Cassio Carvalheiro

segunda-feira, 16 de junho de 2014

B&F – 006.2013.01 – ESTEREÓTIPOS - Mitos e Ideologias (15.06.2014)



B&F – 006.2013.01 – Estereótipos –  Mitos e Ideologias  (15.06.2014)



Esta seção (B&F) destina-se a abordagem de textos e autores (filósofos, linguistas, cientistas, políticos, etc) que tratam de conceitos  ou temas explorados no Burlesco.
 POST 04.2013 – 05.02.2013 –-Lançamento  DA SEÇÃO  “BURLESCO & FILOSOFIA” (B&F - 001.2013)   
http://licburlesco.blogspot.com/2013/02/post-042013-lancamento-de-b-050213.html

1.    Introdução


Este B&F expõe o significado de estereótipos, sua inserção em textos do blog Confrarias do Riso e especialmente o seu uso na análise do burlesco nesses   textos.
O Blog Confrarias do Riso aborda  os estereótipos (ref.1) como ferramenta  ideológica segundo Roland Barthes (ref.2), em sua visão sociológica, semiológica e filosófica, que estabelece a relação entre o mito (fala mítica), estereótipos e ideologia.
Ao lado dos fundamentos lógicos e comportamentais, a ideologia constitui uma das necessidades estruturais do Burlesco.
Obs.: O GOOGLE registra como resultado de busca para “ESTEREÓTIPOS  E BARTHES”, o post (2.5)  no blog Confrarias do Riso -licburlesco.blogspot.com/.../2.5-estereótipos – cont. .de elementos do.ht...4.abr.2012– associada ao combate aos estereótipos e revela também o caráter contestador de Roland Barthes em relação á ideologia contida nos textos: “É ...
ESTEREÓTIPOS  E BARTHES,    postado a partir de (04.04.2012)  expõe  a essência desse estudo (v. links).


(ref.1)
http://licburlesco.blogspot.com/2012/04/25-estereotipos-cont-de-elementos-do.html

 

(ref. 2) 
http://licburlesco.blogspot.com/2012/06/estereotipos-e-barthes-02-continuacao.html
http://licburlesco.blogspot.com/2012/06/estereotipos-e-barthes-03-continuacao.html

http://licburlesco.blogspot.com/2012/06/estereotipos-e-barthes-04-conclusao.html

Neste B&F vamos explorar os estereótipos legados por alguns   personagens famosos, principalmente do mundo político, onde:    
a) Os estereótipos são vistos como formas de dominação ideológica, acompanhando Roland Barthes.
b) O conceito crítico (de Marx) de ideologia como distorção, justifica a necessidade de combater os estereótipos presentes nas “falas”.  


2.    Barthes : Ideologia,  Mitos e  Estereótipos


Ideologia 

Na estrutura do Burlesco usamos a idéia de Fundamentos Mitológicos, Teológicos, Filosóficos e Morais associada  à Ideologia, como um  um termo de diferentes significados e duas concepções:

Neutra: O termo ideologia no senso comum é sinônimo do termo ideário , com o sentido neutro de conjunto de idéias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas.
Crítica: Utilizado sob esta concepção, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão), mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana. (Wikipédia, a enciclopédia livre).

Para Barthes esta concepção crítica expõe influências da  linguística  (conotação), devidas a Hjelmslev; influências sociológicas  (consciência coletiva), devidas a Durkheim ; e políticas (distorção da realidade) devidas a Marx, como Ideologia, em seu conceito particular.

Mitos

A origem da idéia de Fundamentos Mitológicos, no Burlesco, está associada ao uso de Mitos com o objetivo de direcionar ideologicamente indivíduos de uma sociedade, alinhado com o conceito de  Mitologia, desenvolvido por Roland Barthes (1915 -1980), sob os auspícios do vínculo entre o Estruturalismo (da década de 1950) e a Semiologia.
“O Mito é uma Fala”,  afirmado por Barthes para conceituar  o mito como um modo de significação, diz respeito a uma forma onde tudo aquilo que pode ser julgado por um discurso (uma fala), pode se constituir em mito, “com seus limites históricos, condições de funcionamento e objetivos sociais”. 

Nesta concepção, o mito é considerado como “a designação de falsas evidências de fatos que o senso comum trata como natural, mascarando realidades e neste sentido, perfeitamente histórica, caracterizando um abuso ideológico dissimulado”. Barthes trata os Mitos como forma de ideologia, uma ferramenta de dominação burguesa, como vimos em – “a Ordem”, postada em ESTEREÓTIPOS E BARTHES – 03 (continuação).

Estereótipos - Figuras de expressão dos  mitos
Barthes usou sete figuras de expressão para esclarecer aquela afirmação (“o mito é uma fala”) em suas “Mitologias” (2003).   Neste B&F exemplificamos algumas dessas figuras identificadas com o humor burlesco quando associados aos discursos, falas , ou até a simples bilhetes emitidos por conhecidos personagens.
No livro de Ruy Castro – O Poder de Mau humor – Companhia das Letras (1996), disfarçados no título, encontramos exemplos de estereótipos decodificados pelas figuras de expressão usadas por Barthes: (1) A Vacina, (2) A Omissão da história, (3) A Identificação, (4) A Tautologia, (5)O Ninismo, (6) A Quantificação da Qualidade e (7) A Constatação. Apesar de antigas,  as falas identificam  estereótipos bastante correntes nos dias de hoje..


1.    Vacina:  consiste em confessar o mal acidental de uma instituição de classe, para camuflar o seu mal(maior) indispensável.  
(Corrupção) - É dando que se recebe. (Roberto Cardoso Alves)


2.    A omissão da história:  Quando o Mito fala sobre um objeto, despoja-o (surrupia-o)  de toda a História  .

(Dívida) - Abençoados sejam os jovens, porque eles herdarão as dívidas nacionais. (Herbert Hoover)

(Tecnocratas) - Dê o Saara a um tecnocrata e, em cinco anos, o deserto estará importando areia. (Henri Jeanson)


3. A  identificação: “A identificação” observa apenas a semelhança de características, como a dizer que “o outro só existe quando concorda comigo”..

(Bajulação) Não concorde comigo até eu acabar de falar, pô! (Darry F. Zanuck)

4.A tautologia:  É um processo verbal, que consiste em definir o mesmo pelo mesmo (“o teatro é o teatro”) (ver  truismo.). “A tautologia” é uma redundância como”subir para cima”, ou tratar o mesmo pelo mesmo.

5. O ninismo (nem - nem  ismo):  Consiste em colocar dois contrários e equilibrar um com o outro, de modo a poder rejeitar os dois.(não quero isto nem aquilo). Recusam-se igualmente termos para os quais uma escolha  era difícil e foge-se do real intolerável.  

6. A quantificação da qualidade: Consiste em reduzir  toda a qualidade a uma quantidade.

(Quantidade) - Certo político, falando da qualidade da sua administração referindo-se aos milhares de quilometros de faixas exclusivas para ônibus implantadas  no trânsito de São Paulo. (2013)

7. A constatação:  O Mito tende para o provérbio. A “constatação” pode ser tratada como um axioma: todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, reduzida a uma constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo.(experiência como formadora de idéias).

(1981-Mentiras) - Em nosso país (URSS), a mentira tornou-se não apenas uma categoria moral, mas um pilar do Estado. (Alexander Soljenitsin)
(Agricultura) - Se você tiver uma fazenda e, na hora da colheita, tiver que optar entre um administrador petista e uma nuvem de gafanhotos, fique com os gafanhotos.(Paulo Maluf)

Estereótipos do Poder

Barthes relata diversos exemplos onde Estereótipos são reconhecidos   através da ideologia que se quer reafirmar, através do Poder (seja da Igreja, do Exército, Governo, etc) .
Certos personagens burlescos, quando pretendem se revestir de uma aura de poder, se utilizam, com frequência, das figuras de expressão definidas por Barthes. Faz parte do estilo que utilizam.

Frases  do livro acima mencionado de Ruy Castro – O Poder de Mau humor – Companhia das Letras (1996), acusam estereótipos de pessoas sob um determinado   estado de coisas, provocando o riso. 


(Soluções)  - Não é que eles não vejam a solução. O que eles não enxergam é o problema. (G.K. Chesterton) .

(Pés no chão -) O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também. (Ivan Lessa)

(Brasileiros) –
(Projeto de Constituição Simplificada para o Brasil)
Artigo 1º.-Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. Art. 2º. – Revogam-se as disposições em contrário. (Capistrano de Abreu)

O Brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos um mínimo de auto-estima. (Nelson Rodrigues)

(Cinismo)
(Parafraseando Mário de Andrade sobre a saúde e a saúva):
Pouco civismo e muito cinismo, os males do Brasil são.

3.    Funções dos Estereótipos 
Além da Ideologia  inscrita nos estereótipos, encontramos duas funções para o  uso  dos estereótipos:
Heurística - Através da função heurística dos (mitos) estereótipos podemos avaliar  o personagem burlesco  com  a profundidade de seus conflitos, a superficialidade de suas alegrias e o peso de suas perdas, que regula seu comportamento ou acusa seus problemas psicológicos.  (um precioso instrumento para nos ajudar a  desfrutar o burlesco).
Terapêutica – A ideologia dos mitos contida nas falas, oferece um meio para a leitura (semiótica) contextualizada de atitudes e cursos de ação alternativos e as conseqüências  para o personagem.  (um instrumento importante para
Esta é uma função terapêutica do Burlesco, possibilitada pela satirizarão das “falas” donde se extraem “ideologias”  nem sempre bem esclarecidas do falante.   

Estas funções servirão como um filtro ou demarcador para avaliar os agentes dos estilos burlescos e desmistificar os predicados dos fundamentos  mitológicos, teológicos e morais que os identificam.

4.    Comentários finais

A característica mais importante da ideologia é que ela quer, antes mostrar a verdade “que se tem de seguir”,  mostrar  um conjunto de enunciados que conduzam à reflexão sobre outros conjuntos de enunciados e assim por diante, sejam quais forem os fundamentos utilizados para evitar o “o jogo de dar e pedir razões”.

O Burlesco procura  mostrar o engodo, a ilusão ou o erro do uso da ideologia,  que leva  o indivíduo a uma visão distorcida de mundo.

(este B&F – 006.2013.01 terá continuidade)

 (j_nagado – 15.06.2014)