Cassio Carvalheiro

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

3.BURLESCO-Mod. Estrutural - Estilo (b) - (cont.5)


A função - Estilo (b) 

A Estrutura do Burlesco toma a forma inicial do gráfico - FCB  que apresenta também algumas características básicas para uma taxinomia (classificação) de estilos,  cujas variáveis e função (Estilo)  que as interliga serão apresentadas a seguir. 
As categorias de estilos consideradas no gráfico FCB,  Pobre de Espírito, Gozador, Espirituoso e Genial, representando a base  dessa taxinomia , foram coletadas na cultura burlesca veiculada pela Língua e contém sua referência inicial no fisiologismo e condicionamentos dados pelos conceitos  morais e éticos que acompanham a definição natural de cada categoria.  O desdobramento posterior  dessas categorias de estilos, teve como referência, manifestações rarefeitas dos respectivos  sintomas, típicas, identificadas em cada estilo.

Tendências e Traços de Caráter
Primeiramente, consideremos que, para determinado comportamento burlesco, circunstancial, especialmente do “outro”, a influência dos Impulsos comandada pelo estado de consciência ou subconsciência, dependentes do emocional (e primitivo, sexual e infantil, isto, de responsabilidade do Freud), é revelado pelas tendências e inclinações, que  favorecem a exposição de traços do  caráter ou temperamento nas relações desse indivíduo com o mundo, direcionadas (comicamente direcionadas)  para a  criação de seu próprio Espaço.

Como fizemos amiúde, agora também vamos aliviar o leitor da tediosa necessidade de consultar o dicionário para buscar o significado das palavras  Caráter e Tendências, embora o texto que inserimos no capítulo 5 (textos explicativos) seja mais esclarecedor. Assim:
Caráter - O conjunto dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza, temperamento; O conjunto das qualidades (boas ou más) de um indivíduo e que lhe determinam a conduta e a concepção moral.
Tendência. – palavra usada como sinônimo de apetite, instinto, inclinação, é entendida no campo da psicologia, como toda atividade espontânea e subconsciente necessária à conservação e desenvolvimento dos seres vivos.

A seguir, consideremos a modalização das categorias   e dos estilos derivados, isto é , a expressão da atitude do falante com relação ao conteúdo do seu enunciado, já citada, que utilizarão  fundamentos lógicos , ideológicos e comportamentais.

Assim, através dessa modalização, poderemos   discernir um estilo  indicado no gráfico FCB,  pelas particularidades de caráter,  definidas por um conjunto integrado desses fundamentos.   (v. Integração) 
Neste ponto, estando identificadas as variáveis (caráter, fundamentos e tendências), envolvidas  na taxionomia do burlesco,  passamos a questionar como essas variáveis se combinariam em uma função que sintetizasse as idéias até então exploradas, e  concluímos que uma função de duas variáveis (fundamentos e tendências) parametrizadas em torno da terceira, o caráter, atenderia nosso objetivo.

Assim, pode-se constatar que,  partindo de um caráter genérico (K) chegaremos  ao termo final de um estilo (b),  que seria  representado por uma função matemática do tipo :

Estilo (b) =  Caráter(k) . [C Fundamentos  (n , i)] . [ ∑ tendências (x, j)]    

E Berg (o mesmo Lichtenberg, após a iluminação) como homem das ciências físicas, sairia do seu túmulo para anunciar  ao mundo: FINALMENTE REVELADA A FUNÇÃO ESTILO (b) !!!
O leitor ficará maravilhado ao saber mais adiante, que o Estilo (b) de um indivíduo resultará  da combinação intensiva de suas variáveis: seu Caráter (k) e seus determinantes, o conjunto (C) de Fundamentos do Burlesco e de um conjunto integrado (∑) de suas tendências .
Por enquanto, para que o leitor não fique estressado tentando entender tão brilhante e esclarecedora expressão,  recomendamos fingir que não a viu e que nem tente discuti-la com amigos físicos ou matemáticos. Mais adiante retornaremos com outras considerações  em relação a essa expressão, 

O nexo

Se lhe tivessem apresentado a expressão matemática do Estilo (b), Berg teria reconsiderado seu aforismo no âmbito do burlesco e certamente concordaria: “O buraco realmente é mais em baixo”. Isto é, a reação a que Berg se refere , é aquilo que chamaremos aqui  de “estilo mais eficaz”,. tratando não só do   caráter (índole, natureza, temperamento) do indivíduo como também das relações com seus  fundamentos burlescos e tendências . Falando do burlesco, Berg teria reeditado seu aforismo da seguinte maneira :

Uma pessoa revela seu caráter (índole, natureza, temperamento), expondo voluntariamente ou não, suas tendências e inclinações junto com seus  condicionamentos (permissões e bloqueios), quando   utiliza seu estilo burlesco mais eficaz.

Esta frase estabelece o nexo entre o caráter e tendências e estilo (b) mais eficaz do indivíduo, quando se aplicam os fundamentos  especialmente denotativos desse estilo.       

Essa frase será mencionada  como o “Nexo Berg-Nagado”, e assim reconheceremos modestamente a colaboração do desconhecido Licht, digo Berg.  

Revisões 20/12/2006 - 05/05/2008 – 25/05/2008 - 19.09.2012
(josé nagado - 19.09.2012)

3.BURLESCO-Mod. Estrutural-Gráfico FCB (cont.4)


Descrição do Gráfico FCB

As categorias de estilos burlescos apresentadas em relação ao eixo horizontal, identificadas quanto aos níveis supostamente crescentes de complexidade de Fundamentos do burlesco:  Pobre de Espírito, Gozador,  Espirituoso e Genial.

Acima e abaixo desse eixo, estão indicados os estilos  mais eficazes (Simplório, Cândido, etc), encabeçados por cada uma daquelas categorias de estilos.
A indicação numérica das posições dos estilos  no gráfico está relacionada com o nível de complexidade dos Fundamentos ou do efeito dos condicionamentos.

Em relação ao eixo vertical, procuramos visualizar as curvas dos Condicionamentos, sobre as quais estão indicadas as características dos ambientes externos (ambiguidade, vulgaridade, etc),  que associadas às categorias e estilos do burlesco, evidenciam condições para alterações do estado  de espírito das pessoas presentes nesses ambientes. 
Acima dessas curvas de Condicionamentos, posicionam-se as tendências vetadas nos indivíduos. É onde prevalece a esfera do inconsciente e do pré-consciente e abaixo, prevalecem a esfera dos sentimentos (emoções).

Um eixo vertical auxiliar, de base Ética, admite confrontações (vergonha, verdade, etc) com relação a aspectos   éticos e antiéticos presentes nos estilos, ao lado direito desse eixo. À esquerda desse eixo, situa-se uma região de confusão ou ignorância  do indivíduo, sob o aspecto da ética.  

Observamos que no ambiente criado pelo aforismo de Licht, os discursos das pessoas acusavam indícios de estilos segmentados,   não somente lógicos, mas uma mistura de  modalizações (protocolos).
Veremos que estes segmentos de estilo vinculam a pessoa a uma Competência própria no burlesco, e ao mesmo tempo a desvinculam da imagem do fantoche usada pelos  autores de  comédias, que os manejam  através dos fios invisíveis de conhecidas mazelas ou vícios humanos,  concedendo-nos apenas alguns poucos fios desse fantoche , e a cuja intimidade   habituamos nosso espírito de leitor, expectador ou ouvinte, ávido de vontade de rir. E apenas rir, sem adquirir o controle desse fantoche. Talvez como o verdadeiro fantoche do comediante. Entendendo isto, neste ponto o leitor começa a deixar de ser o fantoche do comediante.


Complementando as idéias para a formalização da estrutura (de geração) do burlesco, acrescentamos ainda:


Em (2.3) associamos “Argumento” burlesco, a um conjunto de  variáveis (Espaço + Causas + Condicionamentos),  idéia sugerida pela dialética dos filósofos gregos, para a resolução lógica de situações próprias de aporias, antinomias, paradoxos e  questões relacionadas a outros campos semânticos, característicos daquilo que conhecemos como piadas ou anedotas.
O leitor poderá apreciar melhor tais argumentos se observar atentamente nas piadas e anedotas, essas ocorrências  que o “Aurélio” define como:
aporia – Hist. Filos. Conflito entre diferentes opiniões contrárias e igualmente concludentes, em resposta a uma mesma questão; Est. Ling. Hesitação fingida na escolha do rumo de um discurso;
antinomia – de uma forma ampla, designa um conflito entre duas idéias, proposições, atitudes, etc.. Por exemplo: antinomia entre fé e razão, entre amor e dever, entre moral e política. Num sentido mais restrito, designa um conflito entre duas leis, contradição entre duas leis ou princípios;
paradoxo – conceito que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo,
disparate; Filos. Afirmação que vai de encontro a sistemas ou pressupostos que se impuseram, como incontestáveis ao pensamento , ou  é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum

Em (2.4) caracterizamos “Comportamentos burlescos” de alguns personagens e em (2.6) definimos “Arquétipos” associados à conotação de fatalismo e determinismo, circunstanciais, principalmente quando se deseja atribuir  qualidades ou virtudes menos elogiosas a conhecidos personagens e protagonistas da vida real, sérios candidatos á sua inclusão no chamado anedotário popular do burlesco. Observa-se que esses comportamentos corresponderiam a pontos isolados se colocados no gráfico FCB.


Com esta explanação do FCB,  o leitor poderá inferir a coerência do aforismo de Licht , não só em relação a uma piada, mas, generalizando, ao burlesco em geral, com a conveniência de abusar do “estilo  do outro”.
(E voltamos a repetir que o leitor pode ficar tranqüilo, porque nosso objetivo é tratar do “próprio caráter” dentro do estilo burlesco como algo que geralmente observamos nos outros, mesmo que se trate de um clone perfeito do próprio leitor).
Revisões: /30/05/2005 - 04/05/2008 – 25/05/2008 - 18.09.2012
(José Nagado - 19.09.2012)


3.BURLESCO-Mod. Estrutural-Gráfico FCB (cont.3)



3.BURLESCO-Mod. Estrutural-Gráfico FCB (cont.3)

O aforismo  de Licht   escancara uma realidade nem sempre admitida por qualquer pessoa, como  vimos anteriormente e isto foi tomado como um dos axiomas para a elaboração  do gráfico FCB - “Fundamentos x Condicionamentos do burlesco”, citado logo no início deste texto.  

A Estrutura do Burlesco  tem origem nas proposições sugeridas por esse gráfico, cuja descrição apresentamos a seguir, 

Gráfico FCB - Fundamentos x Condicionamentos (fig.1)


Fundamentos  

A primeira noção de Fundamentos do burlesco (2.1) , foi resgatada dos princípios da Lógica, optando-se pela conceituação, axiomática  para o Burlesco, atribuída a Nietzsche (1844-1900), um filósofo que parece ter aprendido muito com os aforismos de Licht. (1742-1799). Senão, vejamos o que disseram  a respeito da lógica:
Licht : “A lei da razão suficiente enquanto simples princípio lógico é uma lei do pensamento necessário; nesta relação não pode ser contestada; Mas que se trate de lei objetiva, real, metafísica, isso já é outra questão”
Nietzsche da maturidade dizia que “a lógica é uma ficção útil, mais um construto humano entre outros, feita para tranqüilizar, para proporcionar uma compreensão conceitual da existência”.
Como vimos,  a instância filosófica  do indivíduo o vincula a uma modalização (lógica) própria ao burlesco, segmentada em sua essência por  aqueles princípios  lógicos já considerados em (2.1), cuja função é  fundamentar os sintomas de determinado estilo, isto é, caracterizar certa lógica estranha e dando amplo escopo ao absurdo em certos casos.

Condicionamentos

São fatores psicológicos que levam um indivíduo a alterações (cordiais, volúveis, ambíguos, vulgares, etc) de juízos, alterações de atributos (de coisas, pessoas, juízos), limitações de juízos ou ratificação da razão sob um ponto de vista inusitado, como se viu nas piadas. 

Domínios do Burlesco.
Qualquer condicionamento prejudicial (bloqueios) ou favorável  à ocorrência do riso, afeta uma situação,  uma ação ou um personagem, caracterizando o ambiente do burlesco com a sua natureza, eficiência,  captação e alcance, os Domínios do Burlesco.(v. 1.2).

Vemos então, que o alcance resulta de uma infinidade de fatores condicionantes como a empatia com o interlocutor, o tipo de humor (inadequado., adequado, agressivo), valores morais, formas de atenção, estado de espírito, sensibilidade, e perturbações da percepção de afetividade, emoções, da falta de imaginação, deficiências de condições fisiológicas e psicológicas da memória, perturbações da memória, fragilidade na associação de idéias, influências externas nas tendências, vontade, personalidade,  caráter, falha de comunicabilidade, etc. do indivíduo. 

A natureza do burlesco, sua eficiência, captação e finalmente, o seu alcance, considerados os condicionamentos humanos prováveis,  representam os Domínios do burlesco onde se localiza o universo do hábito humano de rir, para se diferenciar do grotesco ruído da hiena, que dizem,  também ri, mas ninguém sabe de quê. 
(José Nagado - 19.09.2012)










segunda-feira, 17 de setembro de 2012

3. BURLESCO - Modelo Estrutural - (cont.02)

3. BURLESCO - Modelo Estrutural - (cont.02)


No início do século XX, tendo Ferdinand Saussure (linguista) como precursor do Estruturalismo, Jacques Lacan, Roland Barthes, Levi-Strauss, Michel Foucault, e Jacques Derrida     procuravam nos diferentes  insights das ciências humanas (linguística, antropologia, história e  psicanálise), as bases   (significantes e significados) para explicar o sentido da realização individual e coletiva do homem. (v. 5.3 - Semiologia e Estruturalismo, texto informativo no Burlesco)

Em 1980 Woody Allen já era famoso quando publicou " Side Effects"  um livro com   textos humorísticos, entre os quais o "Discurso de Paraninfo" onde ele  faz alusões quanto às consequências danosas da ciência, tecnologia e da religião para a paz de espírito do homem moderno, revelando preocupação cômica dos estruturalistas:
"Esta preocupação pode ser escrita de duas maneiras, embora certos estruturalistas prefiram reduzi-la a uma equação matemática, apenas porque, assim, ela pode ser mais facilmente resolvida e mesmo carregada no bolso, junto com o pente".   


A ilação de W.A em relação aos quiasmos de Derrida (filósofo do Desconstrutivismo) e às fórmulas  de Lacan (psicanálise)  representa, certamente, a crítica dos filósofos analíticos de então (anos 1980) ao Estruturalismo, sem, entretanto, negarem  a função sintetizadora da matemática ou dos quiasmos (como um estilo de linguagem). 
A filosofia (analítica) com a sua postura de rigor filosófico e reflexão desapaixonada sobre a estrutura lógica da linguagem,  era vista por Derrida como atividade tendenciosa, retórica e subjetiva. Daí o motivo de ter aborrecido os filósofos analíticos.
Lacan se serve da linguagem estrutural para explicar os sintomas, via abordagem do inconsciente através da linguística e utiliza a noção de símbolo para designar o campo da linguagem. Para resumir, Lacan estabelece  entre os mecanismos de condensação e deslocamento uma homologia a duas grandes operações de composição do significante, a metáfora e a metonímia. No relato psicanalítico Lacan utiliza uma "fórmula da metáfora" que deve ter sido a panacéia matemática  para todas as preocupações  dos estruturalistas, segundo W.A.
No Burlesco, para definição da estrutura do burlesco associamos ao caráter do indivíduo, fundamentos universalmente aceitos  e suas tendências (e inclinações), Neste caso, chamaremos de Função de Estilo(b) do burlesco ao produto de  séries associadas ás variáveis (fundamentos e tendências) orientado pelo (vetor) caráter , evidenciando três níveis de solução (lógico, ideológico e comportamental), já vistos em exemplos postados neste blog. 

Esta estrutura baseada em (duas) séries, devida a Gilles Deleuze, em "Lógica do Sentido", justifica a função Estilo (b)  que possui uma complexidade maior do que a definição de comicidade  dada por Bergson:
“Para que uma coisa seja cômica, é preciso que entre o efeito e a causa haja uma desarmonia”. 

A seguir, o Gráfico FCB - Fundamentos e Condicionamentos  apresenta uma reflexão inicial (2005) sobre o aforismo de Lichtenberg ("Uma pessoa revela o próprio caráter por sua reação a uma piada"), que resultou nas proposições gerais das Categorias (Pobre de Estilo, Gozador, Espirituoso e Genial) e seus correspondentes estilos burlescos.  

(José Nagado - 17.09.2012)