Cassio Carvalheiro

terça-feira, 21 de agosto de 2012

3. BURLESCO - Modelo Estrutural (cont.1)

3. BURLESCO - Modelo Estrutural - (postado em 28.06.2012) - continuação 01

A introdução ao Modelo Estrutural do Burlesco (3), foi precedida por (2) Elementos do Burlesco, uma rápida apreciação dos temas de suporte conceitual para esse modelo:
(2.1) Fundamentos e Princípios,
(2.2) Personagens
(2.3) Argumentos
(2.4) Comportamentos: (2.4.1) Construindo Comportamentos; (2.4.2) O Comportamento e o Riso; (2.4.3)
Lastro Conceitual
(2.5) Estereótipos
(2.6) Arquétipos 

O texto (Burlesco) mantem uma linha descritiva linear e mais aprofundada de cada tema, contrariamente aos textos postados neste Blog, onde procuramos expressar os meios para proporcionar o entendimento do núcleo do livro, qual seja, o conceito de Categorias de Estilos do Burlesco, já  apresentadas sumariamente, juntamente com os fundamentos que identificam os estilos burlescos (pessoal) caracterizado  por certa lógica, ideologias e comportamentos, destarte existentes  no arcabouço inconsciente do indivíduo. 
Este estilo, que associa o comportamento das pessoas em relação a outra é o que pretendemos  justificar com a função matemática que mencionamos anteriormente.  
O fato que relatamos a seguir, em "Papo cabeça", constata que as pessoas assumem  atitudes, como se estivessem a agir por semelhança ao estilo de outra pessoa, um ícone no ambiente social considerado. 
Observação: o livro “O cérebro do século XXI – de Seteven Rose,  expõe sobre uma classe de neurônios (“neurônios espelho”) que são excitados em particular quando um indivíduo imita as ações dos outros, e os que são afinados com o registro das emoções e intenções dos outros, ou ao inferir atenção a partir da ação.. 

Papo cabeça - “Uma pessoa revela o próprio caráter por sua reação a uma piada”
(G.C. Lichtenberg)

Muito riso e pouca coisa séria resta  dos encontros com  amigos em restaurantes. E pode-se concluir que é isso, principalmente, o melhor desses encontros, cheio . de fatos engraçados relatados por um, disparates proferidos por outro  em momento de menor sobriedade ou a repentina descontração do tímido, após uma dose a  mais de whisky,  copo de cerveja ou de vinho. 
Em encontros assim  a maior parte dos assuntos é tratado na base da gozação e descontração e mesmo quando um assunto é interessante, logo é transformado em motivo de criativas malhações.
Isso aconteceu enquanto nosso grupo aguardava a hora do jantar na sala de espera de um agradável restaurante. Após o estágio inicial dos cumprimentos e conversas corriqueiras, um dos amigos ousou iniciar aquele tipo de “papo cabeça” , que geralmente acaba logo que começa por falta de papo ou de cabeça, ou de ambos, ou quando o grupo se levanta para se dirigir ao restaurante, com todos falando ao mesmo tempo e alguns já um pouco alcoolizados.
Um comentário sem grandes pretensões iniciou a conversa nesse dia, quando alguém à minha frente disse que achava graça de certas pessoas que não dão risadas por melhor que seja uma piada. Esse comentário, que já tinha sabor de piada, ficou melhor ainda, quando foi lembrado um amigo comum,  que sempre pedia para explicar a piada que acaba de ser contada. Risada geral.
Aí, outro amigo entra na conversa, com aquela  locução usual para esticar uma conversa :”é, mas...e continuou: “Num jantar como este, um certo G.C. Lichtenberg teria dito:  Uma pessoa revela o próprio caráter por sua reação a uma piada".
“O quê ???”, exclamaram todos, surpreendidos   pela convergência dessa afirmação de que estariam revelando    seu caráter ao expressar reações a uma piada.
A frase crítica do tal Lichtenberg, com muita razão criou um primeiro momento de pasmo no grupo, quando alguns, vestindo a carapuça do próprio Lichtenberg, faziam uma tentativa filosófica (séria) de justificar  aquela frase.
Na  situação que se seguiu,  cada um tentava emular o próprio  Licht, atribuindo a ele  os significados ideológicos ou representações de comportamentos esdrúxulos relacionados àquela frase. Aquelas pessoas se divertiram fazendo simulacros das  tendências e virtualidades de  caráter, cada qual mostrando sua competência com argumentos cheios de absurdos, extravagâncias e coisas do gênero, que elas atribuíam ao Licht (assim passaram a chamar o Lichtenberg, ao final da discussão).
 “Licht só podia ser psicólogo” , disse o nosso psicanalista de plantão,  aferindo com satisfação o rebuliço que aquela afirmação inicial provocara no grupo,  
 “Licht não estava preocupado com o caráter das pessoas e sim, com a estupidez daqueles  a quem contava suas piadas”, disse outro, emendando.
Esse papo só terminou quando um gozador do grupo comentou que o “Licht,  como contador de piadas devia ser um mau analista“ e outro gozador concluiu: “Ou vice-versa”, apontando para o psicanalista de plantão.

Nota do autor
Lichtenberg, Georg Christoph (1742-1799), físico, matemático e astrônomo  alemão, se é que fez alguma descoberta importante nesses campos do conhecimento, não sabemos. Só se sabe que estava muito à frente de sua época (séc. XVIII), como revelam  aforismos seus, que antecipam pensadores de épocas posteriores à sua, como Nietzsche  (1844-1900).
Licht (“mescla de poeta, cientista, filósofo e comediante”) sabia que na profundidade abissal do seu “iluminado” pensamento não se poderia vislumbrar a verdade completa e sim apenas uma imagem difusa de suas idéias, mas acreditava estoicamente na Competência burlesca de seus aforismos. Dizia ele: “É  impossível conduzir a tocha da verdade em meio à multidão, sem chamuscar a barba de alguém.”
Licht que era corcunda, doente e hipocondríaco, sofria muitas gozações por isso, e certamente refletia sobre si mesmo quando engendrou o aforismo que suscitou aquele papo-cabeça, e  geralmente reagia com humor ácido a quem o atacava:    
“Sou infinitamente mais acessível à piedade nos meus sonhos do que no estado de vigília.”
“Onde a afetação constitui um princípio de natureza séria.”
“Existem exaltados que são também uns incapazes. Trata-se assim, de gente realmente perigosa.”
Os aforismos de Licht (o aforista do iluminismo) o identificam como filósofo do burlesco e os filósofos irão concordar comigo. Seus aforismos irão convencer disso os leitores e filósofos.  Esta é a minha opinião.
“Nada induz a uma paz maior de espírito, do que não ter opinião sobre nada.”
(Lichtenberg)
Revisão: 19/12/2006 - 22/04/2008 – 23/05/2008 - 20.08.2012)
(josé nagado - 21.08.2012)