TRIBUTO AO NEVES - 02 – "ENTENDEU?"
“Entendeu?” - Jose Carlos Neves – (JCN)
Texto escrito e compartilhado pelo Neves, revela uma prosa rica onde mostra seu senso de humor através da cultura e antigos usos e costumes de sua terra natal, principalmente do uso de termos que a nós brasileiros muitas vezes nos parecem palavrões.
“Entendeu?”
revela a identidade do autor com a língua portuguesa e sua sintonia com o
sentimento simbólico e patriótico, em um texto prosaico com divertidas
controvérsias semânticas, uma verdadeira pérola resgatada de sua memória
fabulosa, evocando sua terra natal. Sem meias palavras, seu irmão
“Transmontano” é apresentado, já adulto e fazendo da sua existência, a nobre
função de pensar (filosofar) tudo o que o Neves transforma, depois, em metáforas
concretas para a sua vida.
Mantendo
nosso foco na divertida leitura do saudosista e espirituoso texto, onde o Neves
discorre sobre íntimos pensamentos das vacas no pasto e enaltece os labores e
hábitos campesinos de seus familiares em Sampaio, vemos que na última parte de
“Entendeu”, o Neves (JCN) reclama da falta de memória do amigo
Transmontano, conectando, sem firulas, o passado e o presente semântico da
palavra (“conho”), ao que se sabe, uma palavra de origem espanhola.
Seria essa uma sutil revelação sobre a origem espanhola do Transmontano,
que sempre conhecemos como o amigo lusitano do Neves?
Brincadeiras
à parte, o texto mostrou curiosidades da língua portuguesa, que parte das vezes,
brincadeiras nos parecem.
Aprecie um trecho de "Entendeu?"
ENTENDEU?
Eu sei que estão a falar bom português
Então, por que se entende tão pouco?
(JCN)
“A aventura semântica foi reduzida a uns poucos vocábulos e expressões,
e o mais surpreendente foi constatar o quão pouco o meu amigo (o Transmontano) reteve
na memória daquela época. Isso deu-lhe também a certeza do quanto é necessário
exercitá-la para mantê-la viva, mesmo sabendo que também é saudável descartar
lembranças que possivelmente não lhe serão mais úteis, pela sua falta de uso.
Mas, memória é História, e esta não pode ser descartável, ou não haverá
conhecimento. Conho! Isso pouco importa; importante mesmo é linkar,
e porque não ligar, ou conectar, ou associar, ou unir?
- o passado e o presente, e compreender todas as épocas. Ou não saberíamos que levar
uma pica no rabo é apenas tomar uma injeção nas nádegas; ou,
ainda, que a delicada boceta da rapariga é só a caixinha de joias da
jovem adolescente. Entendeu?”
(JCN – JAN – 2007)
Sobre Fernando Pessoa
(1888-1935)
Teria
o espírito de Fernando Pessoa incorporado no amigo Neves nesse texto? Ou,
diria, mais apropriadamente, o espírito do heterônimo de Pessoa, Alberto
Caieiro da Silva, estaria nas narrativas campesinas do Neves?
Certa feita, a modéstia do Neves recusou a comparação que fiz-lhe com o grande
escritor português, quando, ao seu jeito, explora com maestria os recursos de
estilos utilizados por Pessoa. Confira no próximo tributo, em “Batalha de Galos”.
(j.nagado-30.11.2016)
(continua)
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