B&F – 004.2013 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS E O BURLESCO
Neves
Seu
e-mail obrigou-me a reler tudo que havia lido sobre os Pré-Socráticos, para
recuperar o motivo de ter-me referido a eles com o adjetivo
"Histriônico", na verdade, "Profundidade
Histriônica".
Seriamente
falando, os pensamentos dos Pré-Socráticos produzem uma sensação leve e
superficial de pensamentos tornados obsoletos pelo aprofundamento invasivo de
filósofos pósteros. Em sua defesa, considero que os Pré-Socráticos foram
autênticos em seus pensamentos, retratos temporais da imagem cosmológica
daqueles pensadores.
"Profundidade
histriônica" nos lembra o oxímoro então criado naturalmente, com a
"profundidade" de uma razão atemporal e uma aparência
"histriônica" superficial, craveira atribuída aos Pré-Socráticos, por
aqueles que se julgaram aptos a avaliar aqueles pensamentos. Esta foi a minha
justificativa para "Profundidade histriônica", que se transformou num
texto escrito em (2011) levemente modificado agora, para responder ao caríssimo
Neves.
Profundidade histórica
A pesquisa epistemológica sobre o “Burlesco” envolveu-nos com a
(ir)responsabilidade de adquirirmos um conhecimento (burlescamente)prático em
relação à filosofia ocidental, obrigando-nos a adotar alguns critérios para
joeirar textos e filósofos de acordo com os
objetivos da pesquisa.
Para isto,
reconhecemos desde o início, a necessária distinção entre o mítico, ou
mito-poético, e o conhecimento racional, desfazendo-nos de
qualquer tentativa sensacionalista (farsa) de associar os primeiros
pré-socráticos, desde Tales, da proximidade intelectual com o cientista
moderno, e o afastamento das idéias de profetas e videntes de tradições gregas
mais antigas.
Critérios (burlescabilidade, rsrsrs)
a)Em primeiro lugar, tivemos que
nos precaver contra o filosofismo excessivo, refutando idéias por vezes interessantes (para não
dizer engraçadas) mas não alinhadas com
um “devir” evolutivo do (pensamento) burlesco (por causa deste critério, mais
cacetadas estão “porvir”).
b)Em segundo lugar, tivemos que refutar tanto evoluções (positivas ou negativas) como também deturpações, de
doutrinas ou proposições filosóficas (e científicas) significativas para
a história da filosofia (e das
ciências), mas insignificantes para o (pensamento) burlesco.
2. Pitágoras, (580 – 497
a.C) – acreditava que arbustos, feijões
têm alma.
3. Heráclito, (540 – 490 a.C) – “tudo era feito de fogo”; a
“metafísica de Heráclito”, para falar da sua doutrina do estado do fluxo.
4. Anaxágoras ( 500 – 432 a.C) - várias
substâncias diferentes compunham a totalidade do espaço existente. Cada
elemento constituinte seria, portanto, fundamental em si mesmo e a matéria
constituída pela combinação desses elementos era infinitamente indivisível.
5. Zenão de Eléia
(490 – 430 a.C)- Apresentou um conjunto de paradoxos para mostrar que
nada pode mover-se.
6.Demócrito (460 – 370 a.C)- indivisibilidade dos átomos
(Sócrates viveu entre (469-399 a.C); portanto , alguns Pré-Socráticos foram seus contemporâneos).
Critérios adotados - Exemplos
Critério (a)
As idéias filosóficas dos Pré-Sócráticos foram
apreciadas em épocas posteriores por
outros filósofos como Aristóteles, por exemplo, que comentou com certa
benevolência irônica o “princípio da água” e a “existência da alma”, segundo
Tales de Mileto. (ver nota 1)
Nota 1.
Embora não existam
fragmentos da obra de Tales, seu pensamento pode ser conhecido a partir da
"Metafísica", obra do também filósofo grego Aristóteles.
Segundo historiadores, Diógenes Laércio, Simplício e principalmente Aristóteles (Metafísica), Tales foi comerciante e conquistou recursos suficientes para dedicar-se a suas pesquisas no Egito e Babilônia, onde, em contato com astrônomos e matemáticos deve ter recolhido informações para seus teoremas da matemática, e fundamentos de geometria e astronomia.
Segundo historiadores, Diógenes Laércio, Simplício e principalmente Aristóteles (Metafísica), Tales foi comerciante e conquistou recursos suficientes para dedicar-se a suas pesquisas no Egito e Babilônia, onde, em contato com astrônomos e matemáticos deve ter recolhido informações para seus teoremas da matemática, e fundamentos de geometria e astronomia.
Critério (b)
Foram refutados enunciados ou proposições filosóficas dos Pré-Socráticos,
como por exemplo sobre a
“indivisibilidade dos átomos” (Demócrito),
que acabou por ficar como um legado para a posteridade, exatamente pela
idéia da “não indivisibilidade do átomo”, comprovada nos tempos modernos.
Dizer-se que Demócrito teria antecipado a teoria atômica moderna é um momento
histriônico na Filosofia dos Pré-Socráticos. (ver nota 2 – Profundidade
histriônica)
Nota 2 - Profundidade histriônica
Os enunciados
pré-socráticos de forma geral atenderam ao critério (a) ou (b) ou ambas, e,
quando tratados por outros filósofos o
foram para defender suas próprias idéias filosóficas.
Tales(625-558 a.C)
Assim pretenderam, por exemplo:
Hegel (1770-1831): “A grande
crítica hegeliana ao pensamento de Tales está em afirmar a água, que é algo
singular, como um universal. Hegel busca a unidade, mas segundo este isso se dá
no fenômeno da consciência”.
Nietszche (1844-1900) – crítica ao
pensamento filosófico, atrelado aos grandes enganos da civilização
ocidental: religião e a ciência.
Heráclito (540 – 490 a.C)
Hegel,
influenciado pelo pensamento de Heráclito afirmou: “Não existe frase de
Heráclito que eu não tenha usado em minha Lógica.” Marx (1818-1883) e Darwin(1809-1882)
eram seguidores de Heráclito. Marx, admirador de Darwin, foi hegeliano na
juventude. Essa relação se torna ainda mais intrincada com a afirmativa surrealista de um pretenso (e pro
fundo) cientista político: “A
noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave
tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias
raciais que deram forma ao hitlerismo”.(!!)
Heráclito
interpretou a realidade tendo como princípio o devir - “ Não se pode entrar
duas vezes no mesmo rio”.
Gostaria que
alguém explicasse tanta profundidade.
Conclusão
Os Pré-Socráticos, cosmologicamente afinados com o momento histórico, ganharam
certa “Profundidade histriônica” ,
quando cérebros ineptos procuraram se apropriar de suas idéias originais, agregando-lhes interpretações próprias.
José Nagado (08.03.2013)
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