POST 16 -13 – ESQUETES: IGNORANTÃO – produto de Individuação
Introdução
Estamos dando continuidade à apresentação da série de esquetes (de humor)
de estilos de comportamentos relacionados às quatro Categorias do Burlesco : Pobre de Espírito, Gozador,
Espirituoso e Genial , utilizando a
estrutura (caráter x fundamentos x tendências) definida em “Burlesco” (http://licburlesco.blogspot.com.br).
Categoria Pobre de Espírito
Três esquetes
mostram a essencialidade de estilos de comportamento dessa categoria:
Os estilos desta
Categoria (Simplório, Cândido, Inocente útil e Ignorantão) foram
agrupados devido a uma disposição permanente de caráter, identificado comumente com a
imagem compassiva que nos transmitem. ("E quando aprendemos melhor a divertir-nos,
esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores". -
Nietszche, em "Assim falou Zaratustra/dos Compassivos").
O agente deste estilo (o Ignorantão) costuma mostrar-se auto-confiante, conhecedor de
ambientes e dominador de situações, mas em geral se compromete quando mostra
suas credenciais
Neste esquete faremos uma apresentação do Estilo Ignorantão com base na estrutura normal do Burlesco e em seguida designaremos o Ignorantão como um produto de Individualização.
Ignorantão
No “Aurélio”: Diz-se do indivíduo muito
ignorante mas pretensioso.
Nota do autor:
Nessa forma, “Ignorantão” nos transmite a idéia
de um arremêdo de indivíduo, destituído de valores morais e provavelmente desclassificado
como cidadão, embora tenha a pretensão de viver em liberdade. O
“muito ignorante” leva o leitor a pensar que nosso texto irá tratar de indivíduo pouco informado ou mesmo um simples analfabeto. Veja alguns
complementos que identificam esse indivíduo.
O
Ignorantão caracteriza-se por uma certa dose de canalhice, maneirismos
periféricos e hábitos oportunísticos. Procura adaptar-se às exigências do
princípio da (sua) realidade procurando ocultar, no mito, sua realidade social,
seja através da ostentação, hábitos extravagantes ou freqüentar ambientes sofisticados em relação aos quais procura mostrar-se um
entendedor e um “habituée”.
Fundamento Lógico
Nota do autor: Fundamentos Morais (Ideológicos)
e Comportamentais considerados no Burlesco, embora esclarecedores do estilo burlesco do Ignorantão, foram omitidos neste esquete visando a simplificação
deste esquete.
Em situações controversas que vivencia, o Ignorantão revela aquela
imagem compassiva que nos transmite, mormente quando analisado sob o aspecto do “Princípio lógico de Contradição
(ou de Não contradição)”, que
diz: “É impossível que um mesmo atributo convenha e não convenha a um mesmo
sujeito, no mesmo lugar e ao mesmo tempo”. (da lógica clássica de Aristóteles
(384-322 a.C)).
Embora seja visto como um princípio já bastante
assertivo, deve-se considerar ainda o crivo da teoria da verdade, que avaliou esse princípio para situações
contraditórias, justificando-se a teoria
da Correspondência : “Algo é verdade quando há uma correspondência entre
esse algo e a realidade”.
O Ignorantão tenta validar essa teoria para si
e para os outros companheiros, quando
investe todo o poder de
seus métodos (“esse algo”), para posicionar favoravelmente o julgamento
crítico (a realidade do IGNORANTÃO) frente
ao público.
A propósito, podemos dizer, por exemplo, que no
julgamento da Ação Penal 470 (vulgo “Mensalão”), o povo brasileiro viu com pesar a não condenação do “Ignorantão” por formação de quadrilha, apesar de a Justiça
ter comprovado a teoria da
Correspondência (“Algo é verdade quando há uma correspondência entre esse algo
e a realidade”) .
G.C. Lichtenberg coloca o Ignorantão (ainda livre) em seu
devido lugar:
“Creio que o homem (o Ignorantão) é, no final
das contas, uma criatura tão livre que se lhe não pode contestar o direito de
ser aquilo que pensa ser”.
Nota do autor:
No Burlesco, (em princípios da Lógica), também decorrentes
das teorias da verdade, consideramos a implicação da teoria Pragmática no
estilo Especialista, e a implicação da
teoria da Coerência, no estilo Cerebral,
visando a convergência do “Princípio
lógico de Contradição”, analisadas pelo filósofo brasileiro Newton da Costa
(1950).
Desempenho
Em função de situação analisada, questiona-se o desempenho
do Estilo Ignorantão, com uma questão fundamental no Burlesco: quando
esse estilo provoca o riso ?
- Quando o agente do estilo se vê obrigado a se desfazer publicamente (ou
sigilosamente) de constrangida lealdade amizade cooptada em outras épocas. (Lula
e Dirceu possuem mesmas origens políticas?)
- Quando esse agente provoca divergência ou
conflito entre normas sociais do ambiente onde convive e as suas, estas
traduzindo valores que traz de ambientes outros que ele mesmo identifica em sua
origem de “cachorro vira-lata”, sem uma linhagem respeitosa de parâmetros
culturais. (Gafes sociais e culturais dos nossos políticos)
- Quando esse agente é miseravelmente
desclassificado pela própria pessoa a quem um dia admitia perante
a “tribo”: “Palavra que eu também teria feito da mesma maneira”. (políticos Ilustres desclassificaram políticos
corruptos.)
Estado
A Teoria (da correspondência) aplicada à vida
afetiva do “vira lata” Ignorantão, diz que, dado o constrangimento geral que
este provoca pela sua simples presença,
seu estado permanente é de vigilância, com receio de levar uma
vassourada, ter um cachorro maior atiçado em sua direção ou simplesmente ser
levado pela “carrocinha”. Seu disfarce (certa dose de canalhice, maneirismos
periféricos e hábitos oportunísticos, e badulaques materiais e sociais que
cultiva até com certa competência), o coloca num estado contraditório entre a
certeza do lixo que habita e o mundo das
ofertas de prazer que busca constantemente.
O estilo IGNORANTÃO
Será apresentado como resultado de um processo de individuação cujos aspectos básicos, arquétipos e instintos, reportamos em postagens no blog (v.
links):
Comportamento
burlesco e a individuação
O
Ignorantão exterioriza seu estilo de comportamento burlesco, caracterizando um processo de individuação, reconhecido em casos que veremos
adiante.
Os links (1), (2) e (3) apresentam os conceitos
básicos (arquétipo,
imagem, imaginação ativa, intuição, etc.) desse processo.
Arquétipo (extrato de Burlesco)
“Este termo, na psicologia
analítica, se refere a estruturas inatas, matrizes universais inscritas no
consciente coletivo, formadas por imagens psíquicas do inconsciente
coletivo comum a toda a humanidade, que servem de matriz para
desenvolvimento da psique e que acabam por se instalar no indivíduo junto com o
inconsciente pessoal.”
O
inconsciente pessoal conteria “todas as
aquisições da existência pessoal tais como o esquecido, o reprimido, o
subliminarmente percebido, pensado e sentido,
somado ao inconsciente coletivo”, no extrato da camada mais profunda da
psique, e seria associado a motivos e imagens mitológicas herdadas do
funcionamento psíquico em geral, ou seja, da estrutura cerebral herdada. O
Paraíso, crença existente nos mais distintos povos, constitui uma “situação em
que não há carências e as satisfações são imediatas e ilimitadas”, é um exemplo
de arquétipo.
A relação pessoal, por exemplo, com o Arquétipo ou
simbolismo do "Pai", do "Poder", é chamada de Complexo (originado no inconsciente pessoal),
tal como o Complexo de Édipo, que a Psicologia
define como a “inclinação erótica
recalcada de uma criança pelo progenitor do sexo oposto, em virtude do
conflito ambivalente com o progenitor do mesmo sexo, ao mesmo tempo amado,
odiado e temido”. (“Aurélio”)
Assim, “Pai” tem função simbólica relacionada a algum
poder, tal como o respeito imposto pelas regras, o receio de um DNA
perversamente danificado, a (expectativa da) paternidade, o culto do macho
(falo masculino), e outros simbolismos. Já o GRANDE PAI é um exemplo de arquétipo
junguiano, o “pai” coletivo comum na religião ocidental, na figura de um grande Deus masculino que tudo
vê.
Os
arquétipos mais conhecidos estão relacionados a quatro principais impulsos
humanos Cada impulso pragmático caracteriza
arquétipos em diferentes situações. (estado
de coisas)
->Mestria/Risco: (arquétipos do Herói, Fora-da-Lei e Mago).
->Independência/Auto-realização: (arquétipos do Inocente, Explorador e
Sábio).
->Pertença/Grupo: (arquétipos do Bobo da Corte, Cara Comum e Amante).
->Estabilidade/Controle: (arquétipos do Criador, Prestativo e
Governante).
(Ref.
Margaret Mark e Carol Pearson no livro “O Herói e o
Fora-da-Lei”.)
Individuação
Nota
do autor: O texto a seguir resume o processo de Individuação, que terá versão completa em uma postagem a ser feita brevemente.
Individuação
Individuação , como um processo
de simbolização, subjetivo, resistente ao predomínio da razão, rico de
ilimitadas possibilidades culturais. Nesse contexto, a individuação adere aos conceitos vistos, segundo um modelo que
caracteriza arquétipos em diferentes
situações (estado de coisas). Este modelo pode ser verificado sob os seguintes
aspectos no comportamento do sujeito individuado:
a)
Escolha da aparência ideológica (conhecimento) derivada do arquétipo.
b)
Direcionamento (morbidez) dos sentidos das ações
c)
Ajuste (ação) do equilíbrio e solidez da
arquitetura psicológica construída pela imagem
e pragmática gerada pelo arquétipo e
suas tendências.
Escolha
Inconscientemente
o indivíduo “escolhe” a aparência ideológica
do arquétipo, com o qual pretende influenciar comportamentos ou atitudes das
pessoas. Por exemplo, a compulsão para o poder, associado a um fantasma da
história (que tal Hitler?), certamente facilita
ao indivíduo convencer as pessoas, ao invés de apelar para boatos e mentiras, ou
usar de paradoxos, paródias, contrastes absurdos, contra-senso, caricaturas,
etc.
Direcionamento
O
direcionamento dado pelo indivíduo, como resultado das tensões ou motivações
recebidas do ambiente via inconsciente arquetípico e em especial da sua particular visão do
mundo, é feito através de suas “contribuições”, ás vezes cômica, séria outras
vezes, mas normalmente constituída de traços de subjetividade, quando não distorcidos
dos valores éticos e morais ou da realidade.
Ajuste
(v. tendências)
O
equilíbrio e a solidez psicológica do sujeito individuado, de maneira geral, depende
do ajuste daqueles aspectos distorcidos dos valores éticos e morais ou da
realidade, considerados como tendências.
É verdade que alguns arquétipos mostram
características de doenças patológicas, que devem ser adequadamente tratados
pelos psicólogos clínicos ou pela psiquiatria. Casos patológicos não merecem o
riso da zombaria, mas sim pena e
comiseração, pelas vias do tratamento politicamente correto que ensejam.
Portanto, o arquétipo,
direcionador do comportamento burlesco, fornece uma visão particular de mundo
ao indivíduo. Produz conceitos insensatos que buscam a coerência interna e
externa de elementos emocionais e imaginários do modo de pensar (fisiológico), que
resulta comportamento diferenciado e
mórbido em relação ao ambiente que o cerca. Isto constitui as peças principais
do mecanismo psicológico e cultural comumente consideradas na utilização de
arquétipos no burlesco.
Lembrando o princípio da Individuação, finalmente poderemos dizer:
“Ei-lo”:
Contribuições
A
individuação como fonte de humor, agrega contribuições seja em considerações
sobre “focos de subjetivação”, “traços de subjetividade”, “tipos psicológicos”,
“simbolizações” , seja pelos temas que explora (imagens como
“Sacrifício”, “criação de valores”, o aspecto lúdico,
etc), que Jung, Freud e outros pesquisadores da psicologia e
da psiquiatria acrescentam como valor propedêutico ao Burlesco.
Por exemplo, a
imagem arquetípica do “ SACRIFÍCIO ”, que um
candidato a cargo no Senado admitia estar fazendo em nome da Nação. Ei-lo,
com o seu comportamento, derivado provavelmente do arquétipo do Herói
!!.
“Essa parte do
inconsciente não é individual, mas universal; em contraste com a psique
pessoal, ela possui conteúdos e modelos de comportamento que são mais ou menos
iguais em todos os lugares e em todos os indivíduos...
O arquétipo é
essencialmente um conteúdo inconsciente que é alterado ao tornar-se consciente e ao ser percebido, e assume sua cor a partir da
consciência individual na qual por acaso aparece”. (C.G.Jung - The Archetypes)
Apresentamos a seguir, exemplos de comportamentos derivados de arquétipos :
Arquétipo 1 – O genérico politicamente incorreto
Recomenda-se muito cuidado, pois o indivíduo que usa tal arquétipo está habituado a:
- apropriar-se de idéias de outra pessoa.
- diminuir a importância dos outros.
- fazer comparações desonestas, colocando as pessoas no
mesmo valo fétido em se encontra.
- fazer acusações infundadas.
- agredir qualquer pessoa que seja mais qualificada que ele.
Arquétipo 2 - Político
Certo político brasileiro pode ser reconhecido pelas expressões que definem seu arquétipo:
- Procura manipular platéias utilizando-se de triunfalismo ignóbil (“ninguém mais do que eu
neste país, pode falar de ética.”)
- Faz apologia de sua origem humilde e de sua precária
formação para contrastar com a posição de poder que atingiu.
- Demonstra total falta de autocrítica
Final
O
burlesco explora cada situação em todas as suas dimensões, procurando devassar
o pensamento ou ato mais escatológico dos seus personagens, expor-lhes
vontades, frustrações e irritações, ou o fatalismo ou o determinismo de
reações criadas pela imaginação ativa perante situações onde a insensatez ou a
morbidez típica do gênero humano, originada no inconsciente, acaba
predominando.
A revista "Veja"
relata um encontro no dia 26 de abril de 2012 entre o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No
encontro, segundo a publicação, Lula sugeriu o adiamento do julgamento do
mensalão em troca de proteção ao ministro na CPI do Cachoeira. Veja a
declaração do Ministro: “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas
do presidente Lula.”
-
José Nagado – (09.03.2014)