CRÔNICAS ANACRÔNICAS - Amo São Paulo - 510 anos !
FOTOS DE SÃO PAULO (José Nagado)
1959 ... vim para São Paulo com treze anos de idade!. Cheguei a andar de bonde "camarão"; joguei em campos de futebol de "várzea"; trabalhei como office-boy em escritórios no centro velho; estudei em Colégio do Estado (I.E. Antonio Firmino de Proença); trabalhei em grandes empresas (Banco Moreira Salles, SKF, VASP); vi São Paulo iniciar a construção do seu Metrô; formei-me na Escola de Engenharia Mauá, em 1971; vi grandes mudanças no centro e na periferia...
Fotografei São Paulo para poder falar um pouco das mudanças que vi e para um dia poder contar para meus filhos e netos.
FOTOS DE SÃO PAULO
Era um domingo, dia em que, com as ruas mais tranqüilas, gosto de
caminhar, às vezes de máquina a tiracolo, fotografando São Paulo.
Meu roteiro, dessa vez, incluía a Avenida São João , a Praça Marechal
Deodoro, Elevado Costa e Silva, Avenida Ipiranga, Anhangabaú , Teatro Municipal
e finalmente a Praça da Republica.
Enquanto caminhava, fotografando (clic) aqui e ali, lembrava da São
Paulo dos anos 60. Com exceção do horroso (clic) Elevado Presidente Arthur da
Costa e Silva, construído no início da década de 70, quase quarenta anos atrás
estaria vendo as mesmas construções, quando eu e meus amigos caminhávamos pela
(clic) avenida São João , indo ao Estádio do Pacaembu, para ver o futebol nas tardes de domingo.
O elevado Costa e Silva, interditado para veículos aos domingos, atrai
gente que vai andar a pé ou de bicicleta. Asfalto negro das pistas, calçadas
cinzentas , nenhum jardim ou árvore sobre o elevado. Verde, só olhando para as
ruas, avenidas e praças marginais (clic). É muita feiúra, com seu traçado
sinuoso, interligando as zonas Leste e Oeste de São Paulo. É o chamado
“Minhocão”, que seus tristes moradores vizinhos um dia tiveram que engolir, das
janelas de seus apartamentos na Avenida São João.
Foi um alívio sair do “Minhocão”e ir para a “Cinelândia”, como era conhecida
aquela região próxima das avenidas São João e Ipiranga, e da Praça da
República, onde ficavam bons e grandes cinemas de São Paulo. Rever velhos
cinemas como o Olido , Ipiranga (hoje cada um com duas salas de cinema), Marabá
e Paissandu, é claro, me lembraram programas com alguma namoradinha ou com
aquele bandão de garotos farristas que algumas vezes acabava expulso do cinema.
Caminhando pela São João, no sentido do Anhangabaú, logo chego (clic) à
praça Júlio de Mesquita, hoje um local até bem conservado, a marcar com
dignidade a confluência da Alameda Barão de Limeira com a Avenida São João.
Belos e antigos prédios (clic) ladeiam a praça com seu chafariz ornado de
lagostas. Naqueles velhos tempos, ali perto ficava a zona do Lixo, com seus
cinemas de quinta categoria que exibiam filmes pornôs e suas casas de
prostituição. Mas o meu roteiro não era por ai.
Onde antigamente era o cine Metro, atualmente é uma dessas igrejas que
Exploram o proselitismo religioso simplório por todos os cantos da
cidade. Metro, Majestic, Windsor e outros cinemas deixaram de existir com o
advento dos pequenos cinemas localizados nos grandes Shoppings.
O cruzamento da Avenida São João com a Avenida Ipiranga continua a mesma
“poesia concreta”de “Sampa”de Caetano Veloso, e da esquina ainda se pode ver
(clic) a fachada do antigo salão de danças na Avenida Ipiranga, onde o boêmio
dos meus vinte anos uma noite ousou botar o pé, mesmo sem saber onde botar o pé
num samba bem sacudido.Nenhum dos meus amigos podia me gozar. Ninguém sabia
nada disso.
Nunca deixo de fotografar as Igrejas que encontro pelo caminho. No largo
do Paissandu a Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (clic)
continua da cor amarela, encardido. Uma banca de revista bem em frente à igreja
atrapalhou a execução da foto. Cartazes de propaganda de políticos também. É
preciso muita atenção para não poluirmos nossas fotos com essa propaganda. Toda
a cidade está cheia de propaganda eleitoral para a eleição de prefeito e
vereadores, em Novembro.
O calçadão da Avenida São João começa logo após o cruzamento com a Rua
Conselheiro Crispiniano. Os prédios desse pedaço (clic), não sei porque, me
lembraram a São Paulo da garoa, prosaica marca da cidade, quase inexistente quando
cheguei por aqui, em 1959. O velho prédio onde ficava o Conservatório Musical
de São Paulo (clic) está todo deteriorado, com tapumes. Parece que logo vai ser
demolido.
O prédio (clic) dos Correios, na esquina com o Parque do Anhangabaú ,
destaca-se bastante na paisagem local. O calçadão termina num mirante donde se
pode ver todo o Anhangabaú e os edifícios (clic) do Banespa, do Martinelli e do
Banco do Brasil, que estamos acostumados a ver em muitos cartões postais de São
Paulo.
O Cine Cairo (clic), resiste bravamente ainda, no Anhangabaú, hoje um
enorme calçadão, o Parque Anhangabaú, sob o qual cruzam as avenidas Prestes
Maia e a Avenida Vinte e tres de Maio.
O Parque do Anhangabaú e a Praça do Teatro Municipal são uma festa para
a nossa Câmera (clic, clic, clic, clic....)
A caminho do local onde
estacionei meu carro, passo pela Praça da República, repleta de
pintores. Lá, quadros com cenas vigorosas de cavalos em movimento e caravanas
árabes montando camelos pelo deserto modorrento, acabaram fixados (clic) em
foto, com o artista e o barrete que o caracteriza em recortes de jornais,
expostos junto aos quadros. Sua maneira de alardear a fama que já conquistou.
No fim da praça , quadros com vistas de São Paulo (clic) motivam uma
prosa com o seu pintor, boêmio, gaúcho de nascença, paulista de coração, que
aprendeu cedo a realidade das ruas da cidade, nas pensões baratas da boa do
lixo, nas noitadas dos bares e boates da região, num tempo que não era difícil
amar São Paulo.
J.N – 16/02/01.