2.6
Arquétipos, instintos e Individuação - (cont.2)
Universalidade
A relação pessoal, por exemplo, com o Arquétipo ou simbolismo do
"Pai", do "Poder", é chamada de Complexo (originado no inconsciente pessoal), tal como o Complexo de
Édipo, que a Psicologia define como a
“inclinação erótica recalcada de uma
criança pelo progenitor do sexo oposto, em virtude do conflito ambivalente com
o progenitor do mesmo sexo, ao mesmo tempo amado, odiado e temido”. (“Aurélio”)
Assim, “Pai” tem função simbólica relacionada a algum poder, tal como o
respeito imposto pelas regras, o receio de um DNA perversamente danificado, a
(expectativa da) paternidade, o culto do macho (falo masculino), e outros
simbolismos. Já o GRANDE PAI é um exemplo
de arquétipo junguiano, o “pai” coletivo comum na religião
ocidental, na figura de um grande Deus
masculino que tudo vê.
Igualmente, o inconsciente
coletivo da humanidade, tem instalado, acima da função simbólica de Maria (ou
da Deusa, ou da Imperatriz do tarô), o Arquétipo UNIVERSAL da Grande Mãe, uma
instância psíquica que será representada por alguma deusa ou figura similar por
um povo de qualquer lugar, mesmo se isolado.
“Essa parte do inconsciente não é individual,
mas universal; em contraste com a psique pessoal, ela possui conteúdos e
modelos de comportamento que são mais ou menos iguais em todos os lugares e em
todos os indivíduos... O arquétipo é
essencialmente um conteúdo inconsciente que é alterado ao
tornar-se consciente e ao ser percebido, e assume sua cor a partir da
consciência individual na qual por acaso aparece”. (C.G.Jung - The Archetypes)
Tipos Psicológicos
Jung atribui a origem (cultural) da subjetividade
ocidental moderna ao pensamento prevalente em nossa cultura, marcada pelo narcisismo, mania da razão, recusa da
alteridade e incapacidade de simbolização, centradas no Ego,
onde a consciência acredita-se autônoma, livre de constrangimentos, não
dependente de uma base inconsciente, e Jung propõe uma nova subjetividade (a
individuação) com um processo de simbolização,
subjetivo, resistente ao predomínio da razão, rico de ilimitadas possibilidades
culturais.
O inconsciente coletivo, base da individuação, é
composto fundamentalmente de uma tendência do indivíduo para
sensibilizar-se com certas imagens ou símbolos que identificam sentimentos
profundos de apelo universal, os
arquétipos, pré - disposições que nascem com o indivíduo para executar e
simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras.
Entretanto,
para Jung o Ego (a consciência) é submetido a focos de subjetivação (funções) –
a sensação, o sentimento, a intuição e o pensamento, como disposição inata e
também por influência da cultura, caracterizando tipos psicológicos, supostamente (aparentemente) livres
daquela base do inconsciente coletivo, e
adquirem uma função de adaptação maior do indivíduo, quando o foco de
subjetivação coincide com aquele da cultura (a moda, por exemplo) para o indivíduo dominado pelo pensamento, no
caso da cultura ocidental. Em geral o indivíduo identifica-se com um tipo
psicológico conscientemente, deixando o outro na sombra, no inconsciente.
Comportamento
burlesco e individuação
arquétipos
Tendo em vista a individuação vamos propor uma explicação
plausível sobre o comportamento burlesco nesse processo e para tanto voltemos aos
termos que definem o processo: arquétipo, imagem, imaginação ativa, intuição,
etc.
O arquétipo
corresponde à apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que permite a ação e
possibilita a vivência de novas situações.
Imagem é a forma da atividade associada a situação típica em que é desenvolvida.
Intuição é a pragmática (voltada para a ação) apreensão (idéia súbita ou premonição)
inconsciente de uma situação altamente
complicada, análogo ao instinto que é o
impulso pragmático para levar a cabo alguma ação altamente complicada.
aparência das coisas
Consideramos,
anteriormente, que comportamentos burlescos (explicados de forma abrangente pela
psico – fisiologia, filosofia e bio –
genética) ocorrem na fronteira entre tudo aquilo que constitui um estado de
coisas de uma realidade, e de outro
lado, tudo que designa ou exprime o estado de coisas dessa realidade,
constituindo fenômenos, constituído e designado.
Por
analogia, consideramos que no inconsciente, o arquétipo corresponde à
apreensão intuitiva, à imagem do instinto, o que permite a ação e possibilita a
vivência de novas situações, aquilo que “constitui um estado de
coisas de uma realidade”. E por outro lado, a
imaginação ativa, acaba por
personificar a tendência de “tudo que designa ou exprime esse estado de
coisas”. Na fronteira da imagem do instinto com a personificação das tendências
está o significado burlesco, a aparência das coisas, que o indivíduo
internaliza (e transforma) como essência própria das coisas e que termina por
aflorar em atos burlescos ou catalisadores de
alguma forma de reação destinados a resolver estados (mormente psicóticos
ou neuróticos) deduzidos dessa aparência.
Uma
vez integrado ao ambiente psico - social
o ser indivíduado adquire personalidade, direcionando suas atitudes e
comportamentos aos propósitos construídos especialmente para esse ambiente,
nessa batalha pessoal em que tentará validar
sua individuação.
Contribuições
A
individuação como fonte de humor, agrega contribuições seja pelas considerações
sobre “focos de subjetivação”, “traços de subjetividade”, “tipos psicológicos”,
“simbolizações” ou pelos temas que
explora (como “Sacrifício”, “criação de valores”, seu aspecto lúdico,
etc), que Jung, Freud e outros
pesquisadores da psicologia e da psiquiatria acrescentam como valor
propedêutico ao Burlesco.
O
burlesco procura explorar cada situação em todas as suas dimensões, procurando
devassar o pensamento ou ato mais escatológico
dos seus personagens, expor-lhes vontades, frustrações e irritações, ou o fatalismo ou o determinismo de reações
criadas pela imaginação ativa perante situações onde a insensatez ou a morbidez
típica do gênero humano, originada no inconsciente, acaba predominando.
Personagens
criados pela “imaginação ativa” exteriorizam arquétipos diversos junto das
fronteiras onde colam suas imagens em situações como:
-
Na intimidade de um quarto de hotel a noiva impaciente guarda seu “Herói” que
vem resgatar o mito da virgindade
desfeita no ato sexual (pela enésima vez),
ou talvez o “guerreiro sagrado”, seu Don Quixote que vem perpetrar o seu
cavalheiresco ataque.
-Na
sala de reunião, corruptos políticos e assessores, com os bolsos, cuecas e
meias, repletos de dinheiro da corrupção,
oram em agradecimento a seu benfeitor. Esta cena, com fotos registradas
em jornais lembra o arquétipo de origem árabe: Ali Baba (e os quarenta ladrões)
Comentário
final
Encerramos
este capítulo – Elementos do Burlesco – uma introdução de conceitos básicos
seja para dar suporte à estrutura que iremos utilizar seja como referências
para comportamentos que serão explorados nos estilos burlescos