Cassio Carvalheiro

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

TRIBUTO AO NEVES - 02 - "ENTENDEU?"



TRIBUTO AO NEVES - 02 – "ENTENDEU?"


“Entendeu?”  - Jose Carlos Neves – (JCN)


Texto escrito e compartilhado pelo Neves, revela uma prosa rica onde mostra seu senso de humor através da cultura e antigos usos e costumes de sua terra natal, principalmente do uso de termos que a nós brasileiros muitas vezes nos parecem palavrões.  
                                                                                                                   
“Entendeu?” revela a identidade do autor com a língua portuguesa e sua sintonia com o sentimento simbólico e patriótico, em um texto prosaico com divertidas controvérsias semânticas, uma verdadeira pérola resgatada de sua memória fabulosa, evocando sua terra natal. Sem meias palavras, seu irmão “Transmontano” é apresentado, já adulto e fazendo da sua existência, a nobre função de pensar (filosofar) tudo o que o Neves transforma, depois, em metáforas concretas para a sua vida.
Mantendo nosso foco na divertida leitura do saudosista e espirituoso texto, onde o Neves discorre sobre íntimos pensamentos das vacas no pasto e enaltece os labores e hábitos campesinos de seus familiares em Sampaio, vemos que na última parte de “Entendeu”, o Neves (JCN) reclama da falta de memória do amigo Transmontano, conectando, sem firulas, o passado e o presente semântico da palavra (“conho”), ao que se sabe, uma palavra de origem espanhola.
Seria essa uma sutil revelação sobre a origem espanhola do Transmontano, que sempre conhecemos como o amigo lusitano do Neves?
Brincadeiras à parte, o texto mostrou curiosidades da língua portuguesa, que parte das vezes, brincadeiras nos parecem.

Aprecie um trecho de "Entendeu?"
                                
  
                     ENTENDEU?
Eu sei que estão a falar bom português                             
Então, por que se entende tão pouco?
 (JCN)

“A aventura semântica foi reduzida a uns poucos vocábulos e expressões, e o mais surpreendente foi constatar o quão pouco o meu amigo (o Transmontano) reteve na memória daquela época. Isso deu-lhe também a certeza do quanto é necessário exercitá-la para mantê-la viva, mesmo sabendo que também é saudável descartar lembranças que possivelmente não lhe serão mais úteis, pela sua falta de uso. Mas, memória é História, e esta não pode ser descartável, ou não haverá conhecimento. Conho! Isso pouco importa; importante mesmo é linkar, e porque não ligar, ou conectar, ou associar, ou unir? - o passado e o presente, e compreender todas as épocas. Ou não saberíamos que levar uma pica no rabo é apenas tomar uma injeção nas nádegas; ou, ainda, que a delicada boceta da rapariga é só a caixinha de joias da jovem adolescente. Entendeu?”

(JCN – JAN – 2007)



Sobre Fernando Pessoa (1888-1935)

Teria o espírito de Fernando Pessoa incorporado no amigo Neves nesse texto? Ou, diria, mais apropriadamente, o espírito do heterônimo de Pessoa, Alberto Caieiro da Silva, estaria nas narrativas campesinas do Neves?
Certa feita, a modéstia do Neves recusou a comparação que fiz-lhe com o grande escritor português, quando,  ao seu jeito, explora com maestria os recursos de estilos utilizados por Pessoa. Confira no próximo tributo, em “Batalha de Galos”.


(j.nagado-30.11.2016)

(continua)

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