fotográfico simples, e uma grande vontade de aproveitar bem aquele dia ensolarado, era o que dispunha, até às 17 horas daquele dia.

Não visitei o Parque da Independência no meu tempo de estudante. Acho que professores de história detestam esse tipo de visita. Nenhum sugeriu essa visita. Um dia levei meu filho mais velho que apreciou muito as pipocas e sorvetes que lhe comprei.

Por que ele teria que saber que “A casa do Grito” foi o local onde D. Pedro I recebeu das mãos de Paulo Bregaro, cartas de D. Leopoldina e de José Bonifácio, que o levaram a proclamar a independência do Brasil? No Hino Nacional Brasileiro, que o obrigaram a decorar na escola, já ouvira falar das margens “plácidas do Ipiranga“ num linguajar esquisito (“ouviram do Ipiranga, às margens plácidas”); Sua mente nunca iria imaginar que se referia àquele riozinho ridículo, que fica a algumas centenas de metros do local onde D. Pedro I proclamou a independência do Brasil.(1822)

Ah! O prédio do Museu do Ipiranga (1895) “é bonito”, disse meu filho com a cara lambuzada de sorvete, sem me ouvir falar dos jardins à frente do Museu, inspirados nos jardins barrocos franceses, como o de Versalhes, segundo um professor de história. Gostou também do Monumento à Independência (1921), pois foi na sua escadaria que nos sentamos para comer pipocas e descansar.

Quando saia pela rua Paulo Bregaro para atingir a Avenida Ricardo Jafet, o “Paiaço” aqui, fez questão de lembrar ao filho que esse personagem, Paulo Bregaro, foi o carteiro mais importante da história do Brasil. Era até nome de rua.

Deixando de lado essas reminiscências, volto ao meu passeio de fotógrafo amador, preocupado em cumprir um roteiro. Eram 10 horas quando terminei de fotografar o Parque da Independência. Já podia entrar dentro da área do mini anel viário sem ser multado. Assim, pouco depois das dez e vinte estava eu fotografando o Palácio das Indústrias (1910), no Parque D. Pedro II, antiga várzea do Carmo. A entrada fica na Avenida Mercúrio, dentro da Rotatória. Do pátio do Palácio das Indústrias tirei uma foto do centro da Cidade, onde se vê o prédio do privatizado (2000) banco Banespa e do quase bicentenário Banco do Brasil(1809).

Da calçada em frente ao Palácio das Indústrias, fotografei a usina de gás, o desativado (199?) Gasômetro, antes de ir fotografar o Mercado Municipal (1933).

A caminho do Mercado Municipal, fotografei o decadente edifício chamado de Treme-Treme, velho conhecido da violenta crônica policial de São Paulo. Não resisti e entrei no Mercado Municipal para dar uma olhada. Quando foi inaugurado, diziam que era muito imponente para a finalidade. Concordo.

Voltando para o local onde estacionei o carro, próximo do Palácio das Indústrias, atravessei a ponte sobre o Rio Tamanduateí, de onde tirei uma foto que mostra em primeiro plano, a água nojenta desse rio (ou esgoto a céu aberto, no chavão popular). Em segundo plano, aparece o viaduto Diário Popular, que joga parte do trânsito da avenida Mercúrio para a rua Vinte e Cinco de Março. Para quem não conheceu São Paulo de algumas décadas atrás, o jornal Diário Popular ficava ali, onde termina esse viaduto. 
Acima desse viaduto, na foto, aparece parte do centro velho de São Paulo, com a torre da Catedral da Sé ao centro e o topo do prédio da Secretaria da Fazenda, na avenida Rangel Pestana, à esquerda da foto.

Cheguei à Estação da Luz(1901) às doze e trinta, pelo relógio da sua torre. Estilo neo-clássico, foi construída pela The São Paulo Railway, para fazer parte da estrada de ferro Santos a Jundiaí, com todo o material trazido da Inglaterra. Um dia, em 1959, eu e meus irmãos descemos nessa estação, vindo de mudança do Vale do Ribeira. Um táxi nos levou a quatro quarteirões dali, dando uma volta de dez quarteirões. Mais tarde entendi a bronca e a malandragem do motorista de táxi. Hoje, a estação pertence à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que irá destinar um espaço da estação para o futuro Centro Cultural da Língua Portuguesa.

A Igreja de São Cristóvão(1856) e o Jardim da Luz (1900) com suas esculturas   foram fotografadas até as treze horas. O prédio da Pinacoteca do Estado de São Paulo, mereceu de mim uma volta completa. Nos meados dos anos 60 ali funcionava também a EAD (Escola de Arte Dramática), onde ia assistir a peças teatrais apresentadas pelos alunos da escola. De graça.  Uma caminhada rápida e estou em frente ã estação Júlio Prestes (1938) da Estrada de Ferro Sorocabana. O relógio da sua torre marca treze horas e dez minutos. Na entrada principal, atualmente fica a Sala São Paulo (2000), o mais moderno teatro de São Paulo. Na gare (é assim que se diz?) da estação foi montado (2001) um arranjo teatral de “Os Lusíadas”. Ainda não fui a nenhum desses dois espaços culturais Ao lado da estação Júlio Prestes, fica o prédio antigo (1914) da administração da Estrada de Ferro Sorocabana. Na época da ditadura militar, foi ocupado pelo tristemente célebre DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Inferno. A partir de 1983 foi ocupada pela Delegacia de Defesa do Consumidor. Purgatório.
Atualmente, uma placa indica que lá fica a Escola Superior de Música. O paraíso, para um rapaz esquisito que disse que estudava ali. Acabou o filme. Quatorze horas e vinte minutos. Uma caminhada pelos arredores, para ver a antiga estação rodoviária na Avenida Duque de Caxias, a estátua do Duque de Caxias, parte da rua Santa Efigênia (onde se comprava tranqueiras eletrônicas) e outras ruas da antiga Zona do Lixo e lá se foram quase duas horas.

No retorno para casa, antes de atravessar a Avenida Ricardo Jafet, no sentido da avenida do Cursino, meu relógio marcava dezessete horas. Duas semanas depois, recebi a multa ( R$ xxx,00) por trânsito  em área proibida.


J.N – 09/04/01

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