POST 02.2013
MODELO ESTRUTURAL - final (2)
Satírico
Segundo o “Aurélio”, Satírico é aquele que satiriza, ou envolve sátira e por extensão: picante, mordaz, sarcástico. Na literatura latina, a sátira era obra de caráter livre no gênero, na forma, na métrica, e que censurava os costumes, as instituições e as idéias contemporâneas em estilo irônico ou mordaz. Qualquer escrito ou discurso picantes ou maldizentes, crítico. Troça, zombaria, ironia. Censura jocosa, caracterizada pelo uso de imitação burlesca (paródia), jogo de inversões, liberdade e criatividade do satírico, principalmente pelo exagero de situações fictícias.
Integração
Abrangência de comportamentos do Satírico, observados através dos Fundamentos (princípios) burlescos com os quais procuramos aferir seu controle de relacionamentos e situações:
- Princípio do Terceiro Excluído (F.4),
- Fundamentos Teológicos (F.6) e
- Fundamentos eróticos (F.9).
O estilo satírico foi buscar os traços de caráter de sua integração na exploração de simbolismos e na fragilidade psicológica ou na alienação das pessoas.
Competências
F.4 – Princípio do Terceiro excluído
Este princípio diz que:
“Entre a afirmação e a negação não há meio termo, ou melhor, entre dois juízos contraditórios, necessariamente um é verdadeiro e não se admite um terceiro juízo”.
Um aforismo expressa com ironia este princípio:
“Havia no mundo apenas duas pessoas que amava ardentemente: uma delas era o seu maior lisonjeador e a outra era ele próprio” (G.C. Lichtenberg)
O satírico caracteriza-se pela indução do outro a juízo errado, reduzindo primeiramente esse juízo a um valor simbólico através de um argumento absurdo puro e simples, porém com uma leve pitada de racionalização, o engodo apetitoso para o seu interlocutor. Esquematicamente o processo é o seguinte:
a) Inicialmente o interlocutor é levado a aceitar os termos do satírico, que alega coerência e bom senso no campo de juízos contraditórios (costumes, crenças, política, etc).
b) Depois, ele leva esses juízos ao plano metafórico.
c) Em um terceiro momento, substitui o juízo do outro pelo juízo que representa a sua (do satírico) verdade.
No picadeiro indecente em que se transformou a Câmara dos Deputados muitos deputados testam a paciência do brasileiro. Gozadores institucionais do povo brasileiro, políticos corruptos existem de montão naquela Casa do Congresso e deixam indignados os verdadeiros brasileiros. Essa Canalha (e seus familiares) já não tem vergonha de expor sua indecência.
No auge dos debates sobre a corrupção no Brasil (2006) um certo político brasileiro aplicou com muita propriedade aquele vil esquema em sua justificativa de atos de corrupção tornados públicos, fazendo a seguinte declaração:
“Eu quero deixar claro que o recurso (do caixa clandestino de uma empresa estatal) não sai do caixa da Empresa. Isso é de relação com as empresas que fornecem serviços à Empresa. É assim em todas as empresas estatais. Por isso os partidos se digladiam pelas nomeações (de cargos nas estatais). Sempre foi assim”.
Vamos verificar os passos (a,b,c) acima, para mostrar o estilo desse Gozador Satírico quando tentou induzir o povo brasileiro a erro de julgamento da trama de corrupção nas estatais. Na realidade, ele procurava posicionar favoravelmente o julgamento crítico do povo brasileiro, para atenuar as ameaças a seus seguidores corruptos, já apontados perante a opinião pública.
a) "Eu quero deixar claro que o recurso (do caixa clandestino de uma empresa estatal) não sai do caixa da Empresa".
Procura estabelecer (a sua) coerência e bom senso no campo de juízos contraditórios.
b)"Isso é de relação com as empresas que fornecem serviços à Empresa (estatal). É assim em todas as empresas estatais".
Ao levar (transladar) esses juízos ao plano metafórico, “isso” passa a ser o produto (condensação) da promiscuidade (recalcamento) entre a empresa estatal e suas fornecedoras de serviços, que o político corrupto pretende instar como algo natural (aceitável) na cabeça dos brasileiros.
c) "Por isso os partidos se digladiam pelas nomeações (de cargos nas estatais). Sempre foi assim".
“Isso” (recurso) tem relação de causa e efeito com o fato das nomeações pelas quais os partidos se digladiam.
Este juízo trata-se de um deslocamento (metonímia) do sentido (recurso) para os cargos nas estatais, um novo juízo que representa a sua (do satírico) verdade:
Resumo da ópera:
Entre (a) afirmação de que o recurso não sai do caixa da empresa e (b) negação de desvio de recurso da empresa, (c) não se admitiria o interesse no recurso (escuso) das estatais, mas é isto que ocorre (o terceiro juízo): a detonação (avacalhação) do Fundamento com a revelação das verdadeiras tendências dos políticos.
Concluindo
O satírico nem sempre consegue posicionar favoravelmente o julgamento crítico do interlocutor, mas não deixamos de rir da tentativa. (nós rimos, eles gozam)
observação: os fundamentos Teológicos (F.6) e Eróticos (F.9) são apresentados no texto do Burlesco.
Notas:
1.A “relação” entre as Estatais com as empresas fornecedoras de serviços apresenta implicações psíquicas, sociais e humanas na conhecida alienação do brasileiro, que impede ou bloqueia qualquer atitude sua de indignação, mesmo perante os escândalos de corrupção que ocorrem no governo.
2. O apêndice (5.3) – Semiologia – Estruturalismo – Fundamentos Mitológicos, cita abrangências da Semiologia (Levi - Strauss) e da Psicanálise (Freud e Lacan) utilizadas na prescrição do estilo Gozador Satírico. (no texto do Burlesco).
Em “O mito individual do neurótico”, Lacan reconhece no mito, alusão ao simbolismo de Levi – Strauss, uma fórmula discursiva para “algo que não pode ser transmitido na definição, porque a fala não pode apreender a ela mesma, nem apreender o movimento de acesso à verdade como uma verdade objetiva.”
- O estilo Gozador Satírico acusa, no indivíduo, características de formação do sintoma daquilo que Freud denominou de condensação e de deslocamento.
- Lacan estabelece uma homologia entre as duas grandes composições do significante, a Metáfora e a Metonímia, o simbólico na formação do Sintoma: Condensação e Deslocamento, este último considerado como o meio mais apto a frustrar a Censura. Portanto, deslocamento associa um deslizamento (deslize, melhor dizendo) ou transposição do significado de “Recurso”.
(josé nagado - 24.01.2013)
POST 02.2013
MODELO ESTRUTURAL - final (2)
Satírico
MODELO ESTRUTURAL - final (2)
Satírico
Segundo o “Aurélio”, Satírico é aquele que satiriza, ou envolve sátira e por extensão: picante, mordaz, sarcástico. Na literatura latina, a sátira era obra de caráter livre no gênero, na forma, na métrica, e que censurava os costumes, as instituições e as idéias contemporâneas em estilo irônico ou mordaz. Qualquer escrito ou discurso picantes ou maldizentes, crítico. Troça, zombaria, ironia. Censura jocosa, caracterizada pelo uso de imitação burlesca (paródia), jogo de inversões, liberdade e criatividade do satírico, principalmente pelo exagero de situações fictícias.
Integração
Abrangência de comportamentos do Satírico, observados através dos Fundamentos (princípios) burlescos com os quais procuramos aferir seu controle de relacionamentos e situações:
- Princípio do Terceiro Excluído (F.4),
- Fundamentos Teológicos (F.6) e
- Fundamentos eróticos (F.9).
- Princípio do Terceiro Excluído (F.4),
- Fundamentos Teológicos (F.6) e
- Fundamentos eróticos (F.9).
O estilo satírico foi buscar os traços de caráter de sua integração na exploração de simbolismos e na fragilidade psicológica ou na alienação das pessoas.
Competências
F.4 – Princípio do Terceiro excluído
Este princípio diz que:
“Entre a afirmação e a negação não há meio termo, ou melhor, entre dois juízos contraditórios, necessariamente um é verdadeiro e não se admite um terceiro juízo”.
Um aforismo expressa com ironia este princípio:
“Havia no mundo apenas duas pessoas que amava ardentemente: uma delas era o seu maior lisonjeador e a outra era ele próprio” (G.C. Lichtenberg)
O satírico caracteriza-se pela indução do outro a juízo errado, reduzindo primeiramente esse juízo a um valor simbólico através de um argumento absurdo puro e simples, porém com uma leve pitada de racionalização, o engodo apetitoso para o seu interlocutor. Esquematicamente o processo é o seguinte:
a) Inicialmente o interlocutor é levado a aceitar os termos do satírico, que alega coerência e bom senso no campo de juízos contraditórios (costumes, crenças, política, etc).
b) Depois, ele leva esses juízos ao plano metafórico.
c) Em um terceiro momento, substitui o juízo do outro pelo juízo que representa a sua (do satírico) verdade.
No picadeiro indecente em que se transformou a Câmara dos Deputados muitos deputados testam a paciência do brasileiro. Gozadores institucionais do povo brasileiro, políticos corruptos existem de montão naquela Casa do Congresso e deixam indignados os verdadeiros brasileiros. Essa Canalha (e seus familiares) já não tem vergonha de expor sua indecência.
No auge dos debates sobre a corrupção no Brasil (2006) um certo político brasileiro aplicou com muita propriedade aquele vil esquema em sua justificativa de atos de corrupção tornados públicos, fazendo a seguinte declaração:
“Eu quero deixar claro que o recurso (do caixa clandestino de uma empresa estatal) não sai do caixa da Empresa. Isso é de relação com as empresas que fornecem serviços à Empresa. É assim em todas as empresas estatais. Por isso os partidos se digladiam pelas nomeações (de cargos nas estatais). Sempre foi assim”.
Vamos verificar os passos (a,b,c) acima, para mostrar o estilo desse Gozador Satírico quando tentou induzir o povo brasileiro a erro de julgamento da trama de corrupção nas estatais. Na realidade, ele procurava posicionar favoravelmente o julgamento crítico do povo brasileiro, para atenuar as ameaças a seus seguidores corruptos, já apontados perante a opinião pública.
a) "Eu quero deixar claro que o recurso (do caixa clandestino de uma empresa estatal) não sai do caixa da Empresa".
Procura estabelecer (a sua) coerência e bom senso no campo de juízos contraditórios.
b)"Isso é de relação com as empresas que fornecem serviços à Empresa (estatal). É assim em todas as empresas estatais".
Ao levar (transladar) esses juízos ao plano metafórico, “isso” passa a ser o produto (condensação) da promiscuidade (recalcamento) entre a empresa estatal e suas fornecedoras de serviços, que o político corrupto pretende instar como algo natural (aceitável) na cabeça dos brasileiros.
c) "Por isso os partidos se digladiam pelas nomeações (de cargos nas estatais). Sempre foi assim".
“Isso” (recurso) tem relação de causa e efeito com o fato das nomeações pelas quais os partidos se digladiam.
Este juízo trata-se de um deslocamento (metonímia) do sentido (recurso) para os cargos nas estatais, um novo juízo que representa a sua (do satírico) verdade:
Resumo da ópera:
Entre (a) afirmação de que o recurso não sai do caixa da empresa e (b) negação de desvio de recurso da empresa, (c) não se admitiria o interesse no recurso (escuso) das estatais, mas é isto que ocorre (o terceiro juízo): a detonação (avacalhação) do Fundamento com a revelação das verdadeiras tendências dos políticos.
Concluindo
O satírico nem sempre consegue posicionar favoravelmente o julgamento crítico do interlocutor, mas não deixamos de rir da tentativa. (nós rimos, eles gozam)
observação: os fundamentos Teológicos (F.6) e Eróticos (F.9) são apresentados no texto do Burlesco.
Notas:
1.A “relação” entre as Estatais com as empresas fornecedoras de serviços apresenta implicações psíquicas, sociais e humanas na conhecida alienação do brasileiro, que impede ou bloqueia qualquer atitude sua de indignação, mesmo perante os escândalos de corrupção que ocorrem no governo.
2. O apêndice (5.3) – Semiologia – Estruturalismo – Fundamentos Mitológicos, cita abrangências da Semiologia (Levi - Strauss) e da Psicanálise (Freud e Lacan) utilizadas na prescrição do estilo Gozador Satírico. (no texto do Burlesco).
Em “O mito individual do neurótico”, Lacan reconhece no mito, alusão ao simbolismo de Levi – Strauss, uma fórmula discursiva para “algo que não pode ser transmitido na definição, porque a fala não pode apreender a ela mesma, nem apreender o movimento de acesso à verdade como uma verdade objetiva.”
- O estilo Gozador Satírico acusa, no indivíduo, características de formação do sintoma daquilo que Freud denominou de condensação e de deslocamento.
- Lacan estabelece uma homologia entre as duas grandes composições do significante, a Metáfora e a Metonímia, o simbólico na formação do Sintoma: Condensação e Deslocamento, este último considerado como o meio mais apto a frustrar a Censura. Portanto, deslocamento associa um deslizamento (deslize, melhor dizendo) ou transposição do significado de “Recurso”.
(josé nagado - 24.01.2013)
(josé nagado - 24.01.2013)